Economia

iPhone ou Galaxy: o duelo vai recomeçar

O iPhone 12
O iPhone 12

Hoje é dia de iPhone, com o início do período de encomendas, mas é também o dia certo para analisar o duelo de titãs entre Apple e Samsung. Em Portugal, a Apple vende menos de metade dos telemóveis, mas fatura mais 12 milhões que a grande rival. Galaxy ou iPhone? Descubra o que melhor lhe cabe no bolso

O iPhone pode ter muita tecnologia – mas não terá menos marketing. Os preços da recém-lançada “família iPhone 12” tiram qualquer dúvida. Do iPhone 12 SE até ao iPhone 12 Pro Max os preços vão evoluindo em patamares mais ou menos idênticos aos de uma escada entre os 499 e os 1279 euros. Com estes valores, a Apple não deixou de ser uma marca premium, mas já não tem qualquer prurido em chegar a quase todos os segmentos. Coincidência ou não, sempre foi essa a estratégia da Samsung. O que ajuda a desmontar a ideia dos fãs de que a marca da “maçã” é única e irrepetível. Até porque, em boa parte dos casos, as inovações chegam em primeiro lugar à Samsung ou a outras rivais asiáticas.

“A Samsung e Huawei têm sido mais rápidas no lançamento de funcionalidades, como por exemplo, introduzir melhores câmaras. Mas apesar da velocidade com que são introduzidas, essas funcionalidades só se tornam populares quando a Apple as lança, devido à experiência de utilização”, explica Francisco Jerónimo, vice-presidente da IDC na Europa.

Os números também refletem bem o que separa estas duas gigantes: mesmo quando lança telemóveis mais evoluídos, a Samsung tem dificuldade em roubar quota à rival nos segmentos mais altos. De acordo com dados fornecidos pela IDC, a Apple garante, em Portugal, uma quota de mercado de 83% dos telemóveis vendidos acima dos mil euros.

No segundo trimestre de 2020, com o confinamento e a pandemia a alastrar, as vendas de telemóveis em Portugal caíram em média 15% - mas na Apple cresceram 14%. A nível mundial esse mesmo período refletiu um crescimento de 11% das vendas da Apple e uma queda de 29% da Samsung. Mas há mais números apurados pela IDC: o preço médio de um telemóvel da Samsung vendido em Portugal ronda os 250 euros, mas esse indicador na Apple supera os 692 euros.

José Correia, diretor de produto da Samsung para Portugal e Espanha, aponta os telemóveis dobráveis como uma tendência que veio para ficar

O preço médio ajuda a compreender um aparente contrassenso: Apesar de liderar o segmento com mais de 159 mil telemóveis vendidos no segundo trimestre de 2020, a Samsung não terá faturado muito mais que 40 milhões de euros com a venda de telemóveis em Portugal (sem IVA). Em contrapartida, a Apple, que está em terceiro lugar com mais de 75 mil telemóveis vendidos em Portugal, terá faturado mais de 52,4 milhões de euros (sem IVA).

Mesmo com números que confirmam que o segmentos mais valiosos estão nas mãos da rival, a Samsung mantém a aposta na abrangência da oferta: “O preço conta. E tudo tem de girar à volta dos consumidores. Por isso temos Samsung em todos os segmentos”, explica José Correia, diretor de Produto da Samsung em Portugal e Espanha.

A marca coreana não falha na largueza da oferta, mas por algum motivo sempre lhe faltou o inexplicável brilho da rival californiana. Tendo em conta que a decisão dos consumidores não depende apenas e só da sofisticação tecnológica, a marca sul-coreana teve mesmo de arrepiar caminho no sentido inverso ao da Apple.

