“Estamos mesmo em condições invejáveis de sermos um grande produtor de hidrogénio verde”, assegurou o ministro do ambiente e da ação climática, João Pedro Matos Fernandes, no terceiro de quatro debates que o Expresso está a dinamizar com a Deloitte sobre o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
“Estamos em condições invejáveis para alterarmos um pressuposto que parecia um axioma no qual nunca poderíamos mexer: transformar Portugal, um país altamente dependente do exterior em termos energéticos, num país que pode, afinal, exportar energia”, disse o governante no evento de 5 de março dedicado aos €2888 milhões de subsídios europeus que Portugal terá para apoiar a transição climática.
O PRR prevê €371 milhões só para investir no hidrogénio e energias renováveis. Uma aposta que deverá impulsionar o crescimento económico e o emprego por via do desenvolvimento de novas indústrias e serviços, bem como reduzir a dependência energética nacional.
“Ainda somos um país altamente dependente do exterior. Mais de 80% da energia vem de fora”, disse o ministro do ambiente, aludindo ao petróleo ou ao carvão. “Já tivemos, não há muitos anos atrás, cerca de 82%/83% da energia consumida a ser importada. E hoje estamos na casa dos 74%”.
Mas “mesmo produzindo 80% da eletricidade que consumiremos em 2030 por via de fontes renováveis, a nossa dependência energética do exterior andará à volta dos 60%/61%”, alerta o governante. Porque o desafio energético vai além do que o sector elétrico consegue produzir, o PRR aposta, sobretudo, na eficiência energética e redução das emissões de carbono dos transportes, indústria e habitação dos portugueses.
Novo modelo económico
“Não quero ser catastrofista, mas as condições de vida que estamos a criar no planeta são insustentáveis para a nossa própria espécie”, alertou o ministro do ambiente sobre o imperativo de todos transitarem para um modelo económico mais sustentável em termos de energia e de consumo de materiais.
“Andamos há 30 anos a dizer uma coisa que me parece uma verdade questionável – que temos de salvar o planeta. Não se preocupem com o planeta. O planeta vai continuar a girar sobre si próprio e a andar à volta do sol e outras espécies se adaptarão ao planeta com condições climáticas completamente diferentes ou piores ainda do que as que temos hoje. Nós é que não nos aguentamos”, acrescentou João Pedro Matos Fernandes.
Sérgio Oliveira, Partner e ReStart Center for Business Leader da Deloitte, identificou as quatro apostas do PRR além do hidrogénio e renováveis.
“A mobilidade sustentável vai contar com €1032 milhões em subvenções e €300 milhões em empréstimos. Pretende dar um forte contributo para a melhoria dos sistemas de transporte públicos coletivos, destacando-se os investimentos na expansão das redes de metro de Lisboa e do Porto”, disse Sérgio Oliveira.
“Em segundo lugar, temos a descarbonização da indústria, com uma dotação de €715 milhões em subvenções. Visa alavancar a descarbonização do sector industrial e empresarial e promover uma mudança de paradigma na utilização dos recursos, de modo a contribuir para acelerar a transição para uma economia neutra em carbono”, acrescentou
“A eficiência energética em edifícios – com uma dotação de €620 milhões em subvenções – privilegiará a reabilitação e o aumento da eficiência energética, mediante o fomento de uma progressiva eletrificação, uso de equipamentos mais eficientes e o combate à pobreza energética”, destacou o partner da Deloitte.
Já a “bioeconomia sustentável - com uma dotação mais baixa de €150 milhões em subvenções - pretende acelerar a produção de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos”. É o caso das iniciativas piloto previstas para o têxtil e vestuário, calçado ou resina natural, rematou o especialista.
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