Economia

Covid-19: o que mudou nos pagamentos em 10 meses de pandemia

Legislação criada com a emergência pandémica facilitou pagamentos sem contacto
Legislação criada com a emergência pandémica facilitou pagamentos sem contacto
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Em 2020 assistiu-se a uma revolução na evolução do sistema de pagamentos. A grande mudança foi o crescimento das compras online e o crescimento exponencial de pagamentos com cartões contactless

Covid-19: o que mudou nos pagamentos em 10 meses de pandemia

Isabel Vicente

Jornalista

Em 2020 os portugueses gastaram menos 501,5 mil milhões de euros nos pagamentos do dia-a dia. Dados do Banco de Portugal sobre o sistema de pagamentos revelam as grandes alterações que ocorreram em 2020 por causa da pandemia.

As operações com cartão, em particular, os levantamentos em numerário e as compras físicas e de baixo valor caíram a pique nos 10 meses de pandemia. Também a utilização de cheques, já em desuso, registou uma queda acentuada. Fora deste contexto, não ficam também os débitos diretos (pagamentos por exemplo, a ginásios, que durante os vários períodos de confinamento fecharam e como tal os pagamentos foram suspensos).

Em contrapartida, durante os 10 meses de pandemia assistiu-se a um aumento exponencial da utilização do cartão nas compras online e com cartão contactless (sem necessidade de introduzir código). As transferências a crédito e as transferências imediatas também subiram.

Os dados do Banco de Portugal permitem fazer um balanço positivo no que diz respeito à forma como durante a pandemia o sistema de pagamentos funcionou. E avançam com números que ditam as tendências, em particular desde o início da pandemia em março de 2020 até dezembro.

Os grandes números espelham as diferenças que se instalaram nos hábitos dos portugueses. O número e valor de pagamentos de retalho diminuiu pela primeira vez desde 2013, traduzindo a "contração económica e do consumo", que a pandemia causou, refere o Banco de Portugal.

Em 2020 os portugueses gastaram menos 4% nos pagamentos do dia-a-dia, ou seja, menos 501,5 mil milhões de euros.
As operações com cartão caíram, sobretudo com a redução dos levantamentos e das compras físicas, apesar de os cartões continuarem a ser o meio de pagamento mais utilizado pelos portugueses, diz o relatório.

"A redução dos levantamentos de numerário foi de 21,4% em número e 14% em valor e, no caso das compras, de 8,5% em número e 9% em valor".

Já no caso dos débitos diretos a diminuição foi de 7,6% em valor e de 5% em número de operações. A explicação para este decréscimo resulta da "suspensão de muitos serviços durante o período da pandemia", diz o Banco de Portugal.

Os pagamentos com cheque foram os que mais decresceram, refletindo a tendência dos últimos anos: 27,8% no que diz respeito ao valor e 27,9% face ao número de utilização.

O que mais cresceu em 2020 com a pandemia

As transferências a crédito foram o único meio de pagamento cuja utilização tanto aumentou em valor como em número de operações. Cresceram 8% em número de operações e 3,5% em valor, ainda assim abaixo do registado em 2019.

O grande destaque vai para o aumento da utilização do cartão contactless, que cresceu 163% em número e 271% no que diz respeito ao valor envolvido. "Em dezembro, 32% das compras em terminais físicos foram efetuadas com recurso a esta tecnologia", revela o Banco de Portugal. Para isso também contribuiu a alteração no limite autorizado de 20 euros para 50 euros. O valor médio das compras ascendeu a 21 euros.

Também as transferências bancárias aumentaram, "em grande medida por permitirem a realização de pagamentos não presenciais, sobretudo as transferências imediatas, que cresceram 81,3% em número e 50,4% em valor".

Em fevereiro de 2020 a tendência era outra

Numa comparação feita pelo Banco de Portugal podem ver-se algumas diferenças do que mudou logo no início da pandemia em março de 2020.

Os pagamentos de retalho cresciam 11% face a fevereiro de 2019. Em abril de 2020, os pagamentos de retalho caíam, já por causa da pandemia, 38% face ao período homólogo.

Em fevereiro de 2020 as compras com cartões nacionais cresciam 16% e as compras com cartões estrangeiros 32%. Em abril de 2020, o primeiro confinamento em Portugal, as compras com cartões nacionais registaram um decréscimo abrupto de 41% e as compras com cartões estrangeiros caíram 87%.

Só 10% das compras com cartão eram feitas online. Em abril de 2020 verificou-se logo um aumento para 15%.

No mesmo período 12% das compras com cartão eram contactless, cada compra tinha um valor médio de 12 euros. Em abril de 2020 17% das compras passaram a ser com contactless e cada compra tinha um valor médio de 21 euros.

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