A Evergrande, um dos maiores grupos imobiliários da China, encontra-se numa situação muito difícil, reconhecida pela própria empresa. A empresa teve um grande crescimento na última década estando agora com o futuro "em pausa" - com dívidas enormes - sem saber o que fazer.
Além do imobiliário, outros setores podem ser afetados pois a empresa opera em vários ramos de atividade, como águas engarrafadas ou até o futebol. Alguns analistas comparam a sua queda iminente à queda do banco Lehman Brothers, em 2008.
Nas últimas semanas a empresa alertou para a sua situação financeira - com dívidas de 300 mil milhões de dólares (cerca de 255 mil milhões de euros) - tendo já suspendido a sua atividade em alguns setores para não perder mais dinheiro.
A situação fez com que a empresa contratasse consultores financeiros externos especializados em reestruturação dos EUA (Houlihan Lokey) e o banco de investimentos Admiralty Harbour Capital, de Hong Kong - para explorarem maneiras de aliviar a sua dívida, noticiou o "South China Morning Post".
O pânico já se fez sentir em Hong Kong - onde a empresa está cotada - com a Evergrande a cair cerca de 3,4% só esta sexta-feira. Mas alargando o período temporal em análise as quedas falam por si: quase 30% nos últimos cinco dias, mais de 80% nos últimos seis meses e cerca de 85% face ao ano anterior.
O pânico não se fez sentir só na bolsa, mas também à porta da sede da empresa, onde centenas de investidores se manifestaram dizendo que foram enganados e pedindo o seu dinheiro de volta.
Perante este cenário "há quem tema que um colapso da Evergrande tenha riscos sistémicos, a par com o impacto que a queda do Lehman teve no mercado acionista norte-americano", referiu o presidente da Yardeni Research, Ed Yardeni, numa nota de análise citada pela CNN.
E, segundo a CNN, o governo chinês poderá mesmo ter de intervir para evitar uma grande crise financeira. Aliás, já em agosto, o Banco Central e o regulador de bancos e seguros da China apelaram ao grupo para que "resolva ativamente" a questão do endividamento e "mantenha a estabilidade financeira e do mercado imobiliário", segundo nota do Banco Central.
O que aconteceu?
A empresa, que emprega diretamente 200.000 pessoas e gera indiretamente 3,8 milhões de empregos no país, não se foca só no negócio imobiliário. Na última década fez grandes investimentos: comprou uma equipa de futebol (e está a construir o maior estádio do mundo), uma marca de água engarrafada (que entretanto foi vendida) e até entrou no mercado dos automóveis elétricos, entre outros.
E em parte é aqui que começa o problema. "[Evergrande] afastou-se muito do seu negócio principal, que é parte de como entrou nesta confusão", disse à CNN Mattie Bekink, diretora da Economist Intelligence Unit para a China.
Mas o grande problema - ou o que desencadeou toda esta situação - "é que a procura de imóveis residenciais na China está a entrar em declínio" o que mostra o possível impacto que a "falta de cumprimento dos grupos imobiliários poderá ter no crescimento da China", revelou numa nota Mark Williams, economista da Capital Economics para a Ásia.
Segundo o "The Guardian", com a pouca procura o grupo falhou a venda das suas propriedades e amontoou dívidas, tendo ainda de pagar aos empreiteiros e fornecedores que estão a reclamar os pagamentos em atraso.
"Será o maior teste que o sistema financeiro da China enfrentou nos últimos anos", concluiu Mark Williams.
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