O novo campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia no Monte da Caparica é o ponto de partida para o Distrito da Inovação, um projeto urbanístico que pretende criar na região de Lisboa uma nova centralidade urbana com base no conhecimento.
”Estamos a requalificar a faculdade e a criar no campus um hub de inovação para empresas. A um horizonte de dez anos, na área circundante vai ser construída uma cidade baseada no conhecimento”, explica José Ferreira Machado, vice-reitor da Universidade Nova.
A partir do plano de expansão da faculdade e em conjunto com a Câmara Municipal de Almada, a Universidade Nova contactou nove grandes proprietários e investidores do Monte da Caparica e Porto Brandão. Em dois anos, entidades públicas e privadas elaboraram um plano global, articulando os respetivos projetos individuais, alguns já em fase de licenciamento. O conjunto da intervenção abrange uma área de 399 hectares, com um investimento estimado em €800 milhões e a consequente criação de 17 mil empregos. A preocupação com a sustentabilidade é transversal a todos os intervenientes.
“Não se trata apenas de licenciamento de projetos avulsos, mas sim de projetos integrados num plano de uma nova centralidade da cidade. Com valências próprias de habitação, empresas, equipamentos e a própria faculdade”, afirma Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada. A autarquia quer antecipar a revisão do plano diretor municipal (PDM) e já pediu à CCDR autorização para aplicar normas provisórias na zona abrangida até que o PDM seja revisto. Em infraestruturas e reabilitação, prevê investir €7 milhões.
Âncora na universidade
O plano urbanístico que visa tornar o campus um grande parque urbano aberto à comunidade foi entregue ao arquiteto João Pedro Falcão de Campos. Abrange uma área de 32 hectares e inclui 180 mil m2 de espaços verdes.
“Com 60 hectares, dos quais apenas 12 estão ocupados, somos os maiores proprietários da zona. Os investidores privados vão desenvolver mais 60 hectares”, adianta Ferreira Machado, salientando que o projeto se desenvolve em círculos concêntricos. Além da área, a “massa cinzenta” reforça o peso da Nova. No Monte da Caparica estão 1500 professores, 8500 alunos, 16 centros de investigação e uma incubadora de empresas, que trabalham em áreas reconhecidas internacionalmente como a engenharia química a física aplicada, nanotecnologias ou inteligência artificial, entre outras. “É a maior concentração de engenheiros e de espaço livre do país. Pretende-se atrair investimento para o qual o conhecimento seja importante” diz o responsável pela equipa, a mesma que fez o campus de Carcavelos e que captou €50 milhões em fundos privados.
O investimento na fase inicial está estimado em cerca de €30 milhões nas cinco iniciativas que estão em curso, adianta o vice-reitor. Neste âmbito, surge o desenvolvimento da primeira fase do hub de inovação, avaliada em €10 milhões e que será o centro de uma área empresarial que poderá chegar aos 15 hectares. “Vamos testar o mercado”, diz, acrescentando que o objetivo é atrair também grandes empresas nacionais e internacionais de base tecnológica. A construção de um pavilhão desportivo aberto a todos os cidadãos, um pequeno centro de congressos, uma residência para estudantes com até 600 quartos e a criação de uma zona comercial estão também em curso. “O concurso público para a zona comercial será aberto até ao final de março e prevê um investimento de €10 milhões”, adianta. Até ao final do primeiro semestre arranca o processo da residência para estudantes que será também feita em regime de parceria com privados.
“O segundo grande projeto é a eficiência energética”, acrescenta. Para tal, a Universidade Nova vai candidatar ao Plano de Recuperação Resiliência a reabilitação dos 27 edifícios da Faculdade de Ciências e Tecnologia — em que os mais antigos têm 40 anos — para subir de ‘C’ para ‘A’ a classificação energética. Ao mesmo tempo, vai ser construída uma central fotovoltaica com 8000 m2 e 1 GW de potência para fornecer 25% da energia consumida na faculdade.
Turismo e habitação
O Distrito de Inovação inclui também uma componente de reabilitação urbana no centro histórico do Monte da Caparica e da frente ribeirinha de Porto Brandão.
Nesta zona, um dos principais projetos inclui a reabilitação de parte dos terrenos ocupados pelos antigos depósitos da Galp. “Pretendemos transformar um terreno industrial antigo, não utilizado, com cerca de 300 mil m2, num empreendimento misto com uma vertente turística e uma componente residencial”, adianta Marcellino Graf. Segundo o diretor executivo da Southshore, uma das signatárias do Distrito de Inovação, o plano prevê um investimento total superior a €500 milhões num espaço de sete a dez anos e será financiado com fundos próprios da promotora imobiliária.
O Lazareto ou Asilo 28 de maio, onde outrora ficavam em quarentena os viajantes que aportassem em Lisboa, vai ser reconvertido num empreendimento turístico. O projeto é da empresária de origem taiwanesa Ming Chu Hsu, dona da promotora Reformosa, e já está em análise na CCDR. Inês de Medeiros adianta que esta reabilitação permitirá finalmente o acesso à Torre Velha. Único monumento nacional do concelho, esta antiga fortaleza situada em frente à Torre de Belém, mas anterior em termos de construção, deverá ser recuperada ao abrigo do programa Revive.
“O objetivo não é criar nem um dormitório nem um oásis turístico, mas sim um espaço urbano que articula qualidade de vida e a complementaridade em termos de habitação, serviços e equipamentos”, salienta Inês de Medeiros.
A TER EM CONTA
Novo campus da Nova
O total de investimento previsto a dez anos pela Universidade é de €180 milhões, a que acrescem €80 milhões para recuperação do edificado. A área total é de 32 ha, com 180 mil m2 de espaços verdes. Criação de até 5 mil postos de trabalho na zona empresarial.
Impacto
O Distrito de Inovação integra 399 ha de intervenção, num misto de usos: 110 ha de zonas verdes, 250 mil m2 de atividades económicas, 86 mil m2 de infraestruturas turísticas, 4500 novos habitantes, 1000 novos fogos e 1500 novas camas.
Investimento
Os projetos dos signatários ultrapassam os €800 milhões e a criação de 17 mil empregos. Valor não inclui investimentos públicos, como a extensão da linha de metro à Caparica, inscrita do PNI 2030.
Signatários
A Universidade Nova lidera o projeto que integra ainda a Cordialequation, Rustik Puzzle (Southshore Investments), a Sostate, a Maia e Pereira, a Egas Moniz Cooperativa de Ensino Superior, a Emerging Ocean e a Rio Capital.
Sustentabilidade
O projeto visa criar uma comunidade energética, com produção própria, sustentável e neutra em carbono, equilibrar os usos do solo. Pretende estruturar o desenvolvimento urbano em torno dos parques verdes, introduzir modos de mobilidade suave e integrar métodos e soluções construtivas ecológicas e sustentáveis.
Internacionalização
O objetivo é atrair instituições âncora e empresas (internacionais e nacionais) e desenvolver um cluster de ciência e inovação.