Economia

SMIC: a próxima gigante chinesa em vias de ser banida dos EUA

SMIC: a próxima gigante chinesa em vias de ser banida dos EUA
VCG/Getty Images

Em agosto, a SMIC anunciou estar a trabalhar em arquiteturas de chips de 14 nanómetros. Em setembro, surgiu a primeira notícia que dá conta de que o governo dos EUA está a analisar a interdição da maior produtora de chips e componentes eletrónicos chinesa

Há um ano, quando se falava de SMIC a questão era: será que o codiretor executivo Liang Mong vai conseguir bater o codiretor executivo Zhao Haijun?

Passou um ano e tudo não terá passado de uma disputa pessoal sem significado. Zhao Haijun eventualmente conformou-se com o sucesso de Liang Mong, quando, em agosto, cumpriu as metas ditadas pelo governo de Pequim ao levar a maior produtora de chips e circuitos integrados chinesa a estrear-se nas arquiteturas de 14 nanómetros.

Mesmo com este feito tecnológico, a SMIC manteve-se atrás das poderosas concorrentes TSMC e Samsung que já trabalham com arquiteturas ainda mais minúsculas, que não vão além dos dois nanómetros, mas ao chegar às arquiteturas de 14 nanómetros, a “fundição” chinesa passou a fornecer componentes a marcas tecnológicas como a Qualcomm ou a própria Samsung (que nem sempre consegue produzir em número suficiente os componentes que desenha).

Os louros desta conquista não duraram sequer um mês: do Governo de Washington chega a confirmação de que está em curso um processo de análise que poderá levar à interdição da SMIC nos EUA.

A notícia surgiu na Reuters no final da sexta-feira – mas a pressão bolsista não amainou durante o fim de semana. Resultado: a SMIC, a “fundição” de chips e circuitos integrados eleita pelo governo de Pequim como suporte da estratégia industrial de ataque ao setor tecnológico mundial, desvalorizou 22,9% na bolsa de Hong Kong e 11,3% na bolsa de Shangai. A súbita venda de ações levou a empresa a desvalorizar o equivalente a 5,16 mil milhões de euros num único dia.

Caso venha mesmo a ser interditada pelas autoridades americanas, a SMIC fica impedida tanto de comprar equipamentos com tecnologia ou propriedade intelectual produzida nos EUA, como deverá ficar impedida de exportar produtos para os EUA.

O Financial Times confirmou junto da Casa Branca que o tema está em análise. O que, a avaliar pela similaridade com as interdições aplicadas à Huawei e à TikTok, leva a crer que a SMIC está mesmo em vias de ver as portas do mercado americano a fecharem-se.

No setor, há quem veja neste apontar de baterias à SMIC como uma tentativa de limitar a robustez tecnológica e financeira de um dos fornecedores da Huawei, mas as notícias que têm surgido nos meios de comunicação americanos garantem que o processo que pode levar ao bloqueio comercial da SMIC teve origem no Pentágono, sede do Ministério da Defesa dos EUA.

Segundo um relatório produzido por uma outra empresa do setor da defesa (depreende-se que será uma empresa americana), a SMIC tem cooperado com o exército chinês em diferentes projetos. E é esse relatório que terá levado a uma tomada de posição do Pentágono.

Vários investigadores do complexo industrial da defesa e do Exército de Libertação do Povo (da China) usam processos (tecnológicos) e chips da SMIC para levarem a cabo as suas investigações, indiciando que estas investigações foram feitas à medida dos requisitos de produção da SMIC, tornando possível que eles produzam os seus chips noutras “fundições””, refere o relatório que está em análise no Pentágono, citado pelo Financial Times.

O relatório sobre a SMIC dá como exemplo dos projetos desenvolvidos pela SMIC componentes eletrónicos capazes resistir a radiação eletromagnética similar à que é emitida por explosões nucleares.

A reação da SMIC ao processo de interdição em curso também não destoa da linha das posições tomadas por outras empresas chinesas nas mesmas circunstâncias. Além de classificar como “fake news” os relatórios que dão conta da participação em projetos militares chineses, a “fundição” chinesa diz-se disposta a colaborar com o governo dos EUA.

A SMIC está disposta a dialogar com sinceridade e transparência com as agências do governo americano, na esperança de solucionar potenciais desentendimentos”, referiu a fabricante de componentes eletrónicos no tomada de posição oficial.

Será que chega para evitar uma interdição nos EUA?

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