O Banco Montepio obteve um prejuízo de 51,3 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano. O valor representa um agravamento significativo face aos 3,6 milhões de euros registados no mesmo período de 2019. A fatura fiscal teve um peso importante para impedir que os prejuízos fossem ainda mais intensos.
Antes do impacto dos impostos e antes de distribuir os resultados de participadas a terceiros, o resultado do banco liderado por Pedro Leitão estava nos 81,2 milhões de euros negativos. Só que os impostos contribuiram para reduzir os prejuízos em 24,9 milhões de euros. Na prática, o banco conseguiu que esta rubrica absorvesse parte das perdas.
Além dos impostos, o Banco Montepio perdeu ainda 1,2 milhões de euros de interesses que não controla (e que têm de ser entregues a quem efetivamente os controla), mas obteve 6,2 milhões de euros de operações que tem à venda (atividades em África, como o Finibanco Angola). Foi assim que o banco chega ao prejuízo de 51,3 milhões de euros semestrais.
Nos primeiros seis meses de 2019, o impacto fiscal tinha sido inverso. O resultado antes de impostos e antes de interesses minoritários havido ficado nos 9,6 milhões positivos. Existiam 10,7 milhões de euros a pagar de impostos, mais 1,2 milhões de euros daqueles interesses a devolver. Recebendo 5,9 milhões de euros das operações à venda, o resultado líquido fixou-se em 3,6 milhões de euros positivos.
No comunicado de apresentação de resultados, divulgado no fim-de-semana, a entidade bancária que pertence ao grupo mutualista diz apenas que os números sobre impostos se prendem com a diferença entre o registo contabilístico e o enquadramento fiscal (com essa diferença, que gera os chamados ativos por impostos diferidos, consegue depois abater impostos a pagar, por exemplo).
Para os prejuízos, e apesar do amortecedor fiscal, contribuíram as imparidades para crédito. Em vez dos 42 milhões de euros do ano passado, o banco colocou 109,4 milhões de euros de lado para perdas em créditos, “como resultado do aumento do risco de crédito determinado pela pandemia covid-19, por um lado, e do reforço dos níveis de imparidade para algumas exposições creditícias que se encontravam em incumprimento, por outro”, explica a instituição. Não são identificadas essas exposições.
No negócio bancário propriamente dito, a margem financeira do Banco Montepio (com uma carteira de crédito bruto de 12,4 mil milhões de euros, o mesmo nível de depósitos) deslizou 4,5% para 115 milhões de euros, penalizando o desempenho do produto bancário (que caiu 7%), enquanto os custos operacionais somaram 2%.
Em termos de capital, o rácio mais exigente sofreu um embate significativo, passando de 13,7%, em junho de 2019, para 11,5%, em junho deste ano. Um trabalho pela frente para Pedro Leitão.
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