No mapa da Europa, Portugal aparece como um caso isolado na indústria do calçado: “É o único país europeu que apresenta um saldo positivo na balança comercial do sector”, diz a associação sectorial APICCAPS que avança de imediato uma explicação: “A forte vocação exportadora das empresas afasta os concorrentes europeus”.
É verdade que as exportações da indústria portuguesa caíram mais de €460 milhões em três anos e, só em 2020, pressionada pela pandemia de covid-19, a queda rondou os €290 milhões (quase 20%), para os €1,49 mil milhões, o registo mais baixo da década.
Mesmo assim, diz a APICCAPS, feitas em pares de sapatos e não em euros, as fábricas portuguesas exportaram 61,3 milhões de pares em ano de pandemia para mais de 160 países. São menos 15 milhões de pares do que um ano antes, mas é o suficiente para dar um saldo positivo de 17 milhões na balança comercial, onde o prato das importações soma 44,6 milhões de pares.
Já na União Europeia, 2020 fechou com a exportação de 1.619 milhões de pares, contra importações de 2.974 milhões, com a balança a perder 1.355 milhões.
E os dois principais concorrentes da indústria lusa são bons exemplos desta história que termina em défice. Itália, o maior produtor europeu, exportou 165 milhões de pares, mas importou 271,1 milhões, o que resulta num saldo negativo de 101 milhões de pares de sapatos. Espanha exportou 134,1 milhões contra importações de 245,3 milhões (-111 milhões).
E nos outros países a tendência mantém-se
É “um registo deficitário comum a todos os principais protagonistas da UE”, com o desequilíbrio a acentuar-se na Alemanha e na Bélgica, simultaneamente os dois maiores exportadores e importadores de calçado do continente, com registos, respetivamente, de 293,5 milhões e de 242,8 milhões no prato das exportações, em desequilibro face aos 634 milhões e 403 milhões apresentados do lado da importação.
França comprou ao mundo 403 milhões de pares de sapatos em 2020, tendo vendido 107 milhões. E a Holanda, em linha com os outros países europeus importou 229 milhões de pares e exportou 162 milhões.
Até a leste, a Roménia, com “uma indústria promissora de calçado”, mantém o desequilíbrio transversal ao continente europeu, apresentando 26,2 milhões de pares no prato das exportações e 60 milhões no das importações. Já a Polónia apresenta um saldo negativo de 93 milhões de pares na sua balança comercial, com compras de 215 milhões de sapatos contra a venda a outros países de 115 milhões.
Em posição de equilíbrio no mapa europeu do calçado aparece apenas a Eslováquia, com registos idênticos, na ordem dos 55 milhões nos dois pratos da balança.
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