O ex-presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e responsável pelo estudo de avaliação ambiental estratégica da construção de um aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, cuja Declaração de Impacte Ambiental, caducou a 9 de dezembro, Carlos Matias Ramos, é um forte crítico da opção de construção de um aeroporto no Montijo. Levanta dúvidas e pede esclarecimentos adicionais sobre os números apontados na semana passada por José Luís Arnaut, presidente do conselho de administração da ANA, onde este diz que construir um aeroporto em Alcochete teria um custo equivalente a 15 hospitais, mais 7 mil milhões de euros.
Matias Ramos assegura que não é verdade, e aponta para valores muito diferentes: 1,9 mil milhões de euros, segundo cálculos do plano diretor de 2009 da própria concessionária. O ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, admite que este montante pode subir ligeiramente se for atualizado aos valores de 2021, mas que ajuste será inferior a 10%.
De acordo com o Master Plan (Plano Diretor) do aeroporto de Lisboa, de 2009, citado por Matias Ramos, o custo total da construção base do Novo Aeroporto de Lisboa (NAU) no Campo de Tiro de Alcochete, com duas pistas e 100 movimentos por hora, no "open day" seria de 1,9 mil milhões de euros. Matias Ramos, membro da Plataforma Cívica Aeroporto BA& - Montijo Não", salienta que este investimento de 1,9 mil milhões, corresponde a um aeroporto com duas pistas, e não com uma como, como será o do Montijo. E diz que nesse sentido, as duas infraestruturas nem sequer são comparáveis.
"O Montijo só pode ter uma pista e com um comprimento insuficiente para receber todo o tipo de aviões. Não se conhecem nem foram divulgados os documentos (estudos e projetos) que definam, justificando, os custos e prazos de execução da solução Montijo", frisa o ex-presidente da Ordem dos Engenheiros. E sublinha que o Montijo "impõe que, mesmo como aumento previsto da pista fica restrita a aeronaves narrow body de médio curso, ou seja, a aviões da Classe C (Airbus A320) não podendo receber os de classe superior tais como o A380"
E não se fica por aqui na caraterização do Montijo. "Após o prolongamento de 390 metros (m), sendo 300m para Sul e 90m para Norte, a pista do Montijo terá cerca de 2580 m, enquanto o comprimento da pista da Portela é de cerca de 3800", explica. Chama ainda a atenção "para o facto de estes 300m corresponderem a cerca de três campos de futebol e terem de ser construídos em aterro sobre uma camada de lodos com a espessura da ordem de 4m (poderá haver outra solução). O leito rochoso situa-se à profundidade de 24m. A altura do aterro nesta zona será de cerca de 10m até ao leito. Os engenheiros civis sabem das dificuldades na execução deste aterro e do tempo necessário para a sua consolidação". Sintetiza: "É fácil concluir que praticamente pouco se aproveita da plataforma e respetiva pista existentes na BA6".
ANA defende Montijo e diz que Alcochete faz disparar preço. Matias Ramos levanta dúvidas
A concessionária dos aeroportos portugueses, a ANA; defende que Montijo é a melhor, a mais rápida e a opção mais barata e que onera menos o contribuinte. No Governo, incluindo o primeiro-ministro, a opção preferida é, ao que tudo indica o Montijo - Costa já disse várias vezes que não há plano B -, não só porque o processo está mais adiantado, como pelas condições de infraestruturas já existentes. Contudo, tanto governo como a ANA asseguram que irão aceitar a decisão que sair da avaliação estratégica.
José Luís Arnaut, presidente do conselho de administração da ANA, diz que a concessionária detida pela francesa Vinci, explica-se. "A ANA estará cá para colaborar com a decisão que o governo vier a adotar. Os portugueses é que têm de saber se querem uma solução que não onere os contribuintes e que seja rápida, o Montijo. Ou se querem optar por uma solução que terá um custo para o país equivalente a 15 hospitais", afirmou ao Expresso.
Arnaut explicou que se a opção for a que está prevista, o investimento rondará os 800 milhões de euros e será financiado pela ANA inicialmente, e depois com taxas cobradas às companhias. Se Alcochete for a opção escolhida o investimento rondará os 7 mil milhões e demorará em vez de três anos, dez anos a ser construída.
Mas o presidente da ANA, e advogado, não explica como chega a valores superiores a 7 mil milhões. Montantes que o antigo presidente do LNEC apela a que sejam esclarecidos. Matias Ramos salienta ainda que "não se entende como é que o NAL em 2009 era obrigado a suportar os encargos com essa construção, sendo que no Montijo será o Estado a suportar os custos das acessibilidade".
E acrescenta: "Como é que é possível o presidente da ANA afirmar que Alcochete custaria entre 7 e 8 mil milhões de euros e que esse valor era equivalente ao custo de 15 hospitais. Estes números estão a surgir como cogumelos em vários media. A mentira pode repetir-se até à exaustão, mas a verdade terá de a eliminar".
Para efeitos de comparação, Matias Ramos aponta como exemplo a Ponte Vasco da Gama, com seis vias de circulação e mais de 15km, concessionada em parceria pública e privada à VINCI, e que custou 700 milhões de euros. Praticamente tanto quanto Arnaut diz que poderá custar o aeroporto no Montijo, juntamente com as obras de melhoria a fazer no Humberto Delgado.
Matias Ramos diz ainda que não acredita que o Montijo possa ser construído em 2 a 3 anos. "A construção deste aeroporto não poderá ser feita num prazo inferior a 4 anos", afirma. E acrescenta: a certificação durará pelo menos um ano adicional.
"O aeroporto no CTA, sem as dificuldades construtivas do Montijo, porque se localiza num terreno sensivelmente plano, sem obstáculos para a sua construção, e com boa capacidade de carga, poderá demorar cerca de 5 anos (ver Relatório do LNEC). Estamos a falar da solução com duas pistas. Se se considerar a solução com construção faseada em que a 1ª fase tem apenas uma pista é fácil de perceber que os custos quanto muito são análogos aos do Montijo e o prazo de construção poderá ser inferior", acrescenta.