Os espanhóis do Abanca deixaram cair a compra do banco português EuroBic aos investidores angolanos que o controlam, com destaque para Isabel dos Santos. Não há acordo entre as partes para concretizar esta operação, que pretendia estabilizar a estrutura do banco afetada pelas revelações do Luanda Leaks.
Os últimos dias vinham sendo de negociações entre o Abanca, liderado por Juan Carlos Escotet, e os representantes dos acionistas do EuroBic, mas o impasse – em que um dos pontos era o preço a pagar – tornou-se num obstáculo difícil de transpor. O jornal Eco noticiou o falhanço do negócio, que o Expresso confirmou ser efetivamente o cenário em cima da mesa neste momento.
Em causa está sobretudo o preço, que não mereceu aceitação por parte dos acionistas angolanos. Aliás, já tinha havido indicações por parte de Escotet que a pandemia poderia levar a uma revisão em baixa do preço a pagar pela instituição financeira.
Por enquanto, ainda não há nenhuma informação oficial. O banco sob o comando de Fernando Teixeira dos Santos não quis fazer comentários. Já o banco espanhol adia uma posição para o futuro próximo: “O Abanca está a preparar uma comunicação oficial sobre o ponto de situação do negócio que será conhecida brevemente”.
O galego Abanca, cujo presidente tem também presença na banca venezuelana, está já em Portugal há anos, tendo crescido depois de comprar a rede de particulares do Deutsche Bank. Em Espanha, expandiu-se no ano passado com a aquisição da filial da Caixa Geral de Depósitos. Nos últimos dias, foi também noticiado que o Abanca estaria a olhar para a compra da operação do Novo Banco em Espanha.
Impasse em banco sem gestão
Foi no início do ano que o Abanca passou a negociar em exclusivo a compra do EuroBic (nome comercial do BIC). Foi uma decorrência do Luanda Leaks e a decisão – pressionada pelo Banco de Portugal – de alteração na estrutura de poder do banco onde passaram transferências suspeitas protagonizadas pela Sonangol durante a presidência de Isabel dos Santos, em 2017.
Com esta decisão que deita por terra o negócio, a estrutura acionista do banco continua a ser dominada por Isabel dos Santos, com 42,5%, e por Fernando Teles, com 37,5%, estando o restante capital nas mãos de outros parceiros dos empresários. Sem venda, mantêm-se, assim, na estrutura do banco.
Outra questão que se coloca é a da gestão. A eleição da nova administração tinha sido adiada à espera da entrada dos novos acionistas, para que fosse o Abanca a escolher quem queria à frente do EuroBic. Teixeira dos Santos ficou, assim, na liderança do banco enquanto aguardava essa entrada, que já não vai acontecer.
O EuroBic, que comprou o BPN (aliás, um litígio com o Estado português devido a essa operação permitiu fechar 2019 com um lucro recorde), está sob o olhar do Banco de Portugal, que abriu processos de averiguações ao que se passou na instituição financeira ao nível de prevenção do branqueamento de capitais.
(notícia atualizada com mais informações às 17.50)
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