Cristina Ferreira optou por usar a empresa que criou com o seu pai para tornar-se acionista da Media Capital. A DoCasal Investimentos tem um acordo para ficar com 2,5% da detentora da TVI que atualmente pertencem à Prisa, confirmou a sociedade em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
De acordo com essa informação, a DoCasal Investimentos “celebrou, enquanto compradora, um Shares Sale and Purchase Agreement [acordo de compra e venda] com a Promotora de Informaciones, S.A. e a Vertix, SGPS, S.A., em 4 de setembro de 2020, relativo à aquisição de uma participação qualificada, concretamente para a compra e venda particular de 2.112.830 ações representativas de 2,5% do capital social e direitos de voto da Media Capital”.
Não há qualquer indicação de preço, mas segundo foi noticiado anteriormente a transação terá sido feita a 1,4 milhões de euros, já que o preço por ação terá sido de 0,6763 euros.
Empresa sem vendas
Constituída em setembro de 2018, a DoCasal Investimentos tem dois sócios (Cristina Ferreira, que é também a gerente, e o seu pai, António Ferreira), que aplicaram 5 mil euros no seu capital social. “A prestação de serviços de gestão e consultoria a sociedades, nacionais e estrangeiras, nomeadamente gestão financeira e de processos de controlo orçamental, recursos humanos, serviços de apoio e consultoria administrativa, contabilidade e outros serviços de gestão centralizada e, bem assim, a prestação de todos os serviços conexos, complementares ou acessórios às referidas atividades” é o objeto da empresa, de acordo com o registo no portal de justiça.
Já se sabia que Cristina Ferreira iria tornar-se acionista da dona da TVI, da produtora Plural e da rádio comercial depois de ter abandonado a SIC (do grupo Impresa, detentor do Expresso) para se tornar também administradora não executiva (ainda não oficializada) e diretora de entretenimento e ficção.
A entrada é feita a partir de uma das quatro sociedades de que é gerente, que tem uma atividade praticamente nula. Em 2018, o último ano de que há dados segundo a InformaDB, a DoCasal Investimentos teve um prejuízo de 45 euros, justificado na sua quase totalidade por fornecimentos e serviços externos. A sociedade não tem passivo (qualquer dívida), e tem um ativo, não identificado, de cerca de 50 mil euros.
A transação ainda está dependente da verificação de condições que a podem anular (como a autorização dos credores da Prisa). “Oportunamente e consoante a verificação ou não das referidas condições, este comunicado será complementado, para os devidos efeitos”, ressalva o comunicado.
O anúncio feito pela DoCasal Investimentos à CMVM, através da Media Capital, no mesmo dia em que outros investidores foram fazendo. Manuel José Lemos, de Mirandela, entra diretamente para adquirir 2% da Media Capital, mas no comunicado enviado ao regulador do mercado de capitais não há indicação de qual a estrutura através da qual faz o investimento.
Potenciais donos de 43,5% da TVI confirmados
Mas há mais: o grupo das tintas CIN constituiu há pouco mais de um mês uma sociedade com outros empresários do norte do país, a Zenithodyssey, que tem acordo para ficar com 16% da Media Capital. Já a Triun, liderada por Paulo Gaspar, filho do detentor do grupo Lusiaves, Avelino Gaspar, é dono de 20%. O gestor do grupo têxtil Confetil, Stéphane Rodolphe Piciotto, prepara-se para adquirir 3% da empresa através da Fitas e Essências.
Tendo em conta os comunicados enviados à CMVM até à manhã desta sexta-feira, 11 de setembro, já são conhecidos os contratos promessa de compra e venda relativos a 43,5% do capital da Media Capital que estava nas mãos da Prisa. Todos eles asseguram que ainda há condições suspensivas que podem cancelar o negócio, que se sabe que um delas é a autorização que tem de ser dada por credores da Prisa à sua alienação.
Aliás, o grupo espanhol que edita o El País tinha 64% da Media Capital, e tem acordos para a venda de toda a sua participação, (recebendo 36,8 milhões de euros), pelo que ainda falta conhecer oficialmente os restantes detentores de cerca de 20% da companhia. Aqui entrará o grupo imobiliário IBG através do qual Tony Carreira fará o seu investimento, bem como o músico Pedro Abrunho, como já noticiado.
Com a venda da posição da Prisa, Mário Ferreira torna-se o principal acionista da Media Capital, com 30%, participação que adquiriu em maio por 10,5 milhões de euros, mas recusando exercer o controlo sobre a companhia – um tema que está em investigação, em diferentes vertentes, na CMVM e na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.