O Novo Banco acumulou entre 2014 e 2018 perdas de 178 milhões de euros com as suas participações em quatro fundos de reestruturação, posições essas que foram herdadas do Banco Espírito Santo (BES) e que resultaram de acordos para ceder os créditos de empresas devedoras a veículos dos quais o banco passava a ter unidades de participação.
Na auditoria da Deloitte divulgada esta terça-feira é possível verificar que entre sete fundos de reestruturação de que o Novo Banco é participante, houve quatro especialmente problemáticos, dos quais resultaram as referidas perdas de 178 milhões, contabilizadas entre 2014 e 2018.
As maiores perdas vieram do Fundo Vallis, que foi liquidado em 2018 e que ditou ao Novo Banco perdas de 103,5 milhões de euros. O Novo Banco tinha uma participação de 21,8% no fundo Vallis, resultante dos negócios feitos ainda pelo BES, em 2012, quando o banco investiu naquele veículo com sede no Luxemburgo 122,2 milhões de euros (ou seja, a maior parte do investimento foi dada como perdida em 2018 pelo Novo Banco).
A auditoria da Deloitte debruçou-se ainda sobre dois fundos geridos pela ECS Capital (sociedade liderada por Fernando Esmeraldo e António de Sousa).
No Fundo de Recuperação, criado em 2009, o BES investiu 200 milhões de euros e em 2018, quando tinha uma participação de 27%, o Novo Banco contabilizava perdas (desde 2014) de 27 milhões de euros.
Já no Fundo Recuperação Turismo, igualmente gerido pela ECS, e criado em 2012, o BES investiu 270 milhões de euros, ficando com uma participação de 36,6% neste veículo, que viria a traduzir-se, no período de 2014 a 2018, em perdas de 31,9 milhões de euros para o Novo Banco.
Um quarto veículo analisado pela Deloitte foi o Fundo Aquarius, gerido pela OxyCapital, no qual foi feito um investimento de 159 milhões de euros em julho de 2014, pouco antes da resolução que transformaria o BES em Novo Banco. O Novo Banco ficou com uma participação de 32,9% no Aquarius, que representou entre 2014 e 2018 perdas de 16,1 milhões de euros.
A Deloitte realça que 24 das 26 operações de cedência de ativos para estes fundos foram feitas ainda no tempo do BES (até agosto de 2014).
"Além das exposições incluídas na amostra, em 31 de dezembro de 2018 o Novo Banco detinha títulos de capital de outros 3 fundos de reestruturação (dois imobiliários e um de reestruturação de empresas) com valor de balanço de 597,5 milhões de euros, que não apresentaram perdas acumuladas relevantes até 31 de dezembro de 2018", refere a auditoria.
O documento também identificou vários problemas na opção de empurrar para os fundos uma série de empresas devedoras.
Falta de análise crítica sobre valor das participações nos fundos
"Algumas operações de cedência implicaram a assunção por parte do BES e dos restantes bancos de compromissos adicionais (crédito direto e garantias bancárias) perante as empresas participadas pelos fundos. Para os fundos da amostra, os compromissos adicionais do BES ascenderam a 273,9 milhões de euros. Verificámos que na maioria dos casos o BES não preparou análises ou pareceres de risco sobre as operações de cedência", refere a Deloitte.
A auditora também realça que "não foi obtido o parecer do auditor externo do BES/NB para 23 das 26 operações de cedência efetuadas para os 4 fundos selecionados".
O documento sublinha ainda a "inexistência de evidência de realização de uma análise crítica sobre a valorização dos fundos, não obstante as respetivas contas serem auditadas e os fundos e sociedades gestoras serem supervisionados pela CMVM".
A Deloitte observa também a "inexistência de políticas internas formalmente documentadas referentes a vendas de créditos a fundos de reestruturação e aos respetivos procedimentos subsequentes de monitorização dos fundos", embora reconheça que "em setembro de 2017 o Novo Banco criou uma norma interna para monitorização e acompanhamento de participações financeiras que abrange os investimentos em fundos de reestruturação".