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Fed admite redução nas compras de dívida "em breve" e início da retirada dos estímulos monetários

Jerome Powell, presidente da Fed
Jerome Powell, presidente da Fed
Samuel Corum/Getty Images

A Reserva Federal (Fed), o banco central dos Estados Unidos, anunciou esta quarta-feira, depois da sua reunião de política monetária, que poderá reduzir "em breve" o ritmo mensal de compras de ativos. Os banqueiros centrais norte-americanos estão divididos a meio sobre uma primeira subida da taxa diretora já no próximo ano

A Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) anunciou esta quarta-feira que "uma moderação do ritmo de compras de ativos poderá justificar-se em breve". O ritmo atual de aquisições mensais é de 120 mil milhões de dólares (102 mil milhões de euros, ao câmbio atual). A decisão foi tomada por unanimidade no comité de política monetária que findou a sua reunião esta quarta-feira.

A possibilidade da decisão ser anunciada na próxima reunião de 2 e 3 de novembro não foi garantida por Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, na conferência de imprensa que se seguiu à divulgação do comunicado da Fed. "Se a economia progredir em linha com as expetativas, poderemos avançar na próxima reunião [em novembro], ou não". No entanto, o presidente da Reserva Federal admitiu que, depois de iniciado o processo de redução das compras, ele poderá terminar "em meados do próximo ano". O que sinaliza aos mercados o pico da carteira de ativos da Fed.

Os banqueiros centrais norte-americanos deixaram a taxa diretora no mínimo (entre 0% e 0,25%) na reunião desta quarta-feira, mas as previsões publicadas revelam que estão divididos a meio quanto a uma primeira subida já no próximo ano. Nove são a favor da manutenção em 2022 da taxa no mínimo atual, mas outros nove são a favor de uma primeira subida. A opinião dos banqueiros centrais a favor do 'aperto' nas taxas endureceu significativamente: em março eram apenas 4 e em junho passaram a 7. Na conferência de imprensa, Powell admitiu que "com exceção de apenas um, todos os membros do comité [de política monetária] esperam que as taxas comecem a subir em 2023". A taxa deverá chegar a 1,8% em 2024, o último ano do horizonte de projeções publicado esta quarta-feira.

As bolsas de Nova Iorque reagiram positivamente às decisões da Fed e às declarações de Powell, com os principais índices a registarem subidas. No conjunto, o mercado de ações norte-americano está a subir mais de 1% esta quarta-feira. A taxa de juro da dívida a 10 anos manteve-se ligeiramente acima de 1,3%, mas abaixo de 1,33% no fecho da sessão anterior.

Crescimento revisto em baixa, mas previsão de inflação aumentada

A Fed divulgou, também, as previsões dos banqueiros centrais sobre as principais variáveis macroeconómicas do país, tendo revisto em baixa significativamente o crescimento para 2021, de 7% nas projeções anteriores, para 5,9% agora. Mas, para os dois anos seguintes, apesar de admitirem um abrandamento do ritmo, estão mais otimistas do que em junho, apontando, agora, para 3,8% e 2,5% respetivamente. A projeção para 2024 foi acrescentada, apontando-se para 2%.

Mas quanto à inflação para este ano, as novas projeções fizeram uma revisão em alta significativa, de 3,4% em junho para 4,2% este ano, o que revela que os banqueiros centrais da Fed esperam, este ano, um nível de inflação muito acima do objetivo da política monetária (2% em média). As projeções revelam, também, que a inflação deverá manter-se ligeiramente acima de 2% entre 2022 e 2024. Deste modo, o nível elevado que se deverá registar em 2021 será "transitório", repete a Fed.

No mercado laboral, outro dos pilares da política monetária, deverá tender para o pleno emprego até 2024. O desemprego em 2021 deverá situar-se em 4,8%, ligeiramente acima do projetado em junho, mas a trajetória de descida até 3,5% em 2023 e 2024 é reafirmada.

Recorde-se que a resposta da política monetária à covid-19 levou a Reserva Federal a um máximo histórico no valor dos seus ativos. Segundo os dados mais recentes do balanço da Fed, o valor atingiu 8,45 biliões de dólares, duplicando desde o final de fevereiro de 2020, antes da declaração do estado de pandemia (ver gráfico). No entanto, a Fed não é o banco central com o valor dos ativos mais elevado. Se comparado em euros, o Banco Central Europeu (BCE) atingiu este mês um recorde de 8,24 biliões de euros face a 7,2 biliões para a Fed, ao câmbio atual.

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