Concluído o processo de adesão dos trabalhadores da TAP às medidas voluntárias negociadas no âmbito do plano de reestruturação, uma grande parte deles está de saída. O SITAVA lamenta "a verdadeira debandada de quadros altamente experimentados"
Jornalista
Muitos dos trabalhadores da TAP tiveram o seu último dia de serviço em março, na sequência das medidas voluntárias de saída negociadas com os sindicatos. Os números ainda não são públicos, mas são largas centenas, cerca de 800 foi o número noticiado mais recentemente. Tripulantes foram quem mais aderiu.
Onde terá havido mais saídas foi entre os tripulantes e menos na área da manutenção. Transversalmente, há um número considerável de diretores a sair, muitos deles históricos e com várias décadas de experiência. Uma sangria que está a gerar preocupação no interior da companhia.
Há sindicatos a considerar que o processo foi conduzido de forma cega e pouco estruturada, sem ter em conta a especificidade de cada pessoa e o seu contributo para o desempenho da companhia.
"Por muitos planos que a empresa faça para a retoma de voos, não resultará se os trabalhadores não acreditarem no projeto e todas as informações que vamos recolhendo vão exatamente no sentido contrário. Veja a verdadeira debandada de quadros altamente experimentados, que deixaram de acreditar e que optaram por abandonar a empresa", diz o SITAVA em mensagem aos seus associados, a que o Expresso teve acesso.
O Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA) prossegue: "Mantendo-nos no domínio dos ditados populares, diríamos que neste enorme coletivo temos um único soldado com o passo certo enquanto todos os outros marcham com o passo trocado. Esperemos que quando alguém, finalmente, questionar esta marcha, não seja demasiado tarde".
Rescisões por mútuo acordo, reformas antecipadas, pré-reformas, trabalho a tempo parcial e licenças sem vencimento foram as medidas voluntárias a que os trabalhadores da TAP puderam aderir até ao dia 24 de março, com efetivação prevista para 31 de março, esta quarta-feira.
A TAP, para já, não quer fazer balanços. E agradece o contributo de todos. "Hoje não é dia de fazer balanços do programa, cujo prazo de adesão apenas terminou no passado dia 24 de março. Hoje é dia de honrar e agradecer o contributo individual e coletivo de cada um destes colegas por fazerem a TAP voar mais alto, sempre ao serviço dos colegas e dos nossos clientes. Colegas que dedicaram anos de vida e de trabalho, que perfilam a história e o legado da TAP", afirmou em carta enviada aos trabalhadores o presidente executivo, Ramiro Sequeira, e o presidente não executivo, Miguel Frasquilho.
A companhia não avança números mas diz que muitos saíram em março.
Os tripulantes foram a classe de trabalhadores em que houve uma maior adesão, sabe o Expresso. É também aquela onde há um maior número de trabalhadores e onde os cortes previstos no âmbito da reestruturação antes da negociação com o sindicato que os respresenta (SNPVAC) era o mais agressivo. Alguns irão passar para a Portugália. A TAP criou uma "espécie de corredor" que lhes permite fazer a transferência para a sua subsdiária sem perder o vínculo, até estes poderem ser efetivos.
Está igualmente em perspetiva um número considerável de saídas na área administrativa. É um segmento fortemente penalizado ao nível das direções. Foi notada com preocupação dentro da companhia a saída de Dionísio Barum, Paula Canada e Carlos Paneiro, pessoas com décadas de experiência nas áreas comerciais e de rede, e respeitadas internamente.
Em relação aos pilotos as saídas serão relativamente contidas. Alguns estão a aderir a um modelo de reforma ativa, que lhes permitirá manter-se na empresa com metade do horário e metade do salário, mas com os todos os descontos até à reforma.
Os pilotos mais novos estão a ser aliciados com uma proposta de passagem para os quadros da Portugália - os que forem aprovados ficam com as dívidas junto da TAP contraídas para o pagamento do curso para pilotar o A320 saldadas na totalidade. E não terão de pagar o novo curso para pilotar as aeronaves da Portugália. E é-lhes oferecida uma indemnização correspondente a metade do valor caso saíssem com rescisão por mútuo acordo. Têm de aderir até ao dia 4 de abril.
Os presidentes da TAP reconhecem que a saída vai sentir-se na companhia, que dizem vai ter de ser reinventar. "Todos vamos sentir a falta uns dos outros. O impacto de cada saída, de todas as saídas, vai sentir-se por toda a organização. Que também vai ter de se reinventar. Que se está a reinventar. Todos vamos traçar novos caminhos e novos planos de futuro. Todos partilharemos, para todo o sempre, a paixão por ser TAP. Acreditamos que esse é um laço inquebrável", sublinham.
Sequeira e Frasquilho dão nota do que tem estado a ser feito. "Seguimos em frente. Na passada sexta feira recebemos o nosso sétimo A 321 Long Range, o CS- TXG, uma aeronave que é chave na nossa retoma e estratégia, permitindo servir o longo curso com maior eficiência".
Elencam outras novidades. "De segunda para terça realizámos num A321 LR da TAP, o voo mais longo: de Maputo a Praia, num total de 4500 milhas e 10 horas e 7 minutos de tempo de viagem. No sábado inaugurámos Cancun (...) um destino que reforça a competitividade do nosso Hub de Lisboa nas ligações entre a Europa, Américas, África e Médio Oriente".
Os gestores fazem também referência ao plano de rotas e frequências para o Verão, que prevê 879 voos por semana, num total de 100 rotas, em Agosto. "A 1 de abril, já estaremos a 39% da nossa capacidade, face a abril de 2019, com cerca de 100 voos por dia", sublinham.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt
