Economia

Bruxelas ataca fonte de rentabilidade da Google

Bruxelas ataca fonte de rentabilidade da Google
SHANNON STAPLETON

Comissão investiga se tecnológica violou regras da concorrência nos anúncios online, que representam a fatia de leão das suas receitas

Bruxelas abriu uma nova frente de combate contra a Google. A Comissão Europeia avançou esta semana com uma investigação aprofundada para avaliar se a tecnológica detida pela Alphabet violou as regras concorrenciais da União Europeia (UE) nos anúncios online. A “investigação formal de carácter prioritário” pretende avaliar se a tecnológica está a favorecer os seus serviços de tecnologia de publicidade display (com anúncios gráficos animados) na internet em detrimento dos fornecedores concorrentes — como anunciantes e editores —, restringindo o seu acesso a dados dos utilizadores para fins publicitários online.

“Os serviços de publicidade online estão no centro da forma como a Google e as editoras rentabilizam os seus serviços na internet”, declara em comunicado a vice-presidente executiva da Comissão Europeia com a pasta da concorrência, Margrethe Vestager. “A Google recolhe dados para serem utilizados para fins de publicidade direcionada, vende espaço publicitário e atua também como intermediário de publicidade online”, estando “presente em quase todos os níveis da cadeia de fornecimento” dos anúncios online. “Preocupa-nos que tenha tornado mais difícil aos serviços de publicidade online concorrentes competir.”

Caso estas práticas concorrenciais fiquem provadas, a Google incorre numa multa por abuso de posição dominante. Mas não existe um prazo legal para concluir esta investigação.

Contactada pelo Expresso, fonte oficial da Google realça que “milhares de empresas europeias” usam os produtos de publicidade da multinacional “para chegar a novos consumidores e financiar os seus websites diariamente”. “Escolhem-nos porque são competitivos e eficazes.” E garante que continuará envolvida, “de forma construtiva, com a Comissão Europeia para responder a todas as questões e demonstrar os benefícios dos nossos produtos para as empresas e consumidores europeus”. A Google diz ainda, citada pela CNN, que a concorrência na publicidade online tornou os anúncios mais acessíveis, reduziu as suas taxas e criou mais opções para editores e anunciantes. Refere que os editores ficam com 70% das receitas quando utilizam os seus produtos. Algo que concorrentes e anunciantes contestam, realçando que os tentáculos da Google chegam a tantas áreas do mercado que esta é incontornável e sublinhando que a empresa tira proveito dessa dependência de vendedores, compradores e intermediários, fazendo-os pagar taxas elevadas e bloqueando concorrentes.

Com esta investigação, a Bruxelas ataca assim o centro nevrálgico da rentabilidade da Google: a publicidade, que representa cerca de 80% das suas receitas. No ano passado, a tecnológica gerou 147 mil milhões de dólares em receitas só com os anúncios online, mais do que qualquer outra empresa no mundo. Os anúncios nas suas plataformas, como o Search, o YouTube e o Gmail, representaram a fatia de leão das suas receitas e lucros. A Comissão Europeia estima ainda que os gastos com publicidade display na UE representem cerca de 20 mil milhões de dólares em 2019, num negócio dominado pela Google e pelo Facebook, que já está a ser investigado pelos reguladores europeus por alegadamente usar dados dos utilizadores em seu favor.

Recorde-se que na última década a Google foi multada pelos reguladores europeus em mais de €8 mil milhões por bloquear os seus concorrentes nas compras online, nos smartphones Android e na publicidade online. Também no início do mês, a autoridade da concorrência francesa multou a empresa em €220 milhões por “abuso de posição dominante” no mercado da publicidade online, em detrimento dos seus concorrentes e editores. Foi também este o argumento de alguns estados norte-americanos e do departamento de Justiça dos Estados Unidos para processar a Google no ano passado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mjbourbon@expresso.impresa.pt

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