Gaioso Ribeiro: "Fui administrador da Benfica SAD. Isso em nada compromete a minha idoneidade"
Antigo administrador do Benfica não vê conflitos de interesse por gerir fundo que tem créditos da Promovalor, de Luís Filipe Vieira, ao Novo Banco
Antigo administrador do Benfica não vê conflitos de interesse por gerir fundo que tem créditos da Promovalor, de Luís Filipe Vieira, ao Novo Banco
Nuno Gaioso Ribeiro, o presidente da gestora do fundo que comprou ao Novo Banco os créditos concedidos pelo antigo BES à Promovalor, de Luís Filipe Vieira, garante que o poder sobre esse negócio é totalmente da instituição financeira e não do devedor, nem do fundo. Por isso, não vê qualquer conflito de interesse com o facto de ter sido membro de administração da Sport Lisboa e Benfica – SAD, presidida por Vieira.
“Eu fui, durante anos oito anos, administrador da SAD [do Benfica], em nada compromete a minha idoneidade profissional. Quer o Sport Lisboa e Benfica, quer a minha sociedade têm órgãos colegiais. Não consigo sequer conjeturar onde pode existir conflito de interesse”, respondeu Nuno Gaioso Ribeiro aos deputados da comissão de inquérito às perdas do Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução, na sua audição esta terça-feira, 27 de abril – o banco tinha uma exposição superior a 400 milhões ao grupo Promovalor, que era, assim, um dos seus maiores devedores.
A Capital Criativo (hoje C2 Capital Partners) foi fundada em 2009 e o fundo que adquiriu os créditos ao Novo Banco, o FIAE, foi constituído em 2017. Gaioso Ribeiro foi administrador da SAD do Benfica entre 2012 e 2020 (não tendo sido candidato nas últimas eleições).
“O conflito de interesse é quando um sujeito representa mais de um interesse, que são divergentes, e o sujeito tem poder decisório. Nós não representamos dois interesses, mas, mais importante, não temos qualquer poder decisório. Não há nenhuma questão de conflitos de interesse. Onde é que pode haver conflito de interesse? Se representasse dois interesses, os interesses não eram contraditórios, mas não temos qualquer poder decisório”, declarou, dizendo até ter um parecer sobre o assunto.
Segundo Gaioso Ribeiro, “a decisão de constituição deste fundo é do Novo Banco, é o credor único, é o investidor dominante”. “A decisão crítica, quem tem o poder decisório, é do Novo Banco”, garantiu. O fundo FIAE adquiriu créditos de 133,9 milhões ao Novo Banco em 2017, sendo que conseguiu depois nova liquidez desse banco de 12,2 milhões de euros. “É do somatório que resulta o montante de 146 milhões, que é o montante do fundo”, disse.
Nuno Gaioso Ribeiro defendeu que foi o Novo Banco que selecionou a então Capital Criativo para gerir os créditos da Promovalor, mas acabou depois, após perguntas da deputada bloquista Mariana Mortágua, por assumir que foi a gestora que, tendo conhecimento dos problemas daquele grupo económico, desenhou uma “oportunidade tradicional de reestruturação”, tendo contactado o Novo Banco. “Não apresentou uma proposta, estudou um formato como é que, com o volume de endividamento, se poderia adequar”, explicou.
A gestora do fundo teve conhecimento dos problemas da Promovalor a partir da própria empresa – mas Gaioso Ribeiro não soube indicar quem solicitou a reunião sobre o assunto, se José Gouveia, se Luís Filipe Vieira, se o seu filho, Tiago Vieira.
Mas há uma garantia deixada por Gaioso Ribeiro: “Nunca discuti com Luís Filipe Vieira os negócios da Capital Criativo”. Luís Filipe Vieira era o presidente da Promovalor que, quando a Capital Criativo foi constituída, em 2009, tinha 10% do seu capital. As discussões sobre a empresa com acionistas aconteciam em sede de assembleia-geral, defendeu Gaioso Ribeiro.
A Promovalor já vendeu a sua participação na C2, tal como Tiago Vieira, que teve 5% da empresa, que igualmente alienou a sua participação. Ainda assim, a família Vieira é ainda dona de 4% das unidades de participação do FIAE, o fundo que adquiriu créditos da Promovalor concedidos pelo antigo BES/Novo Banco.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt