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Economia

42 grandes empresas unem-se para fazer Portugal crescer

Da esquerda para a direita: Cláudia Azevedo, Vasco de Mello e António Rios Amorim.
Da esquerda para a direita: Cláudia Azevedo, Vasco de Mello e António Rios Amorim.
Assuncao de Castello Branco

Nova associação empresarial não se substitui às existentes e quer colocar o País no top 15 da riqueza per capita na Europa. Os seus associados geraram receitas totais equivalentes a cerca de 40% do PIB em 2020. Requalificação dos trabalhadores, revitalização do tecido empresarial e coordenação com o Estado são os objetos de trabalho. Propostas concretas ainda não há

Chama-se Associação Business Roundtable Portugal (BRP) e reúne 42 líderes das maiores empresas privadas a trabalhar no país com um compromisso assumido com o desenvolvimento económico e social sustentado do país. Num momento de crise provocada pela pandemia, o objetivo da BRP é contribuir para que Portugal cresça mais do que conseguiu nos últimos 25 anos e recupere o seu lugar entre os 15 mais ricos da Europa. “O projeto começou a ser delineado há meses e decidimos que este é o momento para avançar”, acrescentou.

“Os diagnósticos sobre a economia portuguesa estão feitos. Vamos aproveitá-los. O objetivo é equilibrar o trabalho académico com o pragmatismo do mundo das empresas”, afirmou Vasco de Mello, que assume a presidência da nova estrutura. Baixo nível de formação e desadequação às necessidades das empresas, falta de escala e de produtividade das empresas nacionais e os diversos obstáculos colocados pelo Estado à atividade empresarial são as frentes de trabalho da nova estrutura associativa.

Diversificada e tranversal

No conjunto, as empresas reunidas na Associação Business Roundtable Portugal (BRP) representam 82 mil milhões de euros de receitas acumuladas (equivalente a cerca de 40% do PIB nacional), mais de 43 mil milhões dos quais geradas no exterior. O total de investimento em Portugal e no mercados externos rondou os 6,8 mil milhões de euros em 2020. Os dados foram avançados por Vasco de Mello na sessão de apresentação esta terça-feira, que acrescentou que o membros da BRP empregam 382 mil trabalhadores, dos quais 207 mil em Portugal, com um nível salarial que é o dobro da média praticada. Além do líder do Grupo José de Mello, a nova associação conta com Cláudia Azevedo (Sonae) e António Rios de Amorim (Corticeira Amorim) como vice-presidentes. Como vogais da direção surgem os nomes de Sandra Santos (BA Glass); Nuno Amado, (BCP); Guy Villax, (Hovione); Paulo Rosado (Outsystems); João Castello Branco (Semapa) e Fernando Guedes (Sogrape). A 1 de julho, Pedro Gingeira do Nascimento, assume a função de secretário-geral.

Os setores representados são transversais à economia, desde a construção (Mota-Engil) ao automóvel (Salvador Caetano) , passando pelas telecomunicações (Altice), energia (EDP, Galp), , grande distribuição (JM, Sonae), tecnologia, banca (BPI, Santander) e seguros (Fidelidade), entre muitos outros.

Reflexão sobre política de crescimento e grupo de pressão

A BRP declara-se independente e apolítica, auto-financiada e não se pretende substituir às confederações patronais existentes ou outras organizações. O próprio modelo organizacional escolhido parece decalcado da Roundtable que surgiu nos EUA que, a traços largos, combina um grupo de reflexão sobre as políticas de desenvolvimento económico e social com a pressão mais ou menos informal junto do poder político.

Vasco de Mello salientou que em Portugal existiam em 2017 cerca de 1200 grandes empresas, com mais de 50 milhões de euros de faturação e mais de 250 trabalhadores, que geram 29% da riqueza, quando esse indicador em França é de 53%, na Alemanha 52% e mesmo na vizinha Espanha ronda os 38%. “Sem grandes empresas não há crescimento e sem crescimento não há riqueza. Pretendemos transformar as PME em grandes empresas e estas em globais”, sintetizou.

Estado não pode atravancar economia

Quanto ao papel do Estado, Vasco de Mello salienta que ele “não pode atravancar o crescimento e tem que ser um facilitador da atividade económica”. Destaca a fiscalidade e a morosidade do sistema judicial entre os principais obstáculos ao desenvolvimento da economia e prometeu para breve contributos nesse sentido.

Cláudia Azevedo quer passar da teoria à prática na requalificação dos recursos humanos. Salientou que os modelos de educação do passado já não servem atualmente. “Somos o último da Europa, baixo nível de formação, metade dos portugueses não têm o ensino secundário completo e em competência em Tecnologias de Informação estamos também muito longe do necessário”, salientou.

Requalificação em exame

A responsável lembrou que cerca de metade das tarefas que hoje se desempenham vão ser substituídas por robots e que é necessário reforçar e adequar a ligação entre o ensino técnico e profissional às necessidades das empresas. “Propomos-nos a olhar para os programas de requalificação que existem e ajudar a reformulá-los”, acrescentou.

Já António Rios de Amorim, insistiu na necessidade de escala das empresas e na falta de produtividade. “Empresa que não cresce, não tem futuro. O mesmo acontece com o país”, salientou. Destaca o momento de crise como uma oportunidade para refletir e inverter o que está errado. “Vamos ter que deixar de adiar decisões. E existem grandes empresas que incluivamente tê, também trabalho de casa a fazer”, acrescentou.

Quanto a propostas de intervenção concretas, nenhum dos responsáveis se comprometeu com qualquer calendário, insistindo que agora é o tempo de formar os grupos de trabalho para as elaborarem.

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