Economia

Novo Banco põe 40 pessoas a trabalhar para comissão de inquérito (numa equipa cujo nome lembra quando Costa e Centeno anunciaram venda)

António Ramalho, presidente do Novo Banco
António Ramalho, presidente do Novo Banco
TIAGO MIRANDA

Equipa será liderada pelo CEO, António Ramalho, e acredita que terá mais de um milhão de páginas para entregar tanto à comissão de inquérito como ao Tribunal de Contas e à Deloitte. Custo estimado é de 3,25 milhões de euros

Novo Banco põe 40 pessoas a trabalhar para comissão de inquérito (numa equipa cujo nome lembra quando Costa e Centeno anunciaram venda)

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Novo Banco criou uma equipa que vai ficar responsável por dar resposta às solicitações da comissão parlamentar de inquérito à instituição financeira, que recentemente tomou posse, bem como das auditorias a cargo do Tribunal de Contas e da Deloitte, anunciou o banco em comunicado às redações. A equipa chama-se “projeto 31 de março”, data até à qual espera ter respondido a todas os pedidos. Foi precisamente nesse dia, em 2017, que António Costa e Mário Centeno anunciaram a venda do Novo Banco à Lone Star, agora em averiguação no Parlamento.

31 de Março? Quando Costa e Centeno anunciaram venda

O grupo composto por 40 pessoas intitula-se “Projeto 31 de Março”: “surge para dar resposta ao fluxo de documentação que se espera vir a ser solicitado, com o objetivo de assegurar a entrega atempada de todos os pedidos, quer à CPI, quer à auditoria especial pedida pela Assembleia da República - a cargo da auditora Deloitte - quer ao Fundo de Resolução e ao Tribunal de Contas, para evitar qualquer atraso à data de 31 de março, e assim permitir o cumprimento dos contratos e compromissos internacionais para a capitalização do banco”.

O Novo Banco espera conseguir responder aos pedidos (sabe-se, por exemplo, que os partidos da comissão de inquérito pretendem ter acesso à listagem de créditos e imóveis vendidos nos últimos anos, e também à correspondência trocada com outras entidades, como Banco de Portugal e Fundo de Resolução) até aquela data.

Mas esta data também recorda o momento em que o primeiro-ministro se cruzou com o dossiê Novo Banco.

A 31 de março de 2017, realizou-se a conferência de imprensa em que António Costa e Mário Centeno anunciaram o acordo de venda de 75% do capital do Novo Banco à Lone Star, garantindo que a solução não teria impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes. Acabou por não verdade, com os contribuintes a terem de suportar, em primeiro lugar, os custos com o Novo Banco, até que, em 2046, sejam reembolsados pelo Fundo de Resolução e pela banca. Desde a venda, o Fundo de Resolução colocou 3 mil milhões no banco, 2,1 mil milhões de empréstimos dos cofres públicos.

Mário Centeno e António Costa, a 31 de março de 2017, quando anunciaram venda do Novo Banco à Lone Star
MANUEL DE ALMEIDA / Lusa

Injeção em maio

A equipa terá de responder a todas as solicitações, sendo que António Ramalho é um dos nomes que reuniu o consenso de todos os requerimentos dos partidos. Também Mário Centeno consta de todos os requerimentos de audições da comissão de inquérito, sendo que António Costa (que, por ser primeiro-ministro, pode até só responder por escrito aos deputados) não está em nenhum.

Querendo ir assegurando respostas às solicitações até ao fim de março, o Novo Banco antecipa que a partir daí possa já haver respostas de auditorias e da comissão de inquérito (que se estende até abril). Isto porque o banco precisará da capitalização do Fundo de Resolução no início de maio. E os deputados querem respostas do Tribunal de Contas para saber se aprovam a transferência do Fundo, que bloquearam no Orçamento do Estado.

Custos de 3,25 milhões de euros

Esta equipa, agora anunciada, será liderada por Ramalho, que contará com o contributo de três administradores executivos (Mark Bourke, Rui Fontes e Luísa Soares da Silva), sendo que os 40 trabalhadores fazem parte de 12 departamentos.

“O Novo Banco espera que a documentação solicitada pela comissão parlamentar de inquérito e pelas auditorias em causa possam ultrapassar o milhão de páginas e estima um custo superior a 3,25 milhões de euros com esta operação”, assume o comunicado da instituição financeira enviado esta quarta-feira, 30 de dezembro.

A auditoria que a Deloitte realizou em 2020, por conta das perdas do ano passado, custou 3 milhões de euros. Este ano, está a realizar um novo exercício por decorrência da lei, que obriga a auditorias quando há injeções do Estado em bancos.

Novo Banco quer acabar com polémicas

“O Novo Banco acredita que esta sobreposição de auditorias e inquéritos constitui uma oportunidade para encerrar de vez as polémicas artificiais criadas durante o ano de 2020, permitindo divulgar em total transparência os diversos contratos firmados em 2017”, antecipa o Novo Banco.

Segundo o comunicado, “tais documentos darão a conhecer à opinião pública os detalhes do plano de reestruturação que tem vindo a ser cumprido de forma atempada pelo Novo Banco e pela sua liderança”.

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