Menos casas vendidas em 2020, mas a preços mais altos

Os preços cresceram 8,4%, mas as transações recuaram 5,3%
Os preços cresceram 8,4%, mas as transações recuaram 5,3%
Há mais casas disponíveis no mercado, mas ainda não são suficientes para alimentar a elevada procura, ditada pela liquidez existente e pela poupança das famílias. E, apesar de 2020 ter sido um ano de recessão, o sector imobiliário cresceu em valor, vendendo menos, a preços mais elevados.
Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística surpreenderam os operadores do mercado e confirmam a recuperação que se começou a registar no verão. Em 2020, o preço das casas cresceu 8,4%, apesar da queda de 5,3% no número de transações. O valor médio das casas foi de €151 mil, representando um crescimento de 8,4%, revela o Índice de Preços da Habitação, divulgado pelo INE, que surpreendeu os operadores imobiliários: em 2020 foram registados €26,2 mil milhões em transações imobiliárias, mais 2,4% do que no ano anterior. Uma valorização conseguida, apesar de se terem vendido 171.800 residências, menos 9678 habitações do que em 2019, “a primeira queda verificada desde 2012”, anota Paulo Eduardo Carlos, economista do BPI. O economista justifica o crescimento em valor com “a persistência de um ambiente financeiro muito favorável, com ampla liquidez e taxas de juro em níveis mínimos”. A que se juntam “os balanços mais saudáveis das famílias antes da crise pandémica, com níveis de endividamento já próximos da média da UE”.
Cristina Arouca, executiva da consultora CBRE, faz notar que em 2020 a oferta no mercado residencial “cresceu 22%”, um valor “significativo, mas ainda falta produto”. E é “o desfasamento entre oferta e procura que continua a manter os preços elevados e que ditaram o aumento das receitas”.
O valor das transações de habitações novas aumentou 9,3%, para €5,4 mil milhões, e o das habitações existentes aumentou 0,7%, para €20,8 mil milhões, indica o INE. Números que mostram que o imobiliário “continua a ser um investimento de refúgio em tempos de crise”, faz notar Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário.
Os dados do INE mostram que o Norte, com 28,7%, e o Centro, com 20%, respondem por quase metade das transações. Regiões onde “existe oferta e urgência em fechar negócios, devido ao contexto de incerteza deixado pela pandemia”, adianta Nélio Leão, da consultora Imovendo. Em contraste surge Lisboa, que desceu 1% no volume de transações, ocupando uma fatia de 33,5% do imobiliário.
O economista do BPI constata que o mercado imobiliário está em crescimento desde o 3º trimestre de 2020, “continuando a trajetória ascendente após um 2º trimestre absolutamente negro. 0 preço médio das casas está em €151,5 mil, mais 1,3% do que no 3º trimestre e mais 1,6% do que no trimestre anterior”, conclui Paulo Eduardo Carlos.
Ricardo Guimarães constata que o mercado imobiliário “acompanhou a pandemia, dividido entre o pessimismo do confinamento e o otimismo da vacina”. E avisa desde já que “é possível que este ano o mercado registe um ajustamento nos preços, com o fim das moratórias”.
A isto junta-se “a diminuição das visitas e das viagens, o que poderá ter impacto no investimento estrangeiro”, conclui Cristina Arouca.
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