Economia

Sector da restauração diz que dois em cada três estabelecimentos não conseguiram pagar metade das despesas

Sector da restauração diz que dois em cada três estabelecimentos não conseguiram pagar metade das despesas
António Pedro Ferreira

E dois em cada três (66,4%), dos estabelecimentos localizados em centros comerciais, ponderam apresentar pedidos de insolvência, conclui um estudo da PRO.VAR , uma das associações deste sector

"Apoios e horários colocam setor da restauração à beira da “escravização”", diz a PRO.VAR , uma das associações deste sector depois de analisar uma série de dados para avaliar a dimensão do problema e denunciar ao governo o que considera serem " apoios e regras, injustos e incongruentes", a par de um documento com "Medidas de salvação do sector da restauração".

O trabalho tem por base um inquérito a empresas do sector realizado entre os dias 2 e 9 de abril. Apresenta "respostas válidas de 549 estabelecimentos de restauração", diz a associção liderada por Daniel Serra. antes de avançar "números da catástrofe em curso", como o facto de "dois em cada três estabelecimentos de restauração não conseguiram pagar metade das despesas".

O trabalho deixa um alerta especial para "uma situação de extrema gravidade" idenificada nos centros comerciais onde , dois em cada três (66,4%), dos estabelecimentos ponderam apresentar pedidos de insolvência. "Afirmam estarem normalmente sujeitos a restrições ainda mais graves que os restantes, pois para além das restrições de horários e despesaselevadas, estão há meses impedidos de trabalhar, pois nem sequer podem fazê-lo em serviço take away", sublinha.

27,1% sem apoios

Oitenta e cinco por cento dos inquiridos "dizem que os apoios terão de ser revistos e reforçados" , mas 27,1% estão de fora do APOIAR,: "13,7%, por terem aberto recentemente e os outros 13,4%, por terem tido quebras em 2020, inferiores a 25%", sublinha a PRO.VAR..

Comparando os dois últimos inquéritos (o atual e o que ealizado entre 28 de janeiro e 06 de fevereiro de 2021), a PRO.VAR conclui que "os apoios apresentados no dia 12 de março, conseguiram reduzir o número de empresas que estavam a ponderar avançar para insolvência, de 60%, para os 37%".

A PRO.VAR denuncia "falhas grave nos apoios", diz que "os critérios de atribuição são desequilibrados". salienta que "deixam de fora muitos estabelecimentos" e sublinha que entre os contemplados existe uma distorção grande"entre os apoios e o peso das despesas, por empresa. "A situação é tanto mais grave, quanto mais pequena é a empresa", nota.

Sobre os horários de fim de semana (13H), os empresários manifestam " indignação". "pedem dignidade para o setor e consideram que esta opção coloca muitos estabelecimentos à beira da “escravização”.

Por tudo isto, no documento enviado ao Governo, a PRO.VAR considera que o sector "sucessivamente, serviu de bode expiatório à disseminação da COVID-19, mesmo após o investimento de milhares de euros em equipamentos e na reformulação do acesso de pessoas e bens aos espaços, sem que existisse qualquer evidência que comprovasse essa suspeição que recaiu sobre o sector".

Porque continuam a trabalhar?

"Curiosamente, apesar disso, voltou o sector a ser totalmente discriminado em termos de apoios e de acesso aos mesmos, querendo-se ignorar que quebras de faturação na ordem dos 90% são ainda piores que o decretar de um encerramento compulsivo". "Entendemos, por isso, ser uma questão de justiça e de equidade a intervenção urgente do Governo no sentido de se encontrar um justo equilíbrio entre os apoios e as restrições para controlo da Pandemia. Há um ano que os estabelecimentos se encontram a trabalhar com severas limitação de lotação e de horários, suportando um elevado conjunto de custos fixos, nomeadamente: rendas, licenças de software (faturação e gestão), sites, domínios, energia (isto enquanto a EDP apresenta lucros avultadíssimos), água, gás, serviços de contabilidade, seguros, avenças, quebras e desperdícios, entre vários outros, aos quais acresce ainda a degradação de stocks, pois trabalhando a restauração com produtos perecíveis, restou apenas a oferta destes bens ou teríamos de os deitar fora", diz a associação.

"Mesmo no caso de empresas e empresários que optaram pela solução do take-away, poucos são aqueles que conseguem laborar sem prejuízo, estando literalmente a “pagar para trabalhar”. Quem realmente conhecer aquilo que se está a passar no terreno, sabe que a maioria dos empresários do setor, apesar do prejuízo, continua apenas a trabalhar por duas razões: i.) para manter alguma liquidez; e ii.) para garantir a manutenção do elo com o seu cliente", sublinha.

E deixa mais uma nota crítica: " Passado um ano, podemos afirmar que o setor da Restauração fez a sua parte. Colaborou sempre com o Governo na implementação de soluções para controlar a pandemia; respondeu, sempre que solicitado, com a retoma da atividade, tentando ajudar a dinamizar a economia; porém, temos sido o “parente pobre” que é sucessivamente esquecido, com recorrentes atrasos, exclusões e insuficiências de apoios, colocando a maioria das empresas no limite da sobrevivência".

Dados do Banco de Portugal e "situação dramática"

A fundamentar a análise, refere. até, dados do Banco de Portugal. indicado que em média, uma empresa da restauração tem 31% de custos fixos operacionais, 25% das empresas tem custos fixos superiores a 42% e apenas 25% dos restaurantes têm despesas fixas correspondentes a 20% (percentagem correspondente ao apoio que o estado está a dar de momento). Mas nos contactos diretos com os associados, a PRO.VAR já concluiu que " na pratica, 50% das empresas da restauração tem custos operacionais fixos superiores à média de 31% que o estudo relata".

Se as empresas pequenas, são aquelas que tendem a ter percentagens mais elevadas de custos fixos, teriam também de ser aquelas com percentagens de apoio maiores, defende a estrutura associativa liderada por Daniel Serra. Asim, É " urgente assumir uma de duas posições: ou o Governo Português assume que efetivamente os restaurantes devem estar encerrados e assume uma postura de apoio de 70% das perdas, como aconteceu na Alemanha ou em França; ou seguimos um modelo em que se assume o risco e, definitivamente, deixa de interferir de forma castradora no funcionamento dos estabelecimentos, tal como acontece em Espanha". diz.

E entre muitos outros pontos. deixa uma questão direta ao executivo liderado por António Costa: "Neste momento a generalidade das empresas do sector encontram-se em situação dramática, pelo que, se queremos de facto assegurar a sobrevivência das empresas e do emprego que elas geram, que sentido faz estar a avaliar indicadores à data de 31 de Dezembro de 2019 e a impor restrições exclusivamente com base nos dados das empresa a esta data?"

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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