A exposição do sector bancário da zona euro à dívida pública dos estados-membros do euro subiu 11% desde o início da pandemia da covid-19 até março de 2021, adiantou esta quinta-feira Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), numa audiência no Parlamento Europeu. A percentagem sobe para 16% se for considerada em termos nominais.
Falando aos eurodeputados da Comissão de Assuntos Económicos e Orçamentais, a presidente do BCE sublinhou, no entanto, que "a curto prazo não se trata de um grande risco".
Lagarde desdramatizou a subida respondendo a alguns eurodeputados que recordaram que a exposição da banca à dívida pública gerou um doom loop, no calão financeiro, um ciclo vicioso, uma espiral negativa, aquando da crise das dívidas iniciada há uma década.
A francesa disse não gostar da expressão doom loop que se tornou corrente durante a crise de há uma década, tendo sido importada do calão da gestão de empresas, preferindo falar de um "nexo" entre a carteira dos bancos e a dívida soberana.
Apesar de desdramatizar o risco, garantiu que o BCE "está a monitorizar estreitamente esse nexo". A subida da carteira é a maior desde 2012, mas Lagarde adiantou que a exposição tem estado a descer desde setembro do ano passado.
Segundo Lagarde, o risco menos elevado advém, atualmente, do facto da carteira de dívida pública estar "menos concentrada" nos títulos de dívida do próprio país, e haver "mais variedade" do que aquando da crise das dívidas.
Exposição portuguesa está estável
A exposição da banca portuguesa à dívida pública doméstica em 2020 era de 8% do total dos ativos bancários. Uma percentagem idêntica à de 2019, depois de um pico nos últimos cinco anos de 8,8% em 2018, segundo o relatório sobre estabilidade financeira do Banco de Portugal publicado no mês passado.
O papel da banca nacional no endividamento público durante a atual pandemia foi sublinhado, esta semana, por Cristina Casalinho, presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Ela reconheceu na quarta-feira no Parlamento português que "os investidores institucionais nacionais continuaram a funcionar como estabilizadores automáticos" durante a pandemia. "O aumento da sua exposição à dívida pública facilitou a transição neste período de elevada incerteza", acrescentou a responsável pelo IGCP perante a Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República.
Para dados do Banco de Portugal sobre os credores da dívida pública em final de 2020, a estrutura era a seguinte: BCE e Banco de Portugal (carteira de títulos adquiridos através dos programas de política monetária) detinham 23%; empréstimos dos fundos da troika e da Comissão Europeia (SURE) representavam 19%; outras instituições financeiras monetárias residentes (bancos e fundos) pesavam 14% (uma descida de 0,5 pp em relação a 2019); investidores particulares residentes detinham 13%; investidores não residentes (excluindo o BCE) com 31%.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes