Economia

BCE reduz compra mensal de dívida

Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt
Sede do Banco Central Europeu em Frankfurt

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira reduzir no quarto trimestre do ano o ritmo mensal de compras através do programa de emergência para um valor “moderadamente inferior ao dos dois trimestres anteriores”

BCE reduz compra mensal de dívida

Carlos Esteves

Jornalista infográfico

O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira reduzir no quarto trimestre deste ano o ritmo de compra mensal de ativos através do programa de emergência conhecido pela sigla inglesa PEPP e que foi lançado em março do ano passado para responder aos efeitos da pandemia.

O comunicado oficial destaca que “podem manter-se condições favoráveis de financiamento com um ritmo de compras líquidas de ativos no quadro do PEPP moderadamente inferior ao dos dois trimestres anteriores”, o que significa um ritmo mensal inferior a uma média de quase 79 mil milhões de euros entre abril e agosto deste ano (ver gráfico).

A restante estratégia do BCE manteve-se sem alterações. As taxas diretoras continuam em mínimos históricos. O programa de aquisição de ativos mais antigo, lançado por Mario Draghi, continuará com um ritmo de compras mensais de 20 mil milhões de euros.

O PEPP continua com um horizonte de funcionamento até pelo menos final de março do próximo ano, mas sujeito a flexibilidade no uso do seu envelope total (até 1,85 biliões de euros) e a uma calibragem regular. O plano de reinvestimentos das amortizações continuará.

Desde a reunião de julho que se tem manifestado uma forte pressão de analistas e de alguns banqueiros centrais para uma desaceleração no volume mensal de compra de ativos através sobretudo do programa de emergência conhecido pela sigla PEPP.

Em agosto, as compras através deste programa caíram para 65 mil milhões de euros, o nível mais baixo desde fevereiro, depois de um aumento significativo de aquisições mensais desde abril, no patamar dos 80 mil milhões de euros, com um pico em julho, já perto de 90 mil milhões (ver gráfico).

A expetativa centra-se, agora, na conferência de imprensa de Christine Lagarde e na divulgação das novas previsões macroeconómicas dos economistas do BCE. A atenção vai estar centrada nas projeções de inflação para 2021 e 2022 e sobretudo para 2023 – nas previsões anteriores, a inflação desceria para 1,4% daqui a dois anos, mantendo-se muito abaixo do objetivo de 2% formulado recentemente pelo BCE.

É a primeira reunião após a paragem em agosto e numa conjuntura em que a inflação na zona euro subiu para 3%, um máximo em dez anos, e em que o valor dos ativos do BCE fixa novo recorde histórico (ver tabela). O quadro macroeconómico registou uma revisão em alta do crescimento do espaço dos 19 do euro no segundo trimestre deste ano, com a nova estimativa a subir de 2% para 2,2% em termos de evolução em cadeia (de um trimestre em relação ao anterior) e de 13,6% para 14,3%, se medido em relação ao segundo trimestre do ano passado (em que se registou um colapso do PIB de 11%).

No mercado da dívida, os juros subiram. As taxas médias para o conjunto da zona euro, no prazo de referência, a 10 anos, subiram de terreno negativo, no início de agosto, para 0,11% no fecho de quarta-feira. Nas obrigações do Tesouro português, a trajetória foi também de subida, de 0,1% em agosto para 0,23% esta quinta-feira.

Recorde-se que, na reunião de julho, o Conselho do BCE formulou a nova estratégia aprovada na revisão impulsionada por Lagarde, que enfrentou a crítica de uma minoria de ‘falcões’ onde se destaca os responsáveis do Bundesbank, o banco central alemão, e dos bancos centrais da Áustria, Países Baixos e Bélgica.

A formulação aceite pela maioria, depois de retificações à versão original apresentada pelo economista-chefe Philip Kane, definiu o objetivo da política monetária como a obtenção de uma inflação de 2% no médio prazo, admitindo uma variação simétrica, ainda que indesejável, não fomentada pelas medidas do BCE. Tal pode implicar um período transitório, durante o qual a inflação se situe moderadamente acima do objetivo, sem que o Conselho se sinta pressionado para subir as taxas diretoras.

Em julho, a maioria do conselho esperava que as taxas de juro diretoras do BCE permaneçam nos níveis atuais ou em níveis inferiores até que a inflação atinja 2%, muito antes do final do horizonte de projeção e de forma durável durante o resto do horizonte de projeção. Acrescentou que, para subir as taxas, é preciso verificarem-se progressos também na inflação subjacente (a inflação excluindo as componentes mais voláteis, como a energia e a alimentação, por exemplo) que sejam consentâneos com uma estabilização da inflação em 2% no médio prazo. Tal pode também implicar um período transitório, durante o qual a inflação se situe moderadamente acima do objetivo. Esta formulação foi mantida, agora, na reunião de setembro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: Cesteves@expresso.impresa.pt

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