Economia

No negócio das vacinas ser pequeno importa

No negócio das vacinas ser pequeno importa

Investidores valorizam em 263% o laboratório BioNTech, parceiro da gigante Pfizer, cuja capitalização bolsista subiu ‘apenas’ 26%

O negócio das vacinas para prevenir a covid-19 pode valer 10 mil milhões de dólares (cerca de €8,3 mil milhões, ao câmbio atual) por ano e tem impacto, sobretudo, nos pequenos laboratórios biotecnológicos.

Os investidores também valorizam as grandes companhias farmacêuticas que entraram com sucesso nesta corrida, mas não são os ‘tubarões’ do sector que têm mais a ganhar. A diversidade e o valor elevado de alguns produtos comercializados por laboratórios como a norte-americana Pfizer faz com que o peso das vendas de vacinas para a covid-19 seja residual.

Essa realidade está espelhada na evolução da capitalização bolsista, desde março (mês em que foi declarada a pandemia), da Pfizer e da sua parceira BioNTech — união da qual resultou a vacina que já está a ser administrada no Reino Unido e que aguarda autorização por parte do regulador americano do medicamento (FDA) e da agência europeia (EMEA).

No caso da Pfizer, o valor de mercado aumentou 26%, para quase 232 mil milhões de dólares, enquanto a alemã BioNTech subiu 263%, para um total de 30,12 mil milhões de dólares, por referência ao fecho dos mercados no passado dia 9 de março. Igual diferença é estimada nas previsões de receitas para ambas as firmas em 2021. No caso da Pfizer, antecipam-se vendas na ordem dos €43,9 mil milhões, face aos €41,6 mil milhões do fecho deste ano, quando a BioNTech deverá passar de €431 milhões para quase €5 mil milhões.

Aliás, tal como é previsto para as outras firmas biotecnológicas menores, que igualmente estão na frente das vacinas para o SARS-CoV-2 — Novavax, Moderna e CureVac —, a biotecnológica que se aliou à Pfizer irá passar de prejuízos para lucros (de menos €234 milhões em 2020 para um resultado líquido positivo de €3,1 mil milhões no próximo ano).

Mercados na expectativa

Depois da euforia nos mercados quando a Pfizer e a BioNTech anunciaram, há um mês, que tinham uma vacina eficaz para combater a pandemia e que estava prestes a ser administrada, agora o momento é de expectativa em relação ao processo de imunização das pessoas. Os investidores estão atentos a eventuais percalços na distribuição das vacinas e a obstáculos em termos de acesso, a que se somam outras dúvidas ainda sem resposta sobre a duração da imunização, mas também quanto à inibição de contágio ou em relação aos efeitos secundários (até ao fecho desta edição registaram-se dois casos de choque anafilático no Reino Unido). Tudo isto será tido em conta pelas bolsas.

“Do ponto de vista dos mercados financeiros, o sentimento dos investidores estará condicionado pela evolução dos planos de vacinação (com enfoque nos constrangimentos logísticos), pela duração das vacinas e pela monitorização contínua dos efeitos secundários”, indica Carlos Almeida, diretor de investimentos do Banco Best.

Além disso, Henrique Tomé, analista da XTB, foca que as companhias farmacêuticas podem não registar lucros “tão astronómicos como alguns apontam, uma vez que as margens podem ser limitadas devido aos apoios do Estado (financiamento com dinheiro público) e cooperação com os Governos, que acabam por limitar esses aspetos” — pelo menos enquanto durar a pandemia.

Para Carlos Cruz, sócio da Deloitte e líder do departamento da área das ciências da vida e dos cuidados de saúde, deve-se ainda ter em conta que a pandemia “levou à suspensão de testes clínicos para novos medicamentos, em detrimento do tratamento para a covid-19, inibindo o lançamento de produtos inovadores”. E estes fatores influenciam “as expectativas futuras e consequente valorização das empresas farmacêuticas”, frisa o consultor.

O mercado destas vacinas pode superar os 10 mil milhões de dólares anuais nos países desenvolvidos, segundo contas do Morgan Stanley e do Crédit Suisse baseadas na necessidade de uma toma todos os anos e num custo médio de 20 dólares por dose.

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