Economia

Tavares Moreira: um percurso entre a banca e a política

Ex-governador do Banco de Portugal, administrador da CGD e do grupo Crédito Agrícola, Tavares Moreira acumulou no seu percurso na banca a passagem pela politica. Era membro do consultivo do supervisor depois de se ter demitido do angolano BAI em janeiro deste ano. Morreu aos 75 anos, vitima de doença prolongada.

Tavares Moreira: um percurso entre a banca e a política

Isabel Vicente

Jornalista

José Alberto Tavares Moreira fez o seu percurso profissional na banca mas com um pezinho na política. O ex-governador do Banco de Portugal era atualmente apenas membro do conselho consultivo do banco central. Morreu aos 75 anos vtima de doença prolongada.

Foi secretário de Estado do Tesouro por duas vezes e deputado do PSD. Em janeiro deste ano demitiu-se da presidência não executiva do banco angolano BAI Europa por razões que na altura o Expresso apurou terem sido de índole pessoal, apesar de nada ter sido dito oficialmente. Saiu no mês em que foi noticiado que alguns bancos de capitais angolanos, entre eles o BAI Europa, estavam a ser investigados pelo Banco de Portugal.

Anos antes, depois de deixar o Banco de Portugal em 1992, Tavares Moreira foi para a presidência do grupo Crédito Agrícola onde ficou até 2002. Enquanto responsável pelo Central Banco de Investimento (CBI), foi investigado pelo Banco de Portugal e condenado ao pagamento de uma coima de 180 mil euros por gestão danosa e a inibição de exercer cargos na banca durante sete anos. O processo decorreu durante o segundo mandato de Vítor Constâncio como governador do Banco de Portugal entre 2000 e 2010. Depois de sair do grupo Crédito Agrícola, Tavares Moreira foi deputado do PSD e foi nesta altura que a contraordenação do supervisor foi conhecida e a sua defesa delineada.

Recorreu para os tribunais que confirmaram a contraordenação do supervisor, mas de recurso em recurso o caso acabou por prescrever. Em causa estiveram operações relativas a 2000 e 2001 relativas a ocultação de prejuízos e manipulação de contas. Tavares Moreira nunca se conformou com a condenação, e em entrevista ao jornal Público em julho de 2009, já o processo estava prescrito, afirmou ter sido vitima e que o Banco de Portugal não o tratou de "forma decente". Acrescentando nessa altura, na mesma entrevista, admitir que "o Banco de Portugal conduziu este assunto para me colocar numa situação muito difícil, acusando-me com um fundamento mais do que duvidoso, não aceitando nenhuma das explicações e provas que prestei por escrito (coisa que a maioria dos outros arguidos não fez)".

O Banco de Portugal já reagiu à morte do seu ex-governador entre 1986 e 1992. "Neste momento de perda e de consternação, o Governador e os membros do Conselho de Administração do Banco de Portugal endereçam à família do Dr. José Alberto Tavares Moreira o seu mais profundo pesar". Também Marcelo Rebelo de Sousa numa nota do site da Presidência diz que "em todos os cargos que exerceu Tavares Moreira deixou a marca da sua competência e do seu rigor e, bem assim, da sua discreta afabilidade de trato".

Tavares Moreia começou a sua caminhada no já extinto Banco Pinto & Sotto Mayor como técnico, foi administrador da Caixa Geral de Depósitos entre 1979 e 1981, esteve no grupo Crédito Agrícola entre 1992 e 2002, e no angolano BAI Europa entre 2013 e janeiro de 2020. Entre estes períodos de largos anos na banca fez parte de dois governos, com uma passagem pela secretaria de Estado do Tesouro no governo de coligação da AD e como secretário de Estado adjunto de 1985 a 1986, quando Miguel Cadilhe ocupava o cargo de ministro das Finanças, no primeiro executivo liderado por Cavaco Silva.

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