As novas regras que vêm exigir a apresentação de certificado covid digital ou teste negativo para entrar nos restaurantes dos concelhos de risco aos fins-de-semana, entre as 19h e as 22h30 deixou os empresários do sector divididos. Dizem que “é tudo muito confuso”, mas assumem que “o mais importante é trabalhar”.
“Entre fechar às 15h30 ou poder estar aberto para receber clientes com certificados ou testes covid, opto obviamente pela segunda opção”, diz ao Expresso Nuno Rocha, gerente de 5 restaurantes em Matosinhos, numa posição que coincide com a de outros colegas do sector ouvidos pelo Expresso.
Em comum, todos parecem viver mais uma vez um momento de incerteza perante aquilo com que vão ter de lidar e esperam uma maior definição das regras para definirem formas de atuação, mas certo é, para já, que ninguém está a pensar em fazer controlos especiais ao documento que for apresentado pelo cliente.
Não vão pedir cartão de cidadão para confirmarem se o certificado covid é mesmo da pessoa que o apresenta? “Temos de confiar nas pessoas”, diz um. “Estamos numa fase em que cada um tem de assumir a sua quota parte de responsabilidade”, responde outro. “Talvez alguns clientes joguem uma carta viciada, mas será certamente uma minoria”, comenta um outro.
Muitas perguntas sem resposta
E vão pedir a quem tiver entrado antes das 19h e estiver sentado à mesa a comer para mostrar o certificado ou o resultado do teste a essa hora? Vão convidar essa pessoa a sair se não o tiver? As duas perguntas ficam sem resposta. Tal como fica sem resposta outra questão: “Quem estiver na esplanada, onde não há essa exigência, tem de apresentar prova para entrar no restaurante se quiser ir à casa de banho?”.
“As regras devem mudar a partir de amanhã nos concelhos de risco, mas temos de aguardar o diploma do governo sobre toda esta matéria para tentar clarificar as coisas com mais rigor”, precisa Condé Pinto, presidente executivo da APHORT - Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo.
Para já, garante no entanto que as primeiras reações dos empresários do sector apontam todas na mesma direção: “Tudo o que permitir manter as portas abertas é bem vindo” e “há disponibilidade para aprender a viver e trabalhar no quadro que for estabelecido”.
Admite que “as novas regras afetarão mais os clientes portugueses do que os estrangeiros, que à partida já trazem os certificados” e, também, que afetarão mais diretamente a restauração do que os alojamentos turísticos, porque “decidimos ir ao café ou ao restaurante em cima da hora, mas planeamos uma noite fora".
Testes nos restaurantes?
E os restaurantes irão disponibilizar testes? Neste ponto, Condé Pinto é claro: “Temos recomendado vivamente que não o façam porque isso trará um problema acrescido ao nível dos resíduos”, sustenta.
No caso concreto da restauração nos centros comerciais, o momento é também de “incerteza total”. “Temos mesmo de esperar pelo Diário da Repúblcia para perceber o que temos de fazer e como vamos atuar porque sobre este ponto em concreto nada foi dito ainda”, comenta Rodrigo Moita de Deus, da direção da APCC - Associação Portuguesa de Centros Comerciais.
Presume que as regras, aqui, serão as mesmas da restauração com porta para a rua , “em linha com a política que tem sido seguida nas últimas semanas”, “mas não temos nenhum sinal até agora a apoiar esta perspetiva”, diz.
O governo "ligou o complicómetro"
“A verdade é que o governo ligou mais uma vez o ´complicometro` e veio lançar mais um momento de confusão no sector”, comenta Daniel Serra, presidente da Pro.Var - Associação Nacional de Restaurantes que recomenda aos seus associados “muita prudência” na forma de gerir tudo isto e pedir os testes e certificados aos clientes.
“À partida é melhor poder ter a porta aberta porque precisamos mesmo de faturar e tudo o que trouxer abertura da economia é bem vindo, mas o que temos visto acontecer noutros países que impuseram a apresentação de resultados de testes nas entradas na restauração, como a Alemanha, foi um afastamento dos clientes”.
E quanto ao controlo “há pouco a dizer”. “Será certamente muito difícil controlar quem está na esplanada e quem está no restaurante de forma eficaz e diferenciada”. “A fiscalização terá de ser mais na base da confiança, apesar do risco das multas”, remata.
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