Os capitais próprios da Dielmar estavam abaixo de metade do capital social da empresa no final de 2009, em infração do artigo 35 do Código das Sociedades Comerciais, impossibilitando à empresa aceder a apoios do Estado durante a pandemia, segundo notícia do Público desta quarta-feira.
As empresas nesta condição são consideradas em dificuldades e, assim, impedidas de aceder a apoios públicos de acordo com as regras comunitárias - como os disponibilizados pelo Estado desde o espoletar da pandemia do Covid-19 no País, em Março de 2020. Daí, continua o jornal, o Estado viu-se impossibilitado de emitir garantias, o que fez com que os bancos contactados (Novo Banco, BCP, Caixa e Santander) recusassem a atribuição de crédito à têxtil albicastrense, mais uma a juntar-se a empresas do setor em dificuldades.
Na terça-feira, o gabinete do ministro da Economia enviou um comunicado às redações desmentindo que a insolvência se devia exclusivamente ao impacto da pandemia, realçando que "esta empresa se debate, há vários anos, com graves problemas financeiros, apresentando muitas dificuldades a nível comercial e registando quebras significativas do seu volume de vendas", uma situação "anterior à crise provocada pela pandemia da doença Covid-19, tendo-se prolongado pelos últimos 10 anos."
O Estado injetou, nesse período, 5 milhões de euros na empresa, aos quais acrescem 3 milhões de euros em dívida garantida. "O recurso a estes montantes pressupunha a realização de um conjunto de medidas necessárias à reestruturação, sendo que a maioria destas medidas não foram aplicadas pela administração da Dielmar", segundo o comunicado.
O gabinete de Siza Vieira acrescenta que a Dielmar, em novembro de 2020, tinha uma dívida a fornecedores de cerca de 2,5 milhões de euros "vencidos na sua quase totalidade" e uma dívida à banca total a rondar os 6,14 milhões de euros. À Segurança Social a empresa deve 1,7 milhões de euros.
Investidores ausentes
Também não foram encontrados investidores, acrescenta o Público, tal como o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse aos jornalistas na segunda-feira à noite, no regresso de uma visita à Madeira:
“Acordámos sucessivamente com a administração da empresa a possibilidade de serem alienados determinados ativos ou de ser assegurada uma gestão mais profissional para a empresa. Isso não foi possível, empenhamo-nos também em encontrar investidores para entrar no capital da empresa, mas dado o elevado endividamento da dita não foi possível encontrar interessados”, disse.
Diferentes governos já acompanhavam a situação da empresa, intervindo em diversas fases para fornecer-lhe liquidez.
"O Estado ao longo dos anos foi assegurando a capitalização da empresa, primeiro entrando no capital com 30%. Depois, em 2017, aquando de uma reestruturação financeira que a empresa passou, o Estado ainda adquiriu imóveis por 2,5 milhões de euros. O Estado garante ainda uma parte muito substancial da dívida da Dielmar, mais de 3,2 milhões de euros de dívida são garantidos pelo Estado", disse o ministro à RTP3.
"Não vale a pena pôr dinheiro fresco em cima de uma empresa que não tem salvação", concluiu, com críticas à equipa da presidente executiva Ana Paula Rafael e à sua gestão "muito pouco clara".
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