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Preço da eletricidade prossegue escalada e atinge máximo de quatro anos

Preço da eletricidade prossegue escalada e atinge máximo de quatro anos
Getty Images

Elétricas em Portugal e Espanha venderão ainda mais cara a energia das suas barragens e centrais a gás esta quinta-feira, que será um dos dias mais caros da última década, com o preço de mercado a ultrapassar durante várias horas o valor médio da remuneração garantida às eólicas

Preço da eletricidade prossegue escalada e atinge máximo de quatro anos

Miguel Prado

Editor de Economia

O preço diário da eletricidade no mercado ibérico (Mibel) continua esta quarta-feira a sua escalada, tendo os preços negociados para quinta-feira alcançado um novo pico, apenas superado por outro dia especialmente caro registado há quatro anos, em janeiro de 2017.

Os contratos do Mibel no seu mercado diário, o Omie, registam para 7 de janeiro um preço médio de 88,93 euros por megawatt hora (MWh), sendo preciso recuar aos 91,91 euros por MWh de 25 de janeiro de 2017 para encontrar uma média diária mais elevada.

A escalada, de que o Expresso já deu conta esta terça-feira, acontece depois de 2020 ter fechado como o ano mais barato de sempre no Mibel, com um preço médio anual de apenas 34 euros por MWh, embora com os meses de novembro e dezembro bem acima dessa referência.

Mas esta primeira semana de janeiro está a ser particularmente acidentada nos contratos do mercado diário, sobretudo pelo efeito da escassez de recurso eólico, o que abre espaço para mais energia das centrais com capacidade firme, como as barragens com armazenagem em albufeira e as centrais termoelétricas a gás natural.

Com a maior parte da energia a vir das barragens e das termoelétricas, acabam por ser estes produtores a marcar o preço grossista da eletricidade, atirando-o para níveis pouco habituais (embora não sendo inéditos).

O disparo no preço pode ser explicado por vários fatores. Por um lado, a vaga de frio faz aumentar o consumo de eletricidade, e com menos eólica para suprir essa procura, o valor das restantes soluções de produção de energia aumenta.

Mas não só os produtores de eletricidade valorizam mais o recurso hídrico que têm nas suas barragens, como também cobram mais caro pela eletricidade das suas centrais de ciclo combinado a gás natural, que têm vindo a sofrer nos últimos dias um agravamento de vários custos, quer o do gás natural propriamente dito, quer o das licenças de emissão de dióxido de carbono.

Além disso, França está também a ser um mercado importador de energia, sem capacidade para exportar para a Península Ibérica a sua eletricidade, que durante boa parte do ano tem preços especialmente competitivos devido ao elevado peso da geração das centrais nucleares.

A escalada de preço levará o custo de cada MWh nesta quinta-feira a atingir um pico de 108,97 euros às 20h, sendo que entre as 11h e as 15h a eletricidade será remunerada sempre a 100 euros por MWh. O preço horário mínimo para esta quinta-feira acontecerá de madrugada, às 5h, com 58 euros por MWh.

Curiosamente, ter um elevado volume de eletricidade remunerado a 100 euros ou mais por MWh significa que durante essas horas esta produção em mercado sairá mais cara ao sistema elétrico (e indiretamente ao consumidor) do que a produção eólica que ainda subsista e que é conotada com rendas excessivas e subsidiadas: na previsão do regulador da energia, os parques eólicos terão em 2021 uma remuneração garantida média de cerca de 83 euros por MWh.

Do histórico de preços do Omie que o Expresso consultou, além de o preço médio desta quinta-feira ser um máximo de quatro anos, é também um dos mais altos preços diários da última década. Nos registos que o Omie disponibiliza para os últimos oito anos é possível verificar picos de 93,11 euros no dia 8 de dezembro de 2013, de 91,91 euros a 25 de janeiro de 2017 e, agora, 88,93 euros a 7 de janeiro de 2021.

O mercado grossista diário não tem reflexo direto na generalidade dos consumidores de eletricidade, mas mexe com os custos de aquisição de energia dos comercializadores, que têm de ir ao Omie adquirir eletricidade para completar as suas necessidades face aos volumes que previamente adquiriram em contratos futuros (mensais, trimestrais ou anuais) para entregar aos seus clientes.

Como as carteiras de clientes dos comercializadores vão aumentando e diminuindo, e a energia por estes consumida também é variável, as empresas de comercialização têm de ajustar os volumes de energia no mercado diário, estando por isso expostas a esta volatilidade de preços. Grupos de energia verticalmente integrados terão tendencialmente maior capacidade para resistir a esta volatilidade, equilibrando as variações nos seus negócios de produção com as da área de venda ao cliente final. Empresas que operem exclusivamente na comercialização poderão, dependendo da solidez do seu balanço, estar mais vulneráveis a estas oscilações acentuadas do preço grossista.

O mercado de futuros do Mibel, o Omip, tem os seus contratos para a segunda semana de janeiro também em alta. Os contratos de eletricidade para essa segunda semana estavam terça-feira a ser negociados a 64 euros por MWh, quando uma semana antes eram transacionados a 55 euros por MWh.

Mas os preços para os meses seguintes já são mais moderados. Os futuros de eletricidade para fevereiro estão a ser negociados a 55 euros por MWh, os de março e abril a 46 euros e os de maio a 45 euros por MWh.

A evolução dos preços diários e em prazos mais longos será importante para determinar a capacidade dos comercializadores de eletricidade de atualizar os seus tarifários e de lançar (ou não) campanhas mais agressivas de conquista de clientes, depois de a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) ter aprovado para 2021 uma descida das tarifas reguladas de 0,6%.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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