Efacec: Governo vê concurso anulado na Noruega "com muita preocupação"
Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que aguarda esclarecimentos do Governo de Oslo.
Ministério dos Negócios Estrangeiros diz que aguarda esclarecimentos do Governo de Oslo.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) pediu esclarecimentos ao Governo de Olso por causa da anulação recente de um concurso de 21 milhões de euros ganho pela Efacec na Noruega para a construção de uma central de biogás.
"O MNE acompanha esta situação com muita preocupação, não apenas pelo que um eventual afastamento do contrato significa do ponto de vista financeiro para a Efacec, mas também pelo dano reputacional que a situação está a provocar numa empresa líder de mercado, com um historial de muito sucesso nos mercados nórdicos", pode ler-se numa resposta enviada por fonte oficial do MNE à Lusa, acerca da anulação de um concurso ganho pela Efacec na Noruega.
De acordo com a mesma fonte oficial, "uma vez tomado conhecimento da situação, foram imediatamente desencadeados contactos diplomáticos e políticos, tanto em Lisboa como em Oslo, no sentido de assegurar a capacidade da empresa para honrar o caderno de encargos do referido concurso".
"Aguardamos por esclarecimentos da parte do Governo norueguês", refere ainda fonte oficial do Palácio das Necessidades.
No dia 2 de fevereiro, a Efacec viu anulado um concurso de 21 milhões de euros que tinha ganhado na Noruega para a construção de uma central de biogás, uma decisão que a empresa portuguesa "não compreende", segundo uma resposta enviada à Lusa.
Em dezembro, a Lusa noticiou que a empresa norueguesa Cambi, concorrente da Efacec no concurso, contestou-o devido às anteriores ligações acionistas à empresária Isabel dos Santos.
Esta quarta-feira, o ministério liderado por Augusto Santos Silva afirma que "a Efacec é uma empresa de enorme relevância estratégica para a economia nacional", e que a intervenção do Estado na empresa (atualmente é acionista de 71,73% do capital social) "tem como principal objetivo garantir o seu valor financeiro e operacional, permitindo a salvaguarda dos postos de trabalho, da valia industrial, do conhecimento técnico e da excelência em áreas estratégicas, assim assegurando a prossecução do interesse público".
"O nível de comprometimento do Governo para com o sucesso da Efacec não pode ser colocado em causa", reafirma a resposta do MNE.
Aquando da notícia da anulação do concurso, a empresa portuguesa realçou que "não deixa de ser estranho, igualmente, o facto da queixa da empresa concorrente da Efacec, que originou esta situação, ter sido desestimada pela entidade reguladora dos concursos públicos norueguesa -- KOFA -- e mais ainda pelo facto de a NRA (empresa pública norueguesa em causa) ter defendido a escolha da Efacec publicamente".
A empresa afirmou que "cumpriu com todos os requisitos solicitados na fase de concurso pela NRA e pelos seus consultores independentes, tendo sido selecionada com base na sua experiência e competitividade".
A Efacec afirma ainda que se encontra "a analisar todas as opções legais para recorrer desta decisão, que não compreende e que não aceita", acrescentando que defenderá a sua reputação "até às últimas consequências, pelo respeito por todos os seus colaboradores, parceiros, clientes, fornecedores e acionistas".
De acordo com declarações do diretor-geral da Nedre Romerike Avløpsselskap (NRA), Thomes Trømborg, ao jornal norueguês E24, a Efacec foi desqualificada porque já não cumpria os requisitos de "solidez financeira".
"Depois de grandes adjudicações, é sempre feito um acompanhamento na forma de garantia de qualidade, onde é pedida e avaliada informação atualizada acerca do forncecedor", disse o responsável ao E24.
Em dezembro, a NRA anunciou que pretendia "acordar com a portuguesa Efacec a construção de uma central de biogás orientada para o futuro", localizada no município de Lillestrøm, a cerca de 20 quilómetros da capital Oslo.
De acordo com uma reportagem publicada então no jornal norueguês E24, a oferta da Efacec foi 140 e 162 milhões de coroas norueguesas (cerca de 13,3 e 15,4 milhões de euros, respetivamente) mais baixa do que a das concorrentes, entre as quais a Cambi.
Segundo documentação a que a Lusa teve acesso, a Cambi apresentou queixas junto da NRA e um recurso junto do Conselho de Recursos de Contratos Públicos norueguês (KOFA), devido ao facto da anterior acionista maioritária da Efacec ser a empresária Isabel dos Santos, e também devido ao preço.
Na queixa formal perante o Conselho de Recursos de Contratos Públicos (KOFA), a empresa perdedora do concurso defende que "a Efacec nunca deveria ter sido pré-qualificada para o concurso" devido à posição acionista de Isabel dos Santos e ao facto de Mário Leite da Silva, considerado 'braço-direito' da empresária e cujo nome também está envolvido nos 'Luanda Leaks', ter sido o presidente do Conselho de Administração da empresa.
Em resposta à Cambi, a advogada Marianne Dragsten, que representa a contratante do projeto NRA, referiu então que "não há base suficiente para acionar o direito à rejeição da Efacec como resultado de alegações de corrupção contra Isabel dos Santos".
No entanto, em fevereiro, a NRA acabou por cancelar o concurso.
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