Francisco Jerónimo, vicepresidente da IDC, recorda que a Apple por mais de uma vez tirou partido comercial de tendências iniciadas por outras marcas

Enquanto a Apple teve, desde o início, a venda de conteúdos como um dos pilares estratégicos (App Store, Apple TV, iTunes, Apple News), a Samsung só no início de 2020 passou ao ataque de forma mais consistente neste segmento. Além de avançar na integração dos serviços de vídeos da Netflix e de música da Spotify, a gigante asiática anunciou que os compradores da família de telemóveis Galaxy S20 vão beneficiar de quatro meses grátis para o serviço YouTube Premium (que é pago), e ainda o acesso ao jogo Forza Street, que foi desenhado originalmente para a Xbox, da Microsoft.

Para o consumidor, as vantagens são notórias – mas para a Samsung, as parcerias têm um custo. A Samsung tem de encaminhar consumidores para plataformas externas ou, em alternativa, estabelecer parcerias para a partilha de ganhos relativos à captação de consumidores para essas plataformas.

Na Apple, esse problema nunca se pôs. Desde o início, que há a noção de que os telemóveis valem não tanto pelas características técnicas, mas sim por aquilo que se consegue fazer com elas. E essa aposta na independência face às restantes marcas também ficou bem patente quando a Apple passou a produzir os seus próprios processadores (os principais modelos da Samsung recorrem a processadores da americana Qualcomm).

A família Galaxy S20 da Samsung

O facto de ter um sistema operativo próprio – o iOS – também lhe dá muito maior autonomia no controlo de um ecossistema que engloba telemóveis, tablets, boxes de TV ou assistentes digitais, enquanto a Samsung, apesar de das tentativas goradas no passado para criar uma solução própria, continua a depender direta ou indiretamente das decisões que a Google toma em relação ao Android.

“Claro que quem usa iPhone tem dificuldade em passar para telemóveis que correm sistema operativo Android e quem tem Android tem dificuldade em passar para o iPhone… mas há cerca de dois anos, houve gente que saiu da Apple para a Huawei e para a Samsung porque tinham telemóveis com câmaras melhores. Depois disso, a Huawei registou uma perda devido ao facto de ter sido interditada nos Estados Unidos (o que a limitou no acesso ao Android, entre outras coisas). E em 2019, com o lançamento do iPhone 11, a Apple recuperou desse atraso nas câmaras”, explica Francisco Jerónimo.

O iPhone 12

As câmaras são, sem dúvida, o fator mais valorizado pelo consumidor atual, mas na apresentação da “família iPhone 12” a Apple não descurou outros flancos estratégicos da frente de batalha: por mais de uma vez, a equipa liderada pelo diretor executivo Tim Cook enalteceu as virtudes do processador A14 Bionic quando se trata de correr gráficos e algoritmos de inteligência artificial, e não deixou de juntar “ao cabaz” a oferta do jogo League of Legends: Wild Rift. Um detalhe inédito: pela primeira vez num evento da Apple, houve comparações de desempenho com a concorrência. O que é uma evolução face aos intermináveis processos e acusações de abuso de patentes que as duas marcas protagonizaram durante os primeiros tempos de iPhone.

Quem julga que o negócio se limita à venda de telemóveis, pode estar a caminho da desatualização. “Temos feito um grande esforço no ecossistema, com o lançamento de relógios inteligentes ou earbuds (auriculares); e temos tentado responder aos diferentes desafios da pandemia com o lançamento de produtos que promovem hábitos saudáveis e permitem que as pessoas se mantenham sempre conectadas”, explica José Correia.

Power to Play é o nome da estratégia da Samsung que pretende mostrar que a marca está apostada em converter o poderio tecnológico num posicionamento mais seduto para os consumidores: “Já temos grandes capacidades de processamento e taxas de refrescamento de 120 Hz. E somos pioneiros nas redes móveis de quinta geração (5G). O que pode ser fundamental. Se ligarmos a 5G aos jogos passamos a dispor de baixas latências”, acrescenta José Correia.

Com o Galaxy Fold a Samsung aposta forte nos dobráveis

O advento do 5G é especialmente promissor. A Apple apressou-se a introduzir a nova geração das redes móveis em todos os modelos do iPhone 12. E a Samsung já andava a fazer o mesmo antes. Mais uma vez, as previsões da IDC ajudam a perceber o que está em jogo: o ano de 2020 deverá fechar com um total de 1,2 mil milhões de telemóveis vendidos – e 236 milhões dessas máquinas estarão capacitadas para as redes 5G.

