Bancos cortam agências para níveis inéditos desde os anos 90 e trabalhadores para valores historicamente baixos

Balcões da banca descem a números registados na altura em que as entidades privadas conquistavam presença geográfica no país
Balcões da banca descem a números registados na altura em que as entidades privadas conquistavam presença geográfica no país
Jornalista
Não é surpresa que os bancos estão a cortar agências e no pessoal, mas os números revelados pelo Banco de Portugal, com o histórico da atividade bancária, permitem perceber que a distribuição geográfica dos balcões está em níveis de 1994. E que, desde que há dados, não havia tão poucos trabalhadores no sector.
Há 27 anos, numa altura de franca expansão, em que os bancos privados ganhavam força, havia 3.734 agências no país. Um ano antes, em 1993, eram 3.129 unidades, o que mostra o ritmo de crescimento então vivido.
Desde aí, a tendência foi crescente até ao pico, em 2010, quando eram cerca de 6500 os balcões pelo território nacional. Foi o ponto mais alto da história, antes da troika, que trouxe austeridade para o país e levou os bancos a reduzirem as suas estruturas, mesmo quando não havia ainda em força canais digitais.
Agora, a via tem sido descendente e os cortes de custos, aliados à digitalização dos serviços bancários, fizeram com que os bancos quisessem eliminar ainda mais agências. Em 2020, os bancos tinham 3.827 agências em território nacional no ano passado, menos 5% do que no ano anterior.
O mesmo aconteceu na evolução dos trabalhadores, havendo redução de pessoal nas instituições bancárias – sobretudo no atendimento comercial nestes balcões, apesar de haver substituição de serviços centrais por outros, como especialistas em dados e informáticos. Ora, mesmo com a mudança de perfil do trabalhador da banca, o número de empregados no sector está em níveis que nunca se viram no histórico disponibilizado pelo Banco de Portugal, que recua a 1990, há 30 anos.
Em 2020, havia 45.745 funcionários em Portugal no sector, um deslize de 1,5% em termos homólogos. Em 1990, eram mais de 58.000 e, aliás, em 1994, quando a rede de balcões era idêntica à atual, o número de trabalhadores superava os 60.000.
Os bancos têm vindo a promover processos de rescisões para diminuir a estrutura de custos com pessoal e, este ano, até está a haver casos mais agressivos do que o habitual, com o Santander e o BCP a eliminarem centenas de postos de trabalho em processos que têm merecido oposição da comissão de trabalhadores e dos sindicatos. No caso do Santander, em setembro vai avançar para o despedimento de 350 funcionários, depois de não terem chegado a acordo para revogações por mútuo acordo.
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