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Porta-contentores encalha no Canal do Suez e lança o caos no transporte marítimo. Seis questões para compreender a situação

A operação para desencalhar o porta-contentores falhou esta sexta-feira
A operação para desencalhar o porta-contentores falhou esta sexta-feira
Media Suez Canal Head Office / H

As operações de desencalhe do porta-contentores que está a bloquear o Canal de Suez falharam esta sexta-feira. Mais de 200 navios aguardam a passagem naquela que é considerada uma das mais importantes rotas marítimas por onde passa 12% do comércio mundial. Seis questões que poderão ajudar a compreender uma situação que afeta a passagem de 8100 milhões de euros por dia..

O "MV Ever Given" partiu da China com uma carga de 22 mil contentores com destino ao porto de Roterdão. Esta terça-feira , o navio de 220 mil toneladas e com dimensões semelhantes às de um arranha-céus como o nova-iorquino Empire State Building foi colhido por ventos laterais e encalhou na diagonal na parte mais estreita do canal. O caos instalou-se no transporte marítimo mundial e o petróleo subiu nos mercados. Conheça a resposta a seis questões para ajudar a compreender a situação .

Qual a importância do Canal de Suez?

Ponto de passagem de 12% do comércio mundial e de metade do petróleo consumido no mundo, o Canal do Suez ao ligar o mar vermelho ao Mediterrâneo encurta a distância entre o sul da Ásia e a Europa em mais de 8 mil quilómetros e muitos dias de viagem. O Canal é o principal porto de passagem do petróleo do Médio Oriente e das mercadorias que chegam à Europa vindas região asiática e o seu bloqueio tem um impacto global. Afeta produtos e matéria-primas que vão desde o algodão da Índia, até aos componentes chineses, passando pela importações de automóveis do Japão ou da Coreia do Sul, entre muitas outras mercadorias.

Qual o volume e a importância do tráfego?

Em 2020, passaram no Canal de Suez 18820 navios transportando uma carga total de cerca de 1200 milhões de toneladas, segundo os dados da autoridade que gere a infraestrutura. Calcula-se que em média mais de 50 navios atravessem diariamente os 163 quilómetros de extensão. O transporte de petróleos e derivados representou cerca de um quinto (23,4%) do total de carga transportada no canal, onde transitam por dia em média cerca de 1,9 milhões de barris de crude. O valor das mercadorias que diariamente atravessam o canal ronda os 8100 milhões de euros, segundo o jornal da Lloyd's de Londres, a maior bolsa de resseguros do mundo e que sem o seu registo um navio não pode sair do porto. O tráfego de porta-contentores e de navios graneleiros é dominante no canal.

Como é que a interrupção do trânsito do Canal do Suez afeta a economia?

Aliada à interrupção dos abastecimentos surge um previsível aumento dos preços devido aos navios terem que optar por rotas mais longas e demoradas, e por isso mais dispendiosas em termos de energia e tripulações. O que já estão a fazer, noticia esta sexta-feira o jornal da Lloyd's de Londres. Outro fator que aumenta os custos do frete será a própria taxa de utilização dos navios, pois se estão mais tempo a navegar, não poderão ser utilizados para transportar outras cargas. Por isto, é expectável que todos estes custos suportados pelos armadores sejam repercutidos em cadeia no consumidor final. Impossível de quantificar é o impacto provocado pela interrupção das cadeias logísticas de todos os setores de atividade económica que dependam de importações.

Quais os portos nacionais mais afetados pelo engarrafamento no Suez?

À semelhança da Europa, os portos nacionais não escapam aos atrasos da entrega de meracdorias e aos prevísiveis aumento do custo dos fretes marítimos. Como maior exportador e importador nacional, o Porto de Leixões será o mais atingido pelo suspensão de tráfego no Suez. Aliás, um dos navios presos no canal tinha como destino Leixões, a principal porta de entrada de mercadoria estrangeira para abastecer a indústria e as populações. E também o ponto de saída das exportações portuguesas. O segundo porto nacional mais afetado será Sines, onde o porta-contentores "MANILA MAERSK", atracou esta sexta-feira depois de atravessar o Suez pouco antes de o "MV Ever Given" ter encalhado. Sines é um porto de “transhipment” (transbordo) que recebe cargas de grandes navios e depois as distribui para navio mais pequenos ou para outros modos de transporte. Mais ligado ao comércio intraeuropeu, ilhas e África, o Porto de Lisboa será também afetado pela interrupção do tráfego no Suez, embora com menor expressão.

Quanto tempo vai demorar a desencalhar o navio?

Nem a autoridade que gere o Canal do Suez nem qualquer consultora internacional adianta um timing preciso. “De alguns dias até algumas semanas” é a estimativa apontada na imprensa internacional desta sexta-feira. O “MV Ever Given”, um porta-contentores com 400 metros de comprimento e 59 metros de boca, encalhou na parte mais estreita do canal. A primeira operação de desencalhe falhou esta sexta-feira, quando os trabalhos de passagem de cabos por debaixo do navio, dragagens e o contributo de cinco super-rebocadores não foram suficientes para mover o navio. Dentro de dois dias, chegarão ao local mais dois rebocadores de 240 e 220 toneladas, anunciou a Bernhard Schulte Shipmanagement.O navio transporta 22 mil TEU – unidade demedida equivalente a um contentor marítimo “normal”, com 20 pés de comprimento por 8 de altura e de largura e é propriedade da Evergreen, um dos maiores armadores mundiais com sede em Taiwan.

Quantos navios estão afetados ?

Pelo menos 237 navios, incluindo 24 petroleiros e 41 porta-contentores continuam a aguardar a possibilidade de cruzar o Canal. A opção por rotas alternativas levanta questões de segurança relacionadas com pirataria o que levou já muitos armadores e companhias de navegação a pedir auxílio à marinha norte-americana. Um porta-voz da 5ª esquadra dos Estados Unidos confirmou esta sexta-feira ao Financial Times os pedidos de informação sobre a segurança no Golfo de Aden, palco de frequentes ataques de piratas, por exemplo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hmartins@expresso.impresa.pt

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