Com mais ou menos tecnologia, a concorrência entre as duas marcas vai evoluindo de golpe em contragolpe: a Samsung costuma fazer boa parte dos lançamentos entre o fim do inverno e o início da primavera; e a Apple curiosamente, lançou um telemóvel de gama mais baixa, o iPhone SE, pela mesma altura, que se revelou um sucesso (num só trimestre tornou-se o segundo modelo de iPhone mais vendido em Portugal em plena fase pandémica).

Pode dizer-se que se tratou de uma incursão da Apple no reino da Samsung. Mas o contrário também acontece: a Samsung deixou o atrativo Galaxy S20 FE para setembro (típica data de lançamento do iPhone, apesar de este ano ter passado para outubro) depois de ter lançado os primeiros modelos da família S20 para o mercado em fevereiro. E mais: talvez nem o iPhone 12 Pro Max esteja pronto para um duelo tecnológico com a gama “ultra-premium” dos Galaxy Note 20 e Note 20 Ultra, que apostam no estilete como forma de interação e que, no caso do modelo mais caro, já supera os 1300 euros. E talvez também esteja fora de causa sequer uma comparação entre um iPhone e o Galaxy Fold 2, esse ex-libris tecnológico que tanto pode ser o princípio de um filão especialmente valioso, mas como todas as jogadas de mestre também tem uma probabilidade considerável de se revelar um rotundo tiro ao lado. Ou não fosse este dispositivo um dobrável, que disponibiliza, quando no modo mais compacto, um primeiro ecrã “para o que der e vier” no e-mail e nas notificações de mensagens, entre outras funcionalidades mais imediatas, e que se transforma num pequeno tablet (ou num enorme telemóvel…) quando desdobrado, para dar largas ao divertimento ou à produtividade.

A Samsung está convicta de que este verdadeiro computador de bolso vai acabar por revolucionar o mercado ao introduzir novas ferramentas de trabalho e entretenimento. José Correia admite que os formatos convencionais vão continuar a existir no mercado, mas os dobráveis acabarão por funcionar como principais referências tecológicas. No mercado muito pouco existe de comparável, mas na Samsung ninguém receia o posicionamento solitário. “É esta a função dos líderes: mostrar ao mundo o que está para vir”, conclui José Correia.

O Galaxy S20 Ultra da Samsung

Quatro duelos e um outsider

A Apple entrou em força na era do 5G com quatro modelos de telemóveis: um iPhone 12, um iPhone 12 Mini, um iPhone 12 Pro, e um iPhone Pro Max. Na Samsung é possível, encontrar quatro máquinas que disputam subsegmentos ao milímetro com a “marca da maçã”.

O iPhone 12 “standard” tem duas câmaras de 12 MegaPixeis (MP), um processador A14 Bionic, ecrã OLED de 6,1 polegadas, 4GB de memória RAM, resistência a mergulhos de 6 metros de profundidade durante 30 minutos, e está protegido por um vidro da Corning que é descrito como o mais resistente que alguma vez apareceu no mercado. Para esta máquina, o principal concorrente da Samsung será o Galaxy S20: um telemóvel com ecrã AMOLED de 6,2 polegadas com taxas de refrescamento de 120 Hz a pensar nos jogos e nos vídeos, que tem um processador octacore Snapdragon 865, da Qualcomm, um trio de câmaras com sensores de 12 a 64 MP, que podem gravar a 8K (mas o ecrã reproduz a 4K).

Preços: iPhone 12 a partir de 929 euros; Galaxy S12 a partir de 749 euros.

