Economia

Negócio com risco para reputação do Novo Banco não foi comunicado ao Fundo de Resolução

Negócio com risco para reputação do Novo Banco não foi comunicado ao Fundo de Resolução
tiago miranda

Contratação de Alantra, onde trabalha ex-diretora do BES, levantou dúvidas reputacionais a departamento de compliance do Novo Banco. Administração decidiu contratar o grupo em Espanha, sem envolvimento de Ana Rita Barosa, mas não contou este pormenor ao Fundo de Resolução

Negócio com risco para reputação do Novo Banco não foi comunicado ao Fundo de Resolução

Diogo Cavaleiro

Jornalista

O Novo Banco alterou um negócio de venda de imóveis para evitar riscos sobre a sua reputação, devido ao potencial envolvimento de uma ex-diretora do Banco Espírito Santo que esteve para ser administradora na sucessão a Ricardo Salgado. Contudo, essa modificação não foi comunicada ao seu acionista, Fundo de Resolução, revela uma notícia do jornal Público. É um “detalhe sem especial relevância”, defende a instituição financeira.

Em 2018, o Novo Banco iniciou a venda de uma carteira de imóveis e, para a sua concretização, teve de contratar assessores financeiros. Um deles foi a sociedade Alantra, de que a principal face da operação em Portugal é Ana Rita Barosa que, além de ex-secretária de Estado do Governo de Pedro Passos Coelho, foi diretora no BES, assessora da administração e até chegou a candidata a administradora em 2014, antes da queda da entidade bancária.

Ora, o departamento de compliance (que assegura a conformidade das práticas do banco com as regras e normas em vigor) pronunciou-se, alertando para o potencial risco reputacional pelo envolvimento de Ana Rita Barosa na operação, como conta o Público na edição desta terça-feira, 8 de setembro, citando a auditoria que foi realizada pela Deloitte aos atos de gestão – o documento ainda não é conhecido na sua versão integral, nem mesmo expurgada de dados confidenciais protegidos pelo dever de sigilo bancário.

O Público diz que se trata de um chumbo, mas, num comunicado enviado logo esta manhã, o banco presidido por António Ramalho diz que não (aliás, ao Expresso, o banco já tinha assegurado que as grandes vendas de ativos nunca mereceram obstáculos de compliance). Houve apenas uma pronúncia sobre o potencial risco reputacional, numa vertente em que a opinião do departamento de compliance não era vinculativa, garante a instituição financeira.

“O conselho de administração executivo do Novo Banco ponderou o parecer do compliance, sobre matéria em que o parecer não é vinculativo, visando exclusivamente potencial risco reputacional [por a CEO da empresa portuguesa ser ex quadro do BES], que o próprio departamento de compliance referiu como tema de decisão ‘estratégica e de gestão’”, assinala o comunicado.

Na altura, explica o banco, houve uma modificação da contratação da Alantra para a assessoria do negócio de venda de imóveis no valor de 645 milhões de euros: “O conselho de administração executivo decidiu contratar a Alantra Espanha com expressa proibição de ser envolvida a equipa portuguesa”.

A questão é que, às perguntas que o Fundo de Resolução fez na altura sobre o tema, o Novo Banco nada disse sobre esta alteração nem sobre as dúvidas levantadas pelo departamento de compliance.

“É essa divergência na escolha do assessor que o Novo Banco não referiu ao Fundo de Resolução por considerar um detalhe sem especial relevância e que é reportada na Auditoria Especial”, indica o Novo Banco. O Fundo de Resolução soube agora que teve acesso à auditoria da Deloitte.

O Novo Banco defende-se acrescentando que não há dúvidas sobre a adequação da Alantra para o papel, lembrando que “entre os diversos clientes da Alantra se encontra a Oitante sociedade sobre a tutela do Fundo de Resolução e a Parvalorem sociedade sob a tutela do Estado Português”.

O Fundo de Resolução, que tem precisado de empréstimos estatais para cumprir as responsabilidades perante o Novo Banco (injetou já quase 8 mil milhões de euros) e que tem por isso de olhar para as vendas de ativos tóxicos do banco, não respondeu ao Público sobre este assunto.

Na próxima semana, mais precisamente terça e quarta, António Ramalho e Luís Máximo dos Santos, o vice-governador do Banco de Portugal que preside ao Fundo de Resolução, vão prestar esclarecimentos aos deputados na comissão de Orçamento e Finanças (quando se antecipa a realização de uma comissão de inquérito com o Novo Banco como objeto).

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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