Mário Centeno disse no Parlamento que, enquanto governador do Banco de Portugal, não vê com bons olhos a decisão do Novo Banco em provisionar uma parcela de praticamente 2 milhões de euros para virem a ser distribuídos, em 2022, como bónus à gestão encabeçada por António Ramalho.
“Atendendo a que em 2020 se registou uma muito significativa injeção de capital no Novo Banco, não vemos como adequada esta prática em 2020”, respondeu Mário Centeno na comissão de Orçamento e Finanças, convocado no âmbito do plano de atividades do Banco de Portugal, mas onde também foi chamado pelo PAN para se pronunciar sobre bónus a pagar no Novo Banco.
Segundo o governador, “os bancos têm de preservar capital”. “Esta medida tem impacto negativo no capital dos bancos”, resumiu Centeno, que acrescentou que, “até ao momento que se possa dar por declarada a ultrapassagem da crise, temos de ter bastante cautela e uma avaliação muito judiciosa das nossas decisões”.
Quando era ministro das Finanças, Centeno já tinha dito que estava ao lado do Fundo de Resolução em relação a este tema, que é contra a atribuição dos prémios. Aliás, o antigo governante declarou que ainda era tempo para recuo no banco, o que não aconteceu.
Em maio, o Fundo de Resolução, que funciona junto do Banco de Portugal e é liderado pelo vice-governador, Luís Máximo dos Santos, tinha-se mostrado contra a atribuição dos prémios (mesmo que eles só fossem pagos em 2022 e mesmo que, até lá, pudessem ser reduzidos ou mesmo eliminados consoante a evolução do banco). “O Fundo de Resolução teve uma posição contrária aos interesses e à visão do Novo Banco sobre esta matéria e fê-lo saber logo que foi conhecida essa decisão do comité de remunerações, e fez refletir essa decisão no valor em que foi feita a injeção de capital”, lembrou Centeno.
Em vez de entregar os 1.037 milhões de euros solicitados pelo banco, por conta das perdas nos ativos tóxicos em 2019, o Fundo de Resolução apenas transferiu 1.035 milhões, descontando aqueles 2 milhões dos prémios.
Apesar destas considerações, Centeno também quis frisar, aos deputados, que o Banco de Portugal quer sempre que trabalhadores e gestores tenham “remunerações compatíveis com as responsabilidades que assumem”. Além disso, sublinhou também que mesmo que os bancos tenham prejuízos podem ter prémios, já que pode haver um “desempenho de excelência”.
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