Neste comparativo, o duelo tem essencialmente por base o preço – até porque são modelos com dimensões diferentes (o Galaxy S20 FE tem mesmo um ecrã maior que o Galaxy S20 “standard”) e eventualmente têm destinatários diferentes. No Galaxy S20 FE, a Samsung faz incidir o esforço tecnológico no ecrã SuperAMOLED de 6,5 polegadas, e na taxa de refrescamento de imagens nos 120 Hz. A memória RAM é de 6GB e processador é um octacore Snapdragon 865, da Qualcomm. Na traseira, tem um trio de câmaras com funcionalidades diferente em termos de focagem e sensores de 8MP a 12MP. Reproduz imagens com definição de 4K.

O iPhone 12 Mini é idêntico ao iPhone 12 “standard” (vide descrição mais acima), exceto numa característica: tem um ecrã de 5,4 polegadas.

O iPhone 12 Pro da Apple

Preços: a partir de 679 euros para Galaxy S20 FE; e a partir de 829 euros para o iPhone 12 Mini

Como o nome indica, o iPhone 12 Pro pretende chegar ao segmento dos utilizadores que estão dispostos a pagar para ter qualidade de imagem e poder computacional. Características técnicas: um ecrã de 6,1 polegadas também protegido com um novo “ceramic shield”, tecnologia Dolby Vision, e trio de câmaras de diferentes focagens e com sensores 12 MP. O processador é o A14 Bionic e a RAM está fixada nos 6GB. Corre vídeos em 4K com 60 diagramas por segundo. Também aguenta mergulhos prolongados na água. Tem nas características distintivas um sensor LIDAR.

Este modelo de iPhone terá como principal concorrente direto na Samsung o Galaxy S20+, comecrã Dynamic AMOLED com 6,7 polegadas, e taxas de refrescamento que podem chegar aos 120Hz; o já referido processador Snapdragon 865; 8GB de RAM; um trio de câmaras traseiras de diferentes focagens e que pode chegar aos 64 MP que grava vídeos em 8K.

Preços: iPhone 12 Pro a partir de 1179 euros; Galaxy S20 Pro a partir de 849 euros.

E agora um duelo a grandes dimensões: O Galaxy S20 Ultra tem a pretensão de ser o “dono do bairro” com um ecrã Dynamic AMOLED de 6,9 polegadas e refrescamentos que podem chegar aos 120 Hz; o já referido processador Snapdragon 865, da Qualcomm, e 12 GB de RAM; um trio de câmaras de diferentes focagens, com sensores de 12 MP, 48MP e 108MP, que filmam em 8K, ou 4K (até 60 diagramas por segundo).

O iPhone 12 Pro Max está apostado em contrariar as pretensões do Galaxy S20 Ultra com um ecrã Super Retina XDR OLED, protegido por Ceramic Shield de 6,7 polegadas, com Dolby Vision, processador A14 Bionic e 6GB de RAM, e um trio de câmaras de diferentes focagens com sensores de 12 MP que filmam a 4K e 60 diagramas por segundo.

Preços: iPhone 12 Pro Max a partir de 1279 euros; para Galaxy S20 a partir de Ultra 1199,90 euros.

A família P40 da Huawei

Para quem prefere um outsider:

Fora deste duelo de gigantes, segue uma proposta de outro gigante: a família P40 da Huawei. São três modelos: P40 e o P40 Pro. Ambos têm RAM de 8GB e processador Octa-Core Kirin 990 5G (da HiSilicon que está associada ao conglomerado Huawei) , trio de câmaras traseiras de diferente focagens com sensores de 8 MP, 16 MP e 50 MP que gravam a 4K com 60 diagramas por segundo. O ecrã é OLED de 6,1 polegadas e corre imagens de 4K a 60 diagramas por segundo. O P40 Pro é maior (6,58 polegadas de ecrã OLED), tem um trio de câmaras traseiras de diferentes focagens com sensores de 12 MP, 40 MP e 50 MP que gravam 4K a 60 diagramas por segundo. Tem um processador octa-core Kirin 990 5G. Nota: ambos os smartphones usam uma versão em código aberto, e eventualmente mais limitada, do sistema operativo Android, devido à interdição comercial imposta pelas autoridades dos EUA.

Preços: P40 a partir de 829 euros; e P40 Pro a partir de 1049 euros.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: senecahugo@gmail.com

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