O empresário Mário Ferreira fechou o acordo assinado a 24 de abril com a Prisa para comprar 30,22% da Media Capital, proprietária da TVI, TVI24, Rádio Comercial e a produtora Plural. As negociações entre Mário Ferreira e o grupo espanhol Prisa tinham um prazo de exclusividade até esta sexta-feira, 15 de maio. Por estes 30,22% o dono da empresa turística Douro Azul vai desembolsar 10,5 milhões de euros.
O valor agora acordado entre Mário Ferreira e a Prisa aponta para uma avaliação da Media Capital de 130 milhões de euros, consideravelmente inferior à avaliação feita na tentativa de compra feita pela Cofina. O acordo da Cofina com a Prisa para a compra da Media Capital, entretanto abortado, apontava para um valor inicial de 255 milhões de euros para a totalidade da empresa, entretanto revisto em baixa para 205 milhões de euros, o que incluía a dívida de 80 milhões de euros da Media Capital. Os 130 milhões de euros têm como referência o final do terceiro trimestre, ou seja, 30 de março.
Ainda assim a Prisa refere, em comunicado, que este "valor da empresa (enterprise value)" está acima "das últimas estimativas feitas pelos analistas de mercado, que já incorporam considerações sobre o potencial impacto da covid-19" nos meios de comunicação social. O grupo espanhol assume também que esta transação implica perdas de cerca de 29 milhões de euros. "A operação insere-se na política de desinvestimento iniciada pela Prisa", acrescenta.
Nesta sua comunicação ao mercado a Prisa informa também que se comprometeu com Mário Ferreira a procurar "de forma coordenada novos potenciais investidores que possam facilitar o desinvestimento adicional da Prisa na Media Capital". Foram acordadas "determinadas condições" que serão comunicadas à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários ainda esta quinta-feira.
A Prisa já tinha referido, no comunicado de 24 de abril em que confirmava as negociações, que Mário Ferreira estará representado na administração da Media Capital, mantendo-se como acionista único de controlo, sem qualquer acordo parassocial. E elogiou o empresário referindo que o seu compromisso para com Portugal e o facto de estar disponível para ajudar na gestão da Media Capital com a sua “experiência financeira”. Destacava ainda a sua trajetória como “investidor responsável e orientado para o crescimento” assim como a sua capacidade de assegurar financiamento adicional à Media Capital. Elogios que manteve agora neste comunicado.
Reestruturar dívida é prioridade
A reestruturação da dívida da Media Capital está no topo das prioridades de Mário Ferreira. Mas o empresário também terá uma voz ativa na definição da nova estratégia do grupo de media, missão em que tem o apoio da consultora Boston Consulting.
"A linha editorial, no essencial, será para manter", garantiu numa conversa que teve com o Expresso, assumindo que o objetivo para a sua posição "é o que está definido no acordo: 30%". "Neste momento, tudo isso está muito claro", garante antes de sublinhar que à partida já duplica a posição de 15% que teria no âmbito da parceria com a Cofina. "Acabei por fazer um negócio muito melhor", acrescenta.
Mário Ferreira já tinha estado envolvido na tentativa de compra da Media Capital pela Cofina, proprietária da CMTV, Correio da Manhã, Jornal de Negócios e Record. Se o negócio tivesse ido para a frente o empresário teria ficado com cerca de 15% da Cofina, a quem se juntou para viabilizar a compra da Media Capital. Mário Ferreira não escondeu a desilusão pelo fim abrupto do negócio de compra da Media Capital pela Cofina, tendo-se mostrado surpreendido. “Fui apanhado de surpresa. Foi uma decisão tomada pelo engenheiro Paulo Fernandes [presidente da Cofina e um dos seus maiores acionistas] e os acionistas da Cofina… não fui consultado”, disse ao Expresso a 11 de março, dia em que se soube que o acordo entre a Prisa e a TVI tinha abortado.
A Cofina justificou o fim do negócio com a “inesperada e muito significativa degradação da situação financeira e perspetivas da Media Capital, especialmente agravadas pelo presente contexto de emergência causado pela pandemia covid-19”, assim como com o “comportamento da Prisa, que incorreu em violações contratuais graves e, por último, manifestou expressamente a intenção de não cumprir o contrato, o que afetou irremediavelmente a relação de confiança entre as partes”.
Mais conhecido como presidente executivo da Douro Azul, líder de cruzeiros fluviais em Portugal, faz esta operação, através da holding pessoal Pluris Investments, que detém com a mulher. Aliás, a quem estranha o salto para o mundo dos media, onde já detém uma participação de 8,6% no jornal digital Eco, Mário Ferreira faz questão de dizer que a Douro Azul é uma das mais pequenas empresas num universo de negócios que abarca mais de 40 empresas e marcas em diversos países, ligadas a sectores como tecnologia de Drones, ensino pré escolar, comunicação, aviação privada, Imobiliária, seguros, energias renováveis, produtos farmacêuticos, e turismo, onde está na hotelaria e nos cruzeiros de Rio e de Mar, mas também nos helicópteros, na agência espacial Caminho das Estrelas, dedicada ao turismo espacial, na Mystic Tua com comboios históricos, e ainda no World of Discoveries – Museu Interativo e Parque Temático, dedicado aos Descobrimentos Portugueses. É também proprietário do maior espólio privado de fotografias antigas, www.espoliofotograficoportugues.pt, antiga casa Foto Beleza de 1907, reabilitou e vendeu o famoso e histórico Hotel Monumental no Porto, entre outros. Tem, agora, também, 2,5% da Cofina.
Mário Ferreira só olhou para a Media Capital no ano passado, desafiado por Paulo Fernandes, da Cofina, para alinhar na compra de 95% do capital da Media Capital à Prisa. Tinha "a almofada" da venda de 40% da Mystic Invest Holding ao fundo norte-americano Certares por 250 milhões de euros alguns meses antes, estuda o dossier e entusiasma-se pela ideia, certo de que poderá ganhar muito dinheiro. Acredita que "os melhores negócios fazem-se em tempos de crise". Nas contas do grupo viu um EBITDA de 40 milhões nos últimos exercícios (até 2018) e distribuição anual de dividendos de 20 milhões de euros. Também viu problemas de gestão, mas acredita que com o seu know how pode rever essa situação, controlar a dívida, reduzir custos, valorizar os ativos. Além do mais, Belmiro de Azevedo, um dos empresários que mais admira, também esteve na TVI "e até ganhou bom dinheiro lá em pouco tempo, mas já todos parecem ter esquecido isso".