Economia

RTP procura nova administração mas quem escolhe admite que salários não são atrativos

RTP procura nova administração mas quem escolhe admite que salários não são atrativos

Conselho Geral Independente, que seleciona a administração da RTP, considera que os estatutos não preveem representação dos funcionários, contra a posição da comissão de trabalhadores

RTP procura nova administração mas quem escolhe admite que salários não são atrativos

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A RTP continua à procura de um novo Conselho de Administração (CA), mas o Conselho Geral Independente (CGI), que está incumbido dessa tarefa, diz que há um problema na captação do interesse dos melhores gestores: o salário.

“A remuneração dos membros do CA não é especialmente atrativa no mundo empresarial português”, declarou José Vieira de Andrade, o presidente do CGI, em audição na comissão parlamentar de Cultura, esta terça-feira.

Na RTP, por estarem sob o estatuto de gestor público, os membros do CA têm as remunerações indexadas às do primeiro-ministro, a que se podem somar despesas de remuneração de 40% do salário. Em 2019, Gonçalo Reis auferiu um salário de 5.437 euros, acrescido de 2.175 euros em despesas. Os vogais (Hugo Figueiredo e Ana Dias) ganharam 4.349 euros, mais despesas de representação de 1.740. São valores brutos, ainda sujeitos a IRS.

Estas amarras limitam a capacidade de contratação, segundo o líder do CGI. Como o Expresso já deu conta, foi lançado um processo de recrutamento em que os interessados em liderar a RTP podiam candidatar-se em duplas (presidente e vogal). Vieira de Andrade justificou o processo como uma “consulta ao mercado”, para que pudessem ser recebidos currículos e projetos estratégicos para a RTP, sendo que a empresa de recrutamento Boyden, que está a assessorar, também podia fazer “uma procura ativa no mercado, para convencer os melhores a manifestarem esse interesse”.

A realização de um concurso formal seria “demasiado demorado e litigioso”, justificou o presidente do CGI. Além disso, “os melhores candidatos, porventura, estarão empregados e teriam alguma dificuldade em apresentar-se num concurso público”. As candidaturas no processo informal que avançou podem ser entregues até dia 23 de fevereiro e o que “o CGI vai fazer é escolher a equipa com base num projeto estratégico”.

Após escolher a dupla, o CGI irá proceder à seleção de um terceiro elemento, que ficará responsável pelo pelouro financeiro, sendo que, neste caso, o Governo, mais propriamente o ministro das Finanças, João Leão, tem de dar o seu parecer prévio.

CGI não vê trabalhadores na administração

Já sobre a pretensão da comissão de trabalhadores de ter um representante na administração, o presidente do CGI diz que não está previsto. Segundo José Vieira de Andrade, catedrático de direito, a Constituição abre a porta à presença de trabalhadores nas empresas públicas, bem como o Código do Trabalho, mas os estatutos da RTP não preveem essa possibilidade.

“Os estatutos da RTP, aprovados por lei da Assembleia da República, determinam que o Conselho de Administração é composto por três membros, todos executivos, e que os trabalhadores estão representados no Conselho de Opinião”, disse aos deputados.

Apesar desta posição do CGI, a comissão de trabalhadores da RTP agendou para dia 24 de fevereiro a eleição não só de um representante do conselho de opinião como também de um outro para o CA. E, segundo já noticiou o “Correio da Manhã”, admitem uma batalha jurídica para que a pretensão seja satisfeita.

É mais um impasse na RTP, que neste momento vive uma guerra entre o CA e o conselho de opinião por discordância em relação ao nome (e ao processo de seleção) do próximo provedor do telespectador.

Tudo quando se prepara o novo contrato de concessão de serviço público de rádio e televisão e quando há 37 cargos na RTP em mudança de mãos. São eles os três da administração, os dois provedores e ainda os 32 elementos do conselho de opinião.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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