Economia

Portugueses viram-se de novo para o comércio de proximidade

Portugueses viram-se de novo para o comércio de proximidade
Getty Images

O ressurgimento da economia local e a necessidade de desenvolver cadeias de abastecimento mais próximas é a quarta de seis tendências que pode conhecer ate este sábado com o projeto "Portugal 20/21", que junta o Expresso à Deloitte

Portugueses viram-se de novo para o comércio de proximidade

Tiago Oliveira

Jornalista

Ir às compras foi, durante algumas semanas do confinamento, das únicas atividades que os portugueses podiam fazer fora de casa, e as restrições de mobilidade provocaram um crescimento na afluência aos negócios do comércio local e às superfícies comerciais mais próximas. A pandemia provocou uma grande disrupção nas rotas de comércio internacional e a consequência passou por uma aposta mais concertada nas redes de abastecimento local e na produção dentro de portas para facilitar o consumo.

De acordo com um estudo da Mastercard, realizado em setembro, em 16 países, 82% dos portugueses opta por abastecer a dispensa neste tipo de retalho, superior à média de 74% que se verifica na Europa. Já num trabalho do Oney Bank é possível ver que, também, 82% dos inquiridos em Portugal estão dispostos a privilegiar o critério ‘produção local/nacional’, nas despesas relacionadas com a alimentação.

Para o diretor geral do Auchan Retail Portugal, Pedro Cid, "exemplo disso é a nossa procura constante de soluções que combinem a prevenção de desperdícios alimentares com a conveniência do melhor preço para o consumidor, sem prejuízo da qualidade dos produtos". O movimento para dar mais força à economia local é palpável, associado a uma maior preocupação com o aproveitamento dos recursos e produtos. "Efetuamos uma gestão operacional rigorosa (como o controlo da temperatura dos alimentos) para minimizar qualquer desperdício, assim como apostamos na formação e sensibilização dos colaboradores para esta questão".

Digital local

A pandemia criou a oportunidade para as organizações repensarem as suas cadeias de abastecimento e suas variáveis chave, com foco na minimização do risco de interrupção do fornecimento de produtos. Com as redes globais mais instáveis do que nunca, as empresas optam por alternativas próximas ou locais. Esta tendência é transversal aos diversos sectores, e se é mais visível no retalho alimentar - no qual se prevê um maior foco na promoção de produtos da época para reduzir a necessidade de volumes de importação - o turismo também é um exemplo. Assistiu-se a um crescimento muito acentuado do alojamento rural e unidades mais isoladas e privadas, alimentado essencialmente pela procura doméstica.

Outro sector que se também virou para esta tendência foi a indústria farmacêutica europeia. Se até há uns meses importava em média 80% da sua matéria prima da China e Índia, foi obrigada a encontrar alternativas de sourcing regional, uma tendência que se espera que seja mantida nos próximos anos.

O "comércio eletrónico de proximidade é uma das consequências da pandemia", garante Alexandre Nilo Fonseca. O presidente da ACEPI - Associação da Economia Digital defende "que a experiência dos consumidores vai continuar para além da pandemia" e acrescenta que "muitos comerciantes tradicionais entraram nos marketplaces da internet", como uma solução "para quem não conseguiu ter uma presença direta no imediato". Os dados da associação apontam para que, até ao final de 2020, os portugueses comprem mais de €8 mil milhões online. "Se antes era fora de Portugal, agora uma parte mais significativa é no nosso país", atira.

Conheça as restantes duas tendências até sábado no site do Expresso e também na edição em papel de 31 de outubro

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