Economia

Web Summit. Pai da Web aposta na privacidade. Líder da Huawei recorda milhões investidos na Europa

Tim Berners-Lee, o criador da World Wide Web, numa das edições passadas da Web Summit
Tim Berners-Lee, o criador da World Wide Web, numa das edições passadas da Web Summit
JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA

Lian Hua prometeu continuar a trabalhar com os parceiros que a Huawei tem na Europa, enquanto Tim Berners-Lee vestiu a pele de empresário para promover uma plataforma que disponibiliza informação mas não ameaça a privacidade

Tim Berners Lee, legítimo detentor do título de “sir” depois de ter criado os protocolos World Wide Web que dão forma à Internet dos dias de hoje, está apostado em mudar o panorama da privacidade digital. E é para isso que tem vindo a ajudar a startup Inrupt para o desenvolvimento de uma plataforma conhecida como Solid. Em entrevista realizada esta quarta-feira na Web Summit, o “pai” da Web garante que o tratamento de dados que é proposto por “defeito” (por default, em inglês) pelas grandes plataformas da Internet é o primeiro risco que os internautas têm de aprender a superar.

Quando não fazemos algo, alguém fica com os nossos dados”, diz Tim Berners-Lee sobre a aceitação do tratamento de dados por "default".

Com a Solid, um projeto que Berners Lee já tinha promovido nos últimos anos, a Inrupt pretende expandir uma plataforma que garante uma interoperabilidade que permite que os dados podem ser trabalhados por diferentes ferramentas tecnológicas, e que garante ainda o respeito pela vontade de cada internauta no que toca ao uso que pode ser aplicado aos dados pessoais.

Berners-Lee garante que a plataforma que poderá ser instalada de forma transversal a diferentes aplicações usadas numa empresa poderia ter sido muito útil para criar apps de rastreio de contactos entre infetados pro Covid-19 (em Portugal a app oficial chama-se Stayaway Covid). “Num fim de semana, criei uma app de rastreio da Covid-19”, disse, num exemplo das propaladas mais-valias da Solid quando se trata de fornecer dados ao mesmo tempo que se respeita o uso legal que pode ser dado a essa informação.

Tim Berners-Lee não estava sozinho na entrevista que deu para a Web Summit. Numa das janelas de videoconferência ao lado encontrava-se John Bruce, diretor da Inrupt. Ambos aproveitaram a oportunidade para garantir que é chegada a hora de os internautas decidirem com quem querem partilhar a informação. Ambos responsáveis da Inrupt lembraram que a escolha dos internautas tanto pode limitar a partilha de informação a amigos e colegas, como também pode ser expandida a clientes de um negócio ou até a empresas de maior dimensão.

Mesmo arriscando alguma estranheza dos ouvintes, John Bruce garantiu que o lucro não será a prioridade imediata da Inrupt. E diz que, para já, o foco está centrado na promoção da Solid, que até já fez um primeiro teste bem sucedido com o serviço nacional de saúde britânico. Não podemos fornecer dados, mas podemos garantir o acesso à informação”, refere Bruce, resumindo numa frase a forma de atuação da Solid.

Será que chega para os internautas e as maiores marcas que operam na Internet aderirem à nova plataforma?

Lian Hua, presidente não executivo da Huawei, não participou na entrevista com Tim Berners-Lee John Bruce, mas apontou uma previsão que ajuda a compreender como a gestão de informação vai moldar o cenário económico dos próximos anos. Num discurso realizado no principal canal da Web Summit, o líder da marca de equipamentos de telecomunicações, recordou as estimativas que apontam para que, em 2025, mais de 30% da economia mundial terá por base a digitalização.

Quem esperava que Lian Hua se pronunciasse sobre os processos de interdição de que a Huawei tem sido alvo nos EUA e na Europa vai ter de esperar por uma nova oportunidade.

Hua deu a conhecer as previsões que dão conta de que o 5G deverá chegar a metade da população miundial em 2025, e reforçou a expectativa quanto à revolução tecnológica que virá das ultra elevadas resoluções (4K e 8K) no vídeo, das tecnologias vestíveis (wearables) que extraem informação do corpo humano ou da computação quântica, mas enveredou pelo tom diplomático ao analisar a posição da marca chinesa na Europa.

Lian Hua recordou que a Huawei emprega hoje na Europa mais de 10 mil pessoas e tem um portefólio de projetos de investigação e desenvolvimento avaliado em mil milhões de euros. E fez questão de prometer que iria continuar “a trabalhar com os parceiros locais”, sem se pronunciar sobre os casos em que a marca asiática foi mesmo impedida de trabalhar com os parceiros europeus.

Em contrapartida, a mensagem enviada para fora da Europa incidiu na necessidade de garantir normas e protocolos, a fim de garantir um “mundo conectado”. A digitalização em curso segue dentro de momentos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

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