O sistema CONVEL, uma tecnologia da década de 1980 que permite proteger automaticamente os comboios de eventuais erros dos maquinistas, que começou a ser usada há 27 anos em Portugal, ainda não está instalada em todos os troços de rede, assim como não está concluída em alguns deles a instalação da sinalização eletrónica, explicou em conferência de imprensa o vice-presidente da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes.
Não obstante, segundo o responsável, não é o caso do troço da linha do Norte onde aconteceu o acidente do Alfa Pendular na passada sexta-feira, porque estes sistemas de segurança existem neste rede. O gestor sublinhou, no entanto, que o facto de não existirem estes mecanismos não quer dizer que não exista segurança.
Carlos Fernandes esclareceu que há 1600 quilómetros de rede ferroviária com CONVEL e sinalização eletrónica, mas existem mais 950 quilómetros sem estes dois mecanismos de segurança instalados. Sem CONVEL está parte da linha do Douro, toda a linha do Minho e parte da linha do Oeste, avançou.
Em conferência de imprensa, realizada nas instalações da Infraestruturas de Portugal, em Almada, no distrito de Setúbal, o presidente da empresa, António Laranjeiro, assegurou que foi dado cumprimento a todas as recomendações do relatório do Gabinete do Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) divulgado em 2018. O GPIAAF alertou, naquele relatório, para o risco de os veículos de conservação de catenária (VCC) circularem sem o sistema de controlo automático de velocidade (CONVEL).
Na sequência do relatório de há dois anos consta, também, o compromisso da IP em instalar o CONVEL nos veículos de conservação de catenária. “Estão tomadas todas as recomendações que eram de implementação imediata e em curso aquelas em que, não sendo de implementação imediata, está a decorrer o processo”, disse o presidente da IP.
António Laranjeiro negou que a falta de instalação do CONVEL nos veículos de manutenção de via da IP tenha que ver com questões financeiras, mas sim com a dificuldade na aquisição do sistema de segurança. O problema está, sublinhou depois Carlos Fernandes, relacionado com o facto de a Bombardier, empresa que detém o monopólio deste equipamento de segurança ferroviária já não o fornecer.
O problema, referiu o vice-presidente Carlos Fernandes, está na “situação muitíssimo complexa do ponto de vista técnico” com que a empresa se deparou quando há dois anos começou a contactar as empresas para a aquisição da tecnologia e equipamento necessário.
Foram contactadas várias empresas, mas nenhuma oferecia a solução adequada, o que criou um problema à IP:
O processo acabou por se arrastar até 22 de julho, quando finalmente uma das empresas, a Critical Software, apresentou a sua proposta final, que foi considerada “sólida” e "robusta". Porém até que o mecanismo de segurança seja aplicado serão precisos doze meses, mais o prazo do concurso.
Carlos Fernandes admitiu que com o CONVEL "estamos perante uma tecnologia que está relativamente ultrapassada". E acrescentou: "mas é a que está instalada na rede nacional e com a qual teremos de conviver nos próximos anos".
Para justificar que a falta de instalação do CONVEL não decorreu de limitações financeiras, Carlos Fernandes explicou que, no seguimento das recomendações da GPIAAF, nos orçamentos de 2019 e 2020, foi inscrita uma verba de quatro milhões para esse investimento.
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