Ainda sem a transferência necessária para cobrir os prejuízos do ano passado concretizada, o Novo Banco não retira de cima da mesa a possibilidade de vir a participar em aquisições de outros bancos.
“Olhamos naturalmente para todas as oportunidades que possam, do ponto de vista de trabalho, significar um maior envolvimento com a economia portuguesa”, começou por responder António Ramalho, presidente da administração executiva do Novo Banco, no CEO Banking Forum, iniciativa do Expresso e da Accenture que foi transmitida esta quarta-feira na SIC Notícias.
Segundo explicou o CEO do banco detido pela Lone Star, há compromissos assumidos em 2017 que obrigavam ao banco a “manter-se um banco significativo para as empresas portuguesas” - compromissos em que está inscrita a proibição de fazer aquisições até ao final do plano de reestruturação, que termina no fim de 2021. A partir de 2022, deixa de ter a amarra.
“Feita a reestruturação, feita a análise, temos esta vocação natural de querer crescer”, admitiu Ramalho em resposta a uma pergunta sobre se a hipótese de aquisições estava em cima da mesa. Aliás, disse, a pandemia trouxe o foco para a “aposta no mercado português”.
Embora tenha obrigado o banco a sair de várias geografias, a Comissão Europeia permitiu manter a operação espanhola mas a gestão optou por sair de lá. “A decisão de vender essa operação foi convicção generalizada, quer da administração, quer dos acionistas, de que a aposta era na economia portuguesa, nas empresas portuguesas”, declarou – este é o posicionamento que tem sido adotado em torno do banco: saiu de Espanha para apostar em Portugal.
Agora, o Novo Banco é um dos concorrentes à compra do EuroBic, de Isabel dos Santos, embora Ramalho não tenha falado no evento sobre esse banco em específico.
“O Novo Banco deixou de ser um problema. Foi um problema enorme, foi resolvido durante o primeiro período de seis anos”, relembrou - e fez uma promessa: “Não queremos ser um acréscimo de responsabilidades futuras para o sistema financeiro”. Para trás ficam cerca de 8 mil milhões de euros colocados pelo Fundo de Resolução (veículo financiado pela banca que entra nas contas públicas).
Santander e as guerras pelo território
As afirmações de Ramalho foram proferidas perante os restantes quatro grandes banqueiros (Paulo Macedo, da CGD, Miguel Maya, do BCP, João Pedro Oliveira e Costa, do BPI, e Pedro Castro e Almeida, do Santander), sendo que o sector já sinalizou descontentamento com a possibilidade de aquisições pelo Novo Banco quando ainda está a ser capitalizado pelo Fundo de Resolução.
Sobre o tema da consolidação na banca, Oliveira e Costa voltou a frisar o que já tinha dito em entrevista ao Expresso: “Não me parece a curto prazo que haja oportunidades de consolidação em Portugal”. E justifica: “Com a conjuntura atual de taxas de juros negativas, rentabilidades de capitais próprios muitíssimo baixos e necessidades enormes de reforço de investimentos em termos regulatórios e em termos de digitalização”, não é o momento para “movimentos de consolidação em Portugal, até porque o mercado é relativamente estreito”.
Já Castro e Almeida admitiu que é importante ter capital e ter solidez mas que isso não é conseguido com compras de bancos: “Temos a preocupação de comprar um banco com tijolos e mais pessoas e a trabalhar exatamente da mesma maneira? Não”. “Faz lembrar as guerras de antigamente, em que havia uma preocupação de ocupação de território. Era preciso alargar para ter mais agricultura. Hoje em dia, nas guerras, já não há necessidade de ocupação. Também na banca não vai haver, não há necessidade de comprar mais bancos iguais”, disse o líder do Santander em Portugal, sublinhando que é mais relevante pensar em como liderar num ecossistema em que há outros operadores como fintechs e, sobretudo, grandes empresas de tecnologia.
Miguel Maya, do BCP, não falou de consolidação - mas lembrou algo pelo qual há muito luta: os encargos para o Fundo de Resolução e para manter, na prática, um concorrente, o Novo Banco. “É uma profunda injustiça a distribuição destes custos. O BCP paga 47 milhões por ano, já entregou cerca de 400 milhões. É insuportável”, repetiu. Mais, referiu ainda que a auditoria do Tribunal de Contas “veio demonstrar que o modelo atual não é sustentável”.