Economia

Resgates. Já há €28 mil milhões de ajudas de Estado para a aviação europeia

Resgates. Já há €28 mil milhões de ajudas de Estado para a aviação europeia
Nuno Botelho

Os Estados europeus estão a garantir a sobrevivência das companhias. Predominam os empréstimos garantidos

Resgates. Já há €28 mil milhões de ajudas de Estado para a aviação europeia

Anabela Campos

Jornalista

Outrora senhoras do céu, as companhias aéreas, com a frota no chão, estão de mão estendida para o Estado, o qual irá tornar-se, em alguns casos, agora acionista. Ironia do destino, os Estados foram nas últimas décadas privatizando as companhias de bandeira para neste momento reentrar para as salvar. Praticamente nenhuma das transportadoras aéreas escapa a este destino, nem empresas com um balanço forte como era, antes da pandemia, a alemã Lufthansa.

Com a procura praticamente a zero, e uma retoma que se fará a conta-gotas, o Estado é a única saída. E uma forma de garantir a continuidade e manter os milhares de postos de trabalho. Na Europa os apoios já acordados ou em negociação avançada com a Comissão Europeia ultrapassam os €28 mil milhões (ver quadro ao lado). Nos EUA as maiores companhias aéreas levaram uma injeção de 25 mil milhões de dólares.

Dominam para já os empréstimos garantidos ou com juros mais baixos e as subvenções. A generalidade das companhias terá apoios em matéria fiscal. Em troca terão de cortar rotas, dar poder de decisão aos Estados, cortar dividendos e bónus aos administradores. E tornar-se mais ecológicas. A Air France, por exemplo, terá de cortar rotas domésticas em que o comboio seja uma alternativa em viagens abaixo das 2h30.

“Importante, além de colocar dinheiro nas empresas para compensar perdas de receitas, será perceber como será efetuada a redução de dimensão. É previsível que o transporte aéreo leve tempo a recuperar o nível pré-covid-19, e que os custos aumentem com as novas regras de segurança sanitária. Elementos que devem forçar uma redução de frotas”, sublinha Pedro Pita Barros, professor da Universidade Nova de Lisboa.

Recuperação pode demorar três anos

“Duas décadas volvidas depois da política de one help, last help, e sendo certo que muito é incerto, o apoio financeiro dos Estados ao sector afigura-se incontornável, não só na Europa mas até mesmo nos Estados Unidos”, defende Hugo Espírito Santo, sócio da McKinsey. Que sublinha que na Europa os apoios pretendem dar “maior sustentabilidade, uma maior proteção dos ativos nacionais e uma maior coordenação com os restantes sectores da economia”.

A indústria da aviação enfrenta uma crise sem precedentes. As estimativas da McKinsey apontam para uma queda da procura em 2020 entre 50% a 65% a nível mundial, com uma recuperação a níveis de 2019 que pode demorar até três anos. Há mudanças em curso. “As alterações comportamentais dos passageiros, as implicações de natureza ambiental, o ajuste dos processos operacionais e a pressão incremental nos preços irão ditar uma necessidade de ajustar um sector que, tradicionalmente, tem demonstrado não ser capaz de criar valor de forma estrutural”, alerta o especialista da McKinsey em aviação.

Espírito Santo defende que “em Portugal, o sector será mais afetado do que em outros países, já que tem como base o tráfego de lazer, com forte relevância da placa giratória de Lisboa”. A McKinsey estima que o PIB direto do sector contraia entre 30% a 40%, acima dos 25% a 35% previstos para a Europa. “A aviação tem um papel central nos 70% de turistas internacionais que são a base dos 15% de contributo do turismo para o PIB em Portugal”, avança.

O sucesso dos últimos 20 anos de Portugal nesta matéria assenta, defende Hugo Espírito Santo, na capacidade de os operadores locais explorarem vantagens competitivas únicas (como a rede transatlântica). Mas alerta, o país “mantém desafios estruturais nomeadamente a nível das restrições de capacidade no hub de Lisboa e da necessidade de manter uma estrutura de custos competitiva, além do imperativo de manter crescimento futuro e ganhar escala”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ACampos@expresso.impresa.pt

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