Economia

“SNS não pode estar sequestrado pela covid”

Rita Neves moderou uma conversa que contou com Julian Perelman, Carlos Cortes, Ricardo Raminhos e Adalberto Campos Fernandes
Rita Neves moderou uma conversa que contou com Julian Perelman, Carlos Cortes, Ricardo Raminhos e Adalberto Campos Fernandes

Projetos Expresso. Nos últimos meses foram canceladas cerca de um milhão de consultas nos centros de saúde e 900 mil nos hospitais o que, a par do medo generalizado, afastou doentes com outras patologias, que ficaram por tratar. Faltou e falta planeamento para garantir que a assistência médica chega, quer aos doentes da pandemia, quer aos outros. Especialistas convidados pelo Expresso são unânimes nesta conclusão e apelam ao Ministério da Saúde para que lidere o processo de programação da resposta do SNS aos desafios dos próximos meses. Conheça as outras conclusões de mais um debate do ciclo “Parar Para Pensar”, que decorreu esta tarde em direto no Facebook do jornal

Fátima Ferrão

A notícia não é nova mas é preocupante. Desde março, e a cada mês, ficaram por diagnosticar cinco mil casos de doença oncológica devido à suspensão de consultas e de cirurgias na generalidade dos centros de saúde e hospitais. Estes são alguns dos danos colaterais da covid-19 que estão a causar um aumento de morbilidades que não são tratadas porque os doentes ainda têm medo de ir aos hospitais e que, em breve, terão um enorme impacto no SNS e na despesa pública com a saúde. “Os hospitais são seguros”, garante Adalberto Campos Fernandes, professor na Escola Nacional de Saúde Pública e ex-ministro da Saúde. Na sua opinião, esta é uma mensagem que deve ser reforçada para que se evite o agravamento de doenças e o aumento de mortes por causas diversas. “É mais perigoso ficar em casa, aguentando a patologia”, reforça o ex-ministro.

Adalberto Campos Fernandes foi um dos convidados para o debate, integrado no ciclo “Parar Para Pensar”, que hoje colocou em cima da mesa um conjunto de questões relacionadas com a saúde, e sobre as quais é preciso refletir. Rita Neves, jornalista da SIC Notícias, moderou a conversa que contou ainda com Julian Perelman, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Carlos Cortes, presidente da Ordem dos Médicos da Região Centro, e Ricardo Raminhos, administrador executivo na MGEN Portugal.

A resposta do SNS à crise pandémica foi a questão que lançou o debate e que abriu portas à partilha de opiniões sobre como o sistema nacional de saúde deverá ser gerido no pós-covid, como deverá ser financiado, qual o papel dos privados, e quais as melhores soluções e caminhos. Conheça as conclusões.

O 'milagre português'

  • A opinião de que a resposta do SNS à primeira fase da pandemia foi positiva foi transversal a todos os participantes. As expectativas eram baixas e foram superadas, mas “é preciso continuar a investir e a reforçar o SNS”, diz Adalberto Campos Fernandes. Carlos Cortes espera que “não se percam os ensinamentos desta crise para não repetir o erro cometido na altura da Gripe A”.
  • A autonomia dos hospitais foi reforçada em tempo de pandemia, sendo uma das respostas positivas destacadas por Julian Perelman. “Ganharam uma autonomia em 15 dias que não tinha sido possível desenvolver em 10 anos”. Adalberto Campos Fernandes reforça que espera que esta autonomia fique e que seja consolidada: “O SNS não pode estar sequestrado pela covid”.
  • A colaboração entre centros de saúde e hospitais foi “notável e muito forte”, destaca Julian Perelman. O ex-ministro da saúde, “não se justifica a paragem de consultas e cirurgias em zonas com pouco impacto do vírus. “Impõe-se a preparação e organização de unidades não covid para garantir o tratamento de outras patologias”.

O que podemos aprender e melhorar

  • Julian Perelman reforça a necessidade de uma melhor gestão e planeamento para o tratamento das doenças não covid. “Faltou um melhor trabalho em rede”, aponta. Também ao nível dos sistemas de informação, o professor acredita que há muito por fazer para que a informação flua.
  • Para a partilha de informações, Adalberto Campos Fernandes recomenda o envolvimento de câmaras municipais e de todas as entidades envolvidas para passar uma mensagem de calma que, acredita, não está a ser eficaz através das conferências da DGS.

O peso das despesas com a saúde no bolso das famílias

  • Ricardo Raminhos alerta para o peso excessivo que a saúde está a ter no bolso dos portugueses. O Estado suporta cerca de dois terços das despesas, mas o restante fica a cargo das famílias e dos seguros de saúde. O responsável da MGEN recorda ainda que Portugal é dos países da Europa onde as famílias têm mais encargos com a saúde (o chamado out-of-the-pocket), o que contribui para o empobrecimento.

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