Economia

Entrada dos chineses da CCCC na Mota-Engil fica concluída em 2021

A construtora foi a estrela da bolsa esta semana
A construtora foi a estrela da bolsa esta semana
d.r.

O mercado aguarda com expectativa as condições do aumento de capital da Mota-Engil até €100 milhões que serão decididas em janeiro. No fim do processo, a família Mota reduzirá a participação de 65% para 40% e a China Communications China Communications Construction Company (CCCC), a quarta maior empresa mundial, ficará com 30%. O interesse chinês na maior construtora portuguesa levou-os já a pagar o dobro da cotação por uma participação de 23% e originou um volatilidade extrema nas últimas sessões

A compra de 23% do capital da Mota-Engil pela China Communications China Communications Construction Company (CCCC), a quarta maior empresa mundial, dominou a semana na bolsa de Lisboa. A operação feita a €3,08 por ação – cerca do dobro da cotação atual- permitiu um encaixe de €169,4 milhões e conclui a primeira fase do acordo de investimento e parceria estratégica iniciado há 14 meses entre a maior construtora nacional e o gigante chinês.

As atenções viram-se agora para o aumento de capital até €100 milhões que concluirá o processo, com a família Mota a reduzir de 65% para 40% a sua participação e a CCCC a tornar-se acionista de referência com cerca de 30% do capital. Para tal, a Mota-Engil convocou já esta quinta-feira os acionistas para uma assembleia geral extraordinária a 7 de janeiro de 2021 para poder concretizar a operação. A família Mota, através da MGP – Mota Gestão e Participações, acompanha o aumento de capital.

Na AG serão definidas as condições do aumento de capital, nomeadamente o preço de emissão, que deverá ser atrativo para o sucesso da operação”, afirma Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. As últimas sessões em bolsa têm sido pautadas por elevada volatilidade justificada pela subida acentuada da cotação da Mota-Engil, que chegou a disparar 15% a 27 de novembro, a refletir o preço pago pelo gigante chinês, cerca do dobro da cotação da Mota-Engil.

Todavia, esta semana a Mota-Engil corrigiu dos máximos de finais de agosto, aquando do entendimento inicial com a CCCC, apesar dos contratos e encomendas que foram surgindo, especialmente a nível internacional, mas a decisão de deliberar sobre um aumento de capital poderá ter refreado o ímpeto comprador”, acrescenta Paulo Rosa. “O mercado espera agora detalhes sobre as condições do aumento de capital”, salienta.

Se no início da semana, foi conhecido que o preço do aumento de capital poderia ser feito entre os €1,40-€1,60, um reserach do Caixa BI mantém a recomendação de compra e aumenta o preço-alvo de €2,20 para €2,30 perto do final da sessão desta sexta-feira. Os analistas do Caixa BI consideram que a aliança e parceria estratégica assinada com a CCCC “poderá ser decisiva” para a história de investimento da Mota-Engil. “A empresa recebe uma injeção vital de capital numa altura em que opera num contexto difícil, ganhando igualmente acesso a novas fontes de financiamento, experiência e know-how de um dos maiores grupos de infraestruturas a nível mundial”, consideram os analistas.

6 mil milhões de obras em carteira

Depois de anunciar em junho uma carteira de encomendas recorde da ordem dos € 5.491 milhões, a Mota-Engil deverá fechar o ano com um volume de obras em carteira da ordem dos €6 mil milhões. Para tal, concorrem cerca de 1.200 milhões de concursos ganhos nos últimos seis meses, com particular preponderância dos mercados de África (Angola, Moçambique, Costa do Marfim, África do Sul) e da América Latina (sobretudo México e Peru).

Se o contrato de 636 milhões para construção da primeira fase do Tren Maya, no México, ganho em abril, é simultaneamente o maior obtido e o único em que está junta com a CCCC, a Mota-Engil tem somado encomendas no mercado internacional. Como exemplos surgem dois contratos em Moçambique relacionados com o arranque do projeto de gás (€338 milhões em 50/50 com a Besix, e outro de €43 milhões) ou a reabilitação de mais de 300 km da Estrada Nacional 230 em Angola, avaliado em 281 milhões e feito em parceria com a construtora angolana Omatapalo. Na mineração, a empresa ganhou um contrato na África do Sul avaliado em €240 milhões (a oito anos) e três no Peru, no valor de €120 milhões. Ou ainda, a construção de mais um estádio para a Taça das Nações Africanas (CAN2023) ou um mercado coberto, ambos na Costa do Marfim, contratos avaliados em €84 milhões e €44 milhões, respetivamente.

Em Portugal, a empresa ganhou a extensão da Linha do Metro de Lisboa entre Santos e Cais do Sodré (€73,5 milhões ) e a expansão do terminal de Sines, anunciada há duas semanas, por 16,5 milhões. No campo das grandes obras públicas em processo de decisão está o Novo Hospital de Lisboa Oriental e o contrato de ferrovia em Évora-Elvas e aplicação de via em todo o corredor Internacional Sul, onde, em ambos a Mota-Engil disputa com os espanhóis da Sacyr-Somague as duas adjudicações.

Início de 2021 crucial para a empresa

Para já, a concretização do acordo de parceria estratégica só terá o seu desfecho no principio do próximo ano, quando a Mota-Engil comemora os 75 anos de existência. A marcar o início de 2021 estará também o desfecho da saída da Sonangol do capital da Mota-Engil Angola, onde a petrolífera estatal angolana detém 20%, segundo declarações recentes do presidente da empresa, Sebastião Gaspar Martins. Muitos analistas dão como provável que seja a própria Mota-Engil a adquirir esta posição, reforçando dos atuais 51% para 71% a sua participação. Um reforço no país onde iniciou a atividade em 1946, na província de Cabinda.

Por outro lado, dado que o atual plano estratégico da Mota-Engil acaba este ano, é previsível que o documento que o vai substituir começe em breve a ser preparado e reflita já a nova estrutura acionista e as possibilidades de parceria que se abrem com a CCCC.

Vacinas justificam novos máximos esta semana

Perante os recentes anúncios de resultados positivos das vacinas e a aprovação do Reino Unido de uma vacina, o primeiro país a fazê-lo, os investidores mostraram-se confiantes e premiaram esse feito com novos máximos. “As ações europeias tiveram um início de mês positivo e em máximos do início do ano, após os ganhos históricos de novembro, com o otimismo em torno de uma vacina contra o coronavírus a fortalecer a esperança de uma rápida recuperação económica”, afirma Paulo Rosa.

Sobre a evolução da economia dos EUA, o economista sénior do Banco Carregosa nota que o número de norte-americanos que entraram com pedidos de subsídio de desemprego caiu esta semana, todavia permanece consideravelmente elevado e penalizado pelas restrições comerciais generalizadas para desacelerar a vaga crescente de novas infeções por Covid-19. “O declínio maior do que o esperado nos pedidos semanais de subsídio de desemprego foi provavelmente influenciado pelo feriado do Dia de Ação de Graças, que pode ter impactado o modelo que o governo usa para retirar as flutuações sazonais dos dados”, explica.

“O agravamento da pandemia e o pacote de estímulos fiscais, para mitigar os danos causados pelo confinamento, quase esgotado, dificultam a recuperação económica nos EUA, mas não foram suficientes para travar o ímpeto comprador dos investidores animados pelas vacinas”, afirma

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hmartins@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate