A Sword Health, startup portuguesa de fisioterapia digital que desenvolveu uma tecnologia que combina inteligência artificial com sensores de movimento, captou um investimento no montante de 85 milhões de dólares (cerca de 71 milhões de euros), avança ao Expresso a empresa. A ronda série C foi liderada pela General Catalyst – investidora de empresas como o Airbnb, a Stripe e o Snapchat – e contou ainda com a participação da Bond, Highmark Ventures e BPEA, além dos atuais investidores Khosla Ventures, Founders Fund, Transformation Capital e Green Innovations.
Desde o início deste ano que a empresa portuguesa já angariou 110 milhões de dólares (92 milhões de euros), depois de em janeiro ter levantado 25 milhões de dólares (21 milhões de euros) num investimento série B.
“Não estávamos a considerar captar investimento antes do final deste ano ou início do próximo. Mas em janeiro do ano passado entrámos nos Estados Unidos [EUA] e a partir de abril ou de maio tivemos um crescimento explosivo”, conta ao Expresso o fundador e presidente executivo da empresa, Virgílio Bento. “Um investidor nosso propôs liderar a próxima ronda e acabámos por tirar partido daquilo a que chamo de ‘rede social dos investidores de capital de risco de Silicon Valley’. Com isso, tive mais 15 investidores de topo a virem ter comigo. Em maio, em duas semanas e meia tínhamos a ‘termsheet’ [termos e condições do investimento] assinada para uma ronda de 85 milhões de dólares.”
A série C – ronda de investimento em startups de grande crescimento, com receitas e uma base de clientes sólidas, que regra geral querem usar o capital para desenvolver novos produtos, entrar em novos mercados ou adquirir concorrentes – vai permitir à Sword assegurar o crescimento nos Estados Unidos, um mercado onde a empresa está a crescer muito rapidamente, detalha Virgílio Bento.
“É o nosso mercado mais importante e parte do investimento é dedicado a assegurar o crescimento exponencial, para o qual tenho que ter recursos”, explica. Nos próximos seis a 12 meses, a Sword Health vai contratar 200 engenheiros e pessoas para a área de produto em Portugal e mais 200 pessoas nos EUA, para áreas de comercial, marketing, customer success, entre outras, para se juntarem às 200 pessoas que a empresa tem neste momento no Porto, Lisboa, Salt Lake City (EUA) e espalhadas pelos EUA.
O capital vai ainda acelerar a expansão global da empresa que já tem operações nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. “Queremos expandir mais na Europa, na Ásia, na América do Sul e vamos entrar este mês no Canadá”, adianta, acrescentando que estes 85 milhões de dólares vão também impulsionar o desenvolvimento tecnológico da plataforma de saúde, investindo na equipa de engenharia, de produto e de desenvolvimento clínico, áreas que se encontram em Portugal.
Unicórnio até ao final do ano?
Questionado pelo Expresso sobre qual a avaliação da empresa e a percentagem do capital cedida aos investidores, o presidente executivo da Sword diz não poder revelar esses valores. Virgílio Bento adianta apenas que os fundadores já não têm a maioria do capital, “nem era expectável que assim fosse numa série C”.
Sobre a avaliação, garante que a empresa está próxima do patamar de mil milhões de dólares. “Se quiséssemos esperar mais três ou quatro meses, seria essa a nossa avaliação”, assegura. “Aceitámos a proposta com menor avaliação de todas, porque preferimos escolher em função do investidor certo para nós.” E adianta que a Sword será “provavelmente unicórnio até ao final do ano”.
A crença na capacidade de alcançar, no curto prazo, uma avaliação superior a mil milhões de dólares “tem que ver com uma questão aritmética: os múltiplos em relação à receita que tivemos nesta ronda e a projeção da receita que vamos ter no final do ano, de acordo com uma estimativa normal (e não otimista)”, sublinha. E adianta que a empresa já conseguiu realizar, em meio ano, 75% das receitas estimadas para este ano.
Reduzir custos e aumentar a eficácia
A Sword Health desenvolveu uma tecnologia pioneira que combina inteligência artificial com sensores de movimento de última geração que, segundo a empresa, é mais eficaz e menos dispendiosa do que as terapias convencionais. Com o intuito de reduzir a dor e a incapacidade resultantes de doenças musculoesqueléticas, a solução permite aos doentes realizarem sessões de fisioterapia em casa, monitorizados por uma equipa clínica que lhes dá feedback em tempo real. São fisioterapeutas e médicos que prescrevem, avaliam, validam e supervisionam remotamente o programa terapêutico.
Desde que foi fundada em 2015, a Sword tem dedicado os últimos anos ao desenvolvimento da tecnologia e à validação clínica. De acordo com a Sword, esta é a única terapia musculoesquelética capaz de tratar uma dor crónica e pós-cirúrgica e a única com resultados clínicos superiores ao de um terapeuta humano – superando a fisioterapia convencional em 30%.
Atualmente, trabalha com seguradoras, sistemas de saúde e empresas nos Estados Unidos, Europa e Austrália para tornar estes cuidados acessíveis a todos.
“Estas empresas gastam por ano 120 milhões de dólares com doentes com patologias músculo-esqueléticas e nós reduzimos esses custos”, revela o fundador da Sword. “Isto permite-lhes poupar 20 a 30 milhões de dólares por ano”, acrescenta, explicando que nos EUA as empresas com mais de 2500 pessoas – como a Pepsi, um dos seus clientes – são responsáveis pelo seguro de saúde e por pagar todas as despesas de saúde dos seus trabalhadores.
Em apenas um ano, a Sword viu as receitas crescerem 600% e aumentou o número de pacientes em tratamento em mais de 1000%, adianta a empresa, sem detalhar números concretos.
“É impressionante ver o crescimento da Sword durante a pandemia”, declara o sócio principal da Founders Fund Delian Asparuhov. “Atualmente, faz parte do 1% de startups com um crescimento mais acelerado nos Estados Unidos, com um mercado enorme ainda totalmente inexplorado. A Sword está posicionada para ser uma das empresas de saúde mais importantes do mundo nos próximos cinco anos.”
As patologias músculo-esqueléticas são uma das principais causas de dor crónica e incapacidade, afetando mais de duas mil milhões de pessoas a nível mundial e exigindo muitas vezes procedimentos cirúrgicos dispendiosos. Este é um mercado que está avaliado em 190 mil milhões de dólares.