"Apoios e horários colocam setor da restauração à beira da “escravização”", diz a PRO.VAR , uma das associações deste sector depois de analisar uma série de dados para avaliar a dimensão do problema e denunciar ao governo o que considera serem " apoios e regras, injustos e incongruentes", a par de um documento com "Medidas de salvação do sector da restauração".
O trabalho tem por base um inquérito a empresas do sector realizado entre os dias 2 e 9 de abril. Apresenta "respostas válidas de 549 estabelecimentos de restauração", diz a associção liderada por Daniel Serra. antes de avançar "números da catástrofe em curso", como o facto de "dois em cada três estabelecimentos de restauração não conseguiram pagar metade das despesas".
O trabalho deixa um alerta especial para "uma situação de extrema gravidade" idenificada nos centros comerciais onde , dois em cada três (66,4%), dos estabelecimentos ponderam apresentar pedidos de insolvência. "Afirmam estarem normalmente sujeitos a restrições ainda mais graves que os restantes, pois para além das restrições de horários e despesaselevadas, estão há meses impedidos de trabalhar, pois nem sequer podem fazê-lo em serviço take away", sublinha.
27,1% sem apoios
Oitenta e cinco por cento dos inquiridos "dizem que os apoios terão de ser revistos e reforçados" , mas 27,1% estão de fora do APOIAR,: "13,7%, por terem aberto recentemente e os outros 13,4%, por terem tido quebras em 2020, inferiores a 25%", sublinha a PRO.VAR..
Comparando os dois últimos inquéritos (o atual e o que ealizado entre 28 de janeiro e 06 de fevereiro de 2021), a PRO.VAR conclui que "os apoios apresentados no dia 12 de março, conseguiram reduzir o número de empresas que estavam a ponderar avançar para insolvência, de 60%, para os 37%".
A PRO.VAR denuncia "falhas grave nos apoios", diz que "os critérios de atribuição são desequilibrados". salienta que "deixam de fora muitos estabelecimentos" e sublinha que entre os contemplados existe uma distorção grande"entre os apoios e o peso das despesas, por empresa. "A situação é tanto mais grave, quanto mais pequena é a empresa", nota.
Sobre os horários de fim de semana (13H), os empresários manifestam " indignação". "pedem dignidade para o setor e consideram que esta opção coloca muitos estabelecimentos à beira da “escravização”.
Por tudo isto, no documento enviado ao Governo, a PRO.VAR considera que o sector "sucessivamente, serviu de bode expiatório à disseminação da COVID-19, mesmo após o investimento de milhares de euros em equipamentos e na reformulação do acesso de pessoas e bens aos espaços, sem que existisse qualquer evidência que comprovasse essa suspeição que recaiu sobre o sector".
Porque continuam a trabalhar?
"Curiosamente, apesar disso, voltou o sector a ser totalmente discriminado em termos de apoios e de acesso aos mesmos, querendo-se ignorar que quebras de faturação na ordem dos 90% são ainda piores que o decretar de um encerramento compulsivo". "Entendemos, por isso, ser uma questão de justiça e de equidade a intervenção urgente do Governo no sentido de se encontrar um justo equilíbrio entre os apoios e as restrições para controlo da Pandemia. Há um ano que os estabelecimentos se encontram a trabalhar com severas limitação de lotação e de horários, suportando um elevado conjunto de custos fixos, nomeadamente: rendas, licenças de software (faturação e gestão), sites, domínios, energia (isto enquanto a EDP apresenta lucros avultadíssimos), água, gás, serviços de contabilidade, seguros, avenças, quebras e desperdícios, entre vários outros, aos quais acresce ainda a degradação de stocks, pois trabalhando a restauração com produtos perecíveis, restou apenas a oferta destes bens ou teríamos de os deitar fora", diz a associação.
"Mesmo no caso de empresas e empresários que optaram pela solução do take-away, poucos são aqueles que conseguem laborar sem prejuízo, estando literalmente a “pagar para trabalhar”. Quem realmente conhecer aquilo que se está a passar no terreno, sabe que a maioria dos empresários do setor, apesar do prejuízo, continua apenas a trabalhar por duas razões: i.) para manter alguma liquidez; e ii.) para garantir a manutenção do elo com o seu cliente", sublinha.
E deixa mais uma nota crítica: " Passado um ano, podemos afirmar que o setor da Restauração fez a sua parte. Colaborou sempre com o Governo na implementação de soluções para controlar a pandemia; respondeu, sempre que solicitado, com a retoma da atividade, tentando ajudar a dinamizar a economia; porém, temos sido o “parente pobre” que é sucessivamente esquecido, com recorrentes atrasos, exclusões e insuficiências de apoios, colocando a maioria das empresas no limite da sobrevivência".
Dados do Banco de Portugal e "situação dramática"
A fundamentar a análise, refere. até, dados do Banco de Portugal. indicado que em média, uma empresa da restauração tem 31% de custos fixos operacionais, 25% das empresas tem custos fixos superiores a 42% e apenas 25% dos restaurantes têm despesas fixas correspondentes a 20% (percentagem correspondente ao apoio que o estado está a dar de momento). Mas nos contactos diretos com os associados, a PRO.VAR já concluiu que " na pratica, 50% das empresas da restauração tem custos operacionais fixos superiores à média de 31% que o estudo relata".
Se as empresas pequenas, são aquelas que tendem a ter percentagens mais elevadas de custos fixos, teriam também de ser aquelas com percentagens de apoio maiores, defende a estrutura associativa liderada por Daniel Serra. Asim, É " urgente assumir uma de duas posições: ou o Governo Português assume que efetivamente os restaurantes devem estar encerrados e assume uma postura de apoio de 70% das perdas, como aconteceu na Alemanha ou em França; ou seguimos um modelo em que se assume o risco e, definitivamente, deixa de interferir de forma castradora no funcionamento dos estabelecimentos, tal como acontece em Espanha". diz.
E entre muitos outros pontos. deixa uma questão direta ao executivo liderado por António Costa: "Neste momento a generalidade das empresas do sector encontram-se em situação dramática, pelo que, se queremos de facto assegurar a sobrevivência das empresas e do emprego que elas geram, que sentido faz estar a avaliar indicadores à data de 31 de Dezembro de 2019 e a impor restrições exclusivamente com base nos dados das empresa a esta data?"