Economia

Novo Banco acorda com Abanca venda de sucursal em Espanha (que causou perdas de €166 milhões em 2020)

António Ramalho, presidente do Novo Banco
António Ramalho, presidente do Novo Banco
TIAGO MIRANDA

Há já acordo oficial para a alienação da unidade espanhola, que gerou uma divergência entre o Novo Banco e o Fundo de Resolução. É a sexta compra do Abanca, que também adquirira a filial da CGD em Espanha

Novo Banco acorda com Abanca venda de sucursal em Espanha (que causou perdas de €166 milhões em 2020)

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Novo Banco já tem acordo para sair de Espanha. O comprador da sucursal é o grupo espanhol Abanca que ainda recentemente adquiriu a operação da Caixa Geral de Depósitos naquele país, mas que falhou a compra do português EuroBic. Não é revelado o preço: o que se sabe é que, após ter causado perdas de 166 milhões de euros em 2020 (e gerando um diferendo com o Fundo de Resolução, que não se quer responsabilizar por aquele impacto), a venda da sucursal vai ter um impacto “marginal” em 2021.

“O Novo Banco, na sequência do processo de venda competitivo, assinou um acordo com a Abanca Corporación Bancaria, S.A. para a venda da operação da sucursal de Espanha. Com este acordo, o Novo Banco aliena as operações de retalho, banca privada e PME em Espanha, incluindo 10 balcões e respetivos colaboradores”, assinala esta segunda-feira, 5 de abril, a entidade presidida por António Ramalho em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A equipa conta com 172 trabalhadores, operando com outros 102 agentes especializados. O volume de negócios (soma de créditos e depósitos) é de 4,2 mil milhões de euros.

O Novo Banco decidiu, em maio do ano passado, avançar para a venda da sua sucursal em Espanha, a única operação ainda relevante fora do país que herdara do falido Banco Espírito Santo (há depois uma outra no Luxemburgo, para registo de operações). O Abanca ganhou esta corrida onde também participou, segundo a imprensa espanhola, o chinês Haitong, que em Portugal adquiriu em 2015 o BES Investimento.

Venda foi decidida por gestão, não por Bruxelas

Estiveram várias opções em cima da mesa para a sucursal espanhola do Novo Banco (incluindo a liquidação ou venda de apenas parcelas de ativos e passivos). “O acordo celebrado representa a opção mais adequada de desinvestimento do negócio, garantindo a manutenção de serviço aos clientes e oferecendo atrativas perspetivas de longo prazo para clientes e colaboradores em Espanha”, indica a nota do banco detido, em 75%, pela Lone Star.

“A venda é consistente com o plano estratégico do banco, executado de forma a cumprir com os compromissos definidos para 2021, assumidos pelo Estado Português perante a Comissão Europeia em 2017 no contexto da venda de uma participação do capital social do Novo Banco”, diz o banco em comunicado à CMVM.

Apesar de “ser consistente” com esse plano, a alienação da sucursal foi decidida pela gestão de António Ramalho e não por Bruxelas, que impôs condições de saída de outros mercados, mas que até permitia manter Espanha. A estratégia seguida foi de “reafectação de recursos à atividade bancária em Portugal”. Em Portugal, e segundo o que avança hoje o Eco, o banco prepara-se agora para mudar a sua sede, atualmente na Avenida da Liberdade, em Lisboa, para o Taguspark, em Oeiras, desistindo da ideia de construi-la no empreendimento que quer promover na zona da Artilharia I, também na capital.

Impacto marginal após perdas

De acordo com o Novo Banco, esta operação terá, em 2021, um “um impacto marginal no resultado líquido”. Ou seja, sem qualquer peso quando comparado com as perdas de 166 milhões de euros registadas nos resultados de 2020 – pelas quais o Fundo de Resolução não se quer responsabilizar.

A operação em Espanha, embora esteja sob o mecanismo que obriga às injeções do Fundo de Resolução, causou perdas em 2020, com a adequação do valor de balanço ao preço de compra. Mas, como não aconteceu no mesmo ano, o recebimento do dinheiro do comprador não compensou o impacto. “A concretização da operação está sujeita às respetivas autorizações regulatórias e a sua conclusão é esperada no segundo semestre de 2021”, admite o banco. Esta questão de Espanha gerou um diferendo com o Fundo de Resolução, o terceiro no espaço de um ano, como contou o Expresso na última edição do semanário.

Esta operação, ao concretizar-se, melhora o rácio de capital mais exigente (CET1) em 55 pontos base (0,55 pontos percentuais), tem impacto positivo nos rácios de liquidez, melhorando ainda os indicadores de eficiência (que compara custos com proveitos) e de rentabilidade dos capitais próprios.

Abanca com sexta compra em 7 anos

Para o grupo Abanca, presente em Portugal com a antiga rede de retalho e de banca privada do Deutsche Bank, esta é a sexta aquisição desde 2014. Em 2018, comprou a rede da CGD em Espanha e ainda em 2020 comprou o Bankoa (não confundir com Bankia, que foi agora absorvido pelo CaixaBank). Em Portugal, esteve a negociar a aquisição do EuroBic a Isabel dos Santos, mas não houve entendimento.

“Com esta operação, o banco atinge os 100.000 milhões de euros de volume de negócio e reforça o posicionamento em duas áreas de atividade prioritárias: o segmento da banca pessoal e privada e o segmento de empresas. A compra apresenta um baixo risco de execução e mínimo consumo de capital”, indica o comunicado do banco espanhol. Ganhará peso em Madrid, reforçará a área de retalho e de banca privada, mas também o negócio de empresas, “especialmente nas operações fora do balanço e na atividade cross border [transfronteiriça]”.

Entre os grandes portugueses deixa de haver, assim, entidades que tenham sucursais ou filiais em Espanha, sendo que são vários os bancos espanhóis com presença no país, como Santander ou CaixaBank.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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