Economia

Nova reviravolta: Cofina lança OPA sobre 100% da dona da TVI

Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Paulo Fernandes, presidente-executivo da Cofina
Clara Azevedo

Casamento entre Cofina e Media Capital afinal pode não ter acabado. Há uma nova oferta em cima da mesa, mas a um preço mais baixo

Nova reviravolta: Cofina lança OPA sobre 100% da dona da TVI

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Há uma nova reviravolta na vida do Correio da Manhã e da TVI. Depois da operação falhada no início deste ano, a Cofina vai lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre 100% da Media Capital, segundo anunciado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Há um outro senão: Mário Ferreira pode ser obrigado a lançar, também ele, uma oferta sobre a Media Capital.

Na operação anunciada esta quarta-feira, 12 de agosto, a Cofina propõe-se a pagar 41,5 cêntimos por cada ação da Media Capital. Um investimento que poderá chegar aos 35 milhões de euros. No entanto, a negociação de ações da Media Capital em bolsa é muito reduzida, pelo que é expectável que a CMVM venha a decidir que seja um auditor independente a determinar o preço da OPA.

A oferta da empresa comandada por Paulo Fernandes é dividida em duas parcelas: uma diz respeito a 5,3% do capital, que é a participação que não está nas mãos do grupo espanhol Prisa nem de Mário Ferreira; depois, outra estende-se sobre 94,7% do capital, precisamente a da Prisa e a do empresário dono da Douro Azul.

Ora, a Cofina diz que a operação não avança se o auditor independente vier a determinar que o preço a pagar pelas ações na posse da Prisa e de Mário Ferreira é superior aos 41,5 cêntimos propostos. Além disso, também é condição desta oferta que não haja quaisquer alterações no ativo da empresa, nomeadamente na TVI, na Plural Portugal, na Plural Espanha, e na Media Capital Rádios.

Seja como for, a oferta só é eficaz se a Cofina conseguir mais de 51% da Media Capital. O mesmo é dizer que a operação, cumpridas todas as condições, está nas mãos da Prisa.

Mário Ferreira arrisca ter de lançar OPA

Esta oferta é lançada e é certo que Mário Ferreira pode ter de lançar uma outra OPA sobre o capital da Media Capital. Isto porque o acordo parassocial que foi assinado entre o empresário e a Prisa, que estabelece formas de relacionamento entre os dois acionistas, está a ser analisado pela CMVM para verificar se há aqui algum controlo conjunto.

Havendo, o dono da Douro Azul pode ter de lançar, sozinho ou com a Prisa, uma OPA sobre os restantes acionistas.

No caso de existir uma OPA concorrente, a Cofina pode deixar cair a sua oferta.

Como tudo começou

No final de 2019, a Cofina ia comprar a Media Capital em duas fases. Primeiro, através de um acordo com a Prisa, para adquirir os 95% de capital que tinha na dona da TVI e da produtora Plural, que iria custar 130 milhões de euros, mais a assunção de dívida de 85 milhões; e, depois, por via de uma OPA, para ficar com os restantes 5%, dispersos por outros acionistas, num encargo de 10 milhões de euros.

Para financiar a compra de 95% da Media Capital, a proprietária do Correio da Manhã propôs-se a realizar um aumento de capital, para captar 85 milhões de euros junto de atuais e novos acionistas (um deles era Mário Ferreira, que iria investir até 15 milhões). Só que, quase no fecho da operação, Paulo Fernandes, presidente da Cofina, decidiu anular o aumento de capital. O cancelamento ocorreu quando faltavam apenas 3 milhões de euros para o objetivo. Seja como for, sem aumento de capital, não houve compra de 95% da Media Capital ao grupo espanhol Prisa.

A Prisa não gostou e o caso gerou um diferendo com a empresa portuguesa, ainda por resolver. Não só por conta da caução de 10 milhões, que os espanhóis consideram que lhe pertencem, como também por conta de uma indemnização que acreditam que lhes é devida.

A OPA que ficou por fazer

Só que, além desta compra falhada de 95%, havia a tal OPA anunciada sobre 5% do capital. A Cofina quis desistir dessa operação, avançando com o facto de não se ter realizado o aumento de capital que iria permitir a compra dos restantes 95% da Media Capital. Além disso, justificava que a pandemia de covid-19 tinha alterado as circunstâncias do momento do lançamento da operação.

Na sua decisão preliminar sobre este pedido, a CMVM tinha já dito que não via razões para que a Cofina não tivesse mesmo de lançar aquela oferta sobre 5% do capital. Primeiro, porque “a conduta da Cofina contribuiu decisivamente para a não colocação de um número residual de ações no âmbito do referido aumento de capital”; depois, porque não via qualquer ligação entre as circunstâncias e o negócio falhado.

Mudança de estratégia da Cofina

Em resposta à CMVM, a Cofina entretanto decidiu que não iria deixar cair a OPA sobre 5%. Afinal, iria modificar a oferta, alargando o universo de possível aquisição, como o Eco noticiou. Confirma-se. E é a partir daqui que agora é lançada a oferta sobre todo o capital.

A proposta da empresa que é dona do Correio da Manhã, CMTV, Record, Jornal de Negócios e Sábado fundamenta que, com esta alteração da OPA, consegue “(i) atender ao princípio do aproveitamento dos negócios jurídicos; (ii) favorecer uma solução de mercado; (iii) reequilibrar os termos da oferta e reintroduzir a equidade subjacente ao momento do anúncio preliminar original; e (iv) salvaguardar os interesses dignos de tutela na oferta”.

A argumentação convenceu a autoridade liderada por Gabriela Figueiredo Dias. A administração da CMVM aceitou esta quarta-feira o pedido de modificação da oferta pública geral de ações de ações.

Neste momento, a Media Capital é detida pela Prisa, em cerca de 64%, por Mário Ferreira, em 30%, sendo que há ainda uma parcela em torno de 5% que está nas mãos de outros investidores, com grande relevo para o banco espanhol Abanca.

As mudanças com Mário Ferreira

Mário Ferreira deixou de ser parceiro da Cofina, depois de surpreendido pela desistência da Cofina, e acabou por avançar para a compra de 30% da Media Capital por 10,5 milhões de euros (um desconto relevante face ao valor do negócio da Cofina que estava em curso). Este preço é agora tido em conta na nova contrapartida oferecida na OPA.

Desde a entrada de Mário Ferreira, tem havido mudanças significativas no topo da empresa, com mudança do presidente executivo (saída de Luís Cabral e subida de Manuel Alves Monteiro), de direção-geral (a cargo de Nuno Santos), e com as contratações de Cristina Ferreira (para a área de entretenimento e ficção) e de Anselmo Crespo (para o ramo da informação). A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) está a investigar se houve aqui alguma mudança de controlo da Prisa para Mário Ferreira sem a devida autorização. E a CMVM está a analisar o acordo parassocial assinado entre a Prisa e Mário Ferreira para decidir sobre a imputação dos direitos de voto.

Estas mudanças ocorrem num momento económico sensível, que está a afetar o negócio das empresas de media. No primeiro semestre deste ano, a Cofina apresentou prejuízos (o valor efetivo não foi revelado), por conta do efeito que a pandemia teve nas suas receitas. Já a Media Capital registou prejuízos de 14 milhões.

(Notícia atualizada às 19h55 com mais informações)

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