Economia

BCP avança com rescisões e pré-reformas e pode haver despedimentos para cumprir objetivos

Miguel Maya, presidente executivo do BCP
Miguel Maya, presidente executivo do BCP
Ana Baião

Banco não revela trabalhadores que vão sair do banco, mas admite que modelo de redução de pessoal possa não ser feito exclusivamente mediante acordos

BCP avança com rescisões e pré-reformas e pode haver despedimentos para cumprir objetivos

Diogo Cavaleiro

Jornalista

BCP avança com rescisões e pré-reformas e pode haver despedimentos para cumprir objetivos

Isabel Vicente

Jornalista

O Millennium BCP vai avançar com um programa de rescisões e de pré-reformas nos próximos meses, mas que começa já na próxima semana. Não se sabe quantos trabalhadores serão abrangidos, nem qual a meta da instituição financeira, mas, não sendo alcançada, está aberta a porta a despedimentos e decisões unilaterais, segundo informação enviada por Miguel Maya aos trabalhadores e a que o Expresso teve acesso.

"O processo inicia-se com este apontamento que dirijo a todos os trabalhadores, e prosseguirá agora com as reuniões com os Sindicatos, com a Comissão de Trabalhadores e com a DGERT, as quais podem levar a alguns ajustes na forma como planeámos a execução. Perspetivamos que o período de adesão ao programa de reformas e rescisões por mútuo acordo se inicie no próximo dia 16 de junho e decorra até 18 de agosto, seguindo-se, na eventualidade de ser necessário para alcançar a redução em função dos critérios específicos que considerámos, a implementação de medidas unilaterais de redução do número de trabalhadores. O final do período negocial está perspetivado para 20 de setembro", indica a nota.

Ou seja, primeiro haverá os processos de negociação, mas depois, consoante esses resultados, fica aberta a via unilateral, como o Santander também colocou em cima da mesa.

Este mesmo documento intitulado "ajustamento do quadro de pessoal" revela que o modelo encontrado para a redução de pessoal "poderá não ser passível de alcançar exclusivamente através de um programa de reformas e rescisões por mútuo acordo". Isto porquê? Porque o BCP tem já em vista parte dos postos de trabalho que pretende eliminar: "vai pressupor que uma parte muito significativa das saídas sejam de funções/trabalhadores pré identificados".

O banco tinha, no final de março, 7 mil trabalhadores na atividade em Portugal e 10 mil na operação internacional.

Plano vem do ano passado

Recorde-se que o BCP perspetivava um programa de redução de trabalhadores para colocar em marcha no ano passado, mas foi adiado por causa da pandemia.

Na carta a que o Expresso teve acesso, Miguel Maya dá nota dessa explicação: “No primeiro trimestre de 2020 fomos surpreendidos pela pandemia, uma crise sanitária que rapidamente se transformou em crise económica, a qual não obstante os efeitos terem sido mitigados pelas moratórias dos bancos e pelas medidas governamentais de apoio, teve impactos devastadores para muitas famílias e empresas. Foi por essa razão então decidido que não era adequado empreender nesse ano o processo de redução de trabalhadores que estava a ser equacionado”.

Já se sabia, portanto, que esta diminuição do quadro de pessoal, não quantificada, teria de acontecer – aliás, à semelhança do que está a ser feito por outros bancos. Em março, o Expresso escreveu que os bancos se preparavam para eliminar centenas de postos de trabalho e que o BCP era dos que mais iria intensificar a tendência (na altura, o número em cima da mesa apontava para 400 funcionários, e Maya negou que o número chegasse a mil).

“Um processo estruturado de redução de pessoas constitui para a equipa de administradores executivos que tenho a responsabilidade de liderar, a decisão mais difícil, mais pesada de tomar desde que assumimos funções, pois temos consciência do relevante impacto nas famílias de pessoas que ao longo de anos deram muito de si ao BCP”, confidenciou, na carta, o presidente executivo do banco que, no primeiro trimestre, teve lucros de 58 milhões de euros.

Ainda assim, Miguel Maya deixa o aviso da inevitabilidade da operação: “se não atuarmos agora – é sempre possível e há sempre motivos fáceis de identificar para procrastinar decisões – estaremos a facilitar a nossa vida no imediato e a comprometer de forma relevante o futuro do banco e dos seus trabalhadores”.

Na carta enviada aos trabalhadores pode ler-se que “este modelo permitirá que as eventuais reduções graduais a efetuar nos próximos anos, para adequar a capacidade à tipologia da procura e à evolução e incorporação de tecnologia nos modelos e processos de negócio, possam decorrer de forma natural e sem tensões na organização”.

PATRICIA DE MELO MOREIRA

As justificações da digitalização ao Novo Banco

Miguel Maya dá nota de muitos fatores que justificam a redução do quadro de pessoal no imediato, mesmo com a crise pandémica ainda por terminar. Vão desde a tendência que afasta os clientes dos balcões ao sempre recorrente tema do Novo Banco.

E exemplifica: “a alteração dos hábitos e preferências de interação dos clientes, os quais aderiram aos canais digitais com a mesma naturalidade com que no passado incorporaram nas suas rotinas a utilização das ATMs”, assim como, “a exigência pelos clientes de preços que incorporam margens muito reduzidas, pela capacidade que hoje dispõem de utilizar sem custos acrescidos qualquer banco ou operador de serviços financeiros (Bancos, Fintechs, BigTechs)”, a “prevalência de taxas de juro negativas ou muito baixas, por um horizonte temporal alargado” e ainda a “impossibilidade dos bancos sedeados em Portugal repercutirem o custo dos depósitos nos grandes depositantes”.

Há mais, como a “inibição ou limitação de cobrar comissões de mercado num conjunto alargado de serviços bancários”, mais uma vez só em Portugal, e o facto de os bancos estarem obrigados “a repercutir nos clientes de crédito à habitação taxas de juro negativas, fazendo com que os clientes que conseguiram em determinado momento negociar spreads muito baixos, estejam hoje a receber rendimentos por terem crédito habitação”.

O presidente do BCP refere ainda uma outra questão em que tem vindo a insistir: “os injustos e irrazoáveis contributos que alimentam o mecanismo de capitalização contingente do Novo Banco, nomeadamente a contribuição especial sobre a banca e os pagamentos para o Fundo de Resolução Nacional, cujas contribuições por parte do BCP se aproximam dos 50 milhões de euros por ano e, em valor acumulado, já superaram os 400 milhões”, sublinhando que este é um “tema ainda mais insólito quando o BCP é fortemente penalizado em benefício de um concorrente direto”.

(notícia atualizada com mais informações pelas 13.30)

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