Economia

Bruxelas menos pessimista do que FMI sobre recessão e défice em Portugal

Mário Centeno na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas
Mário Centeno na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas
Reuters

As previsões da Comissão Europeia divulgadas esta quarta-feira apontam para uma quebra de 6,8% do PIB em 2020 e uma recuperação de 5,8% no ano seguinte. O défice deverá subir até 6,5% e a dívida até 131,6% do PIB em 2020. FMI prevê disparos maiores

A economia portuguesa vai registar uma recessão de 6,8% em 2020 e o défice das contas públicas vai disparar para 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, segundo as previsões de primavera da Comissão Europeia divulgadas esta quarta-feira em Bruxelas.

Estas previsões são menos pessimistas do que as do Fundo Monetário Internacional publicadas no World Economic Outlook em abril que apontavam para uma quebra do PIB de 8% e um défice orçamental de 7,1% do PIB.

Seis economias do euro vão quebrar menos em 2020 do que Portugal segundo Bruxelas: Áustria, Eslováquia, Finlândia, Luxemburgo e Malta. O tradicional 'tigre' europeu, a Irlanda, vai ter uma recessão maior, de quase 8%.

“A previsão é mais otimista que a do FMI, mas mais pessimista que a do Banco de Portugal nos cenários publicados no final de março. Estamos no meio”, disse esta quarta-feira Paolo Gentiloni, comissário europeu da Economia, na apresentação das previsões da primavera.

“Quando fechámos as nossas previsões, a 23 de Abril, a curva da pandemia já era mais clara do que quando o FMI fez as suas. Não era positiva, mas era claro na maioria dos países membros que o pico já tinha sido atingido e que a curva estava a mudar, isso permitiu-nos uma previsão diferente”, disse Gentiloni.

Sobre o turismo, um dos setores mais afetados pela pandemia, o comissário europeu confirmou que o tema será um dos abordados na reunião do colégio de comissários da próxima semana. “Temos de trabalhar para ter a certeza que os setor sobrevive ao verão, mesmo sabendo que o fará em condições diferentes do verão passado”, disse. O cenário, no entanto, apresenta-se complexo. “Temos de tentar indicar as linhas mestras e quando possível regras. Temos tipos diferentes de turismo e países, como Portugal e outros, que estão mais expostos ao turismo de estrangeiros. É algo com implicações na aviação, nas fronteiras e muitos temas que a comissão terá de lidar. Decididamente, sim, o turismo tem de sobreviver ao próximo verão e vamos trabalhar para isso”, concluiu Gentilloni.

Consolidação orçamental em 2021 retira Portugal da zona vermelha

O orçamento para 2021 vai ser de consolidação e o esforço vai fazer cair o défice para muito menos da linha vermelha de 3% do PIB. Nas contas de Bruxelas, o défice orçamental português vai descer 4,7 pontos percentuais do PIB no próximo ano, com o rácio a cair para -1,8%, praticamente a mesma previsão que o FMI.

No entanto, este esforço de correção orçamental é ligeiramente inferior ao que o conjunto da zona euro vai fazer, que reduzirá em 5 pontos percentuais aquele rácio, que deverá cair de -8,5% para -3,5% do PIB. Nove países vão ficar em 2021 acima da linha vermelha dos 3% do PIB. O pior será Espanha (que deverá registar um défice de -6,7%).

O desemprego vai subir em Portugal de 6,5% no ano passado para 9,7% este ano, uma décima acima da média da zona euro, mas, apesar de tudo, abaixo dos níveis que vão ser atingidos na Grécia (19,9%), em Espanha (18,9%), em Itália (11,8%) e em França (10,1%). As previsões do FMI e do Banco de Portugal são manifestamente muito mais pessimistas sobre Portugal: o desemprego este ano deverá disparar para 13,9% e 10,1% respetivamente.

Também para a subida da dívida, as previsões do FMI de há um mês são mais gravosas. Bruxelas aponta para uma subida da dívida de 117,7% em 2019 para 131,6% este ano, enquanto o Fundo prevê um disparo para 135% em 2020, um novo recorde histórico.

Em virtude daquele diferença na subida do peso da dívida, Bruxelas aponta para uma descida do rácio de endividamento para 124,4% do PIB no próximo ano, enquanto o Fundo prevê 128,5%. Em qualquer caso, o regresso ao nível atingido em 2019, abaixo de 120%, continuará por concretizar.

Grécia e Itália com maior quebra de preços em 2020 do que Portugal

A economia portuguesa é uma das cinco economias periféricas do euro que, em 2020, vai registar quebra de preços.

A inflação deverá ser negativa, segundo a Comissão Europeia, que aponta para -0,2% em Portugal, a par de Chipre, as duas economias com menor quebra de preços. As restantes que vão registar deflação são Irlanda (-0,3%), Grécia (-0,6%) e Itália (-0,3%). A inflação deverá subir para 1,2% em 2021, acima da média da zona euro.

Bruxelas alerta, no entanto, que poderão registar-se pressões inflacionistas em algumas componentes do consumo, como nos produtos alimentares e de saúde.

Turismo e banca principais riscos

Apesar das medidas já tomadas pelo governo de António Costa, Bruxelas sublinha dois riscos maiores para a economia portuguesa e as contas de Mário Centeno.

Turismo e bancos são os pontos fracos em 2020. A Comissão aponta para a dependência da economia portuguesa do turismo vindo do exterior (as receitas foram de 8,7% do PIB em 2019), pelo que o seu comportamento em 2020 será crítico.

Por outro lado, as contas de Centeno poderão ser afetadas se houver adicionais medidas de apoio aos bancos.

Apesar de uma quebra da economia de quase 7%, ela ficará abaixo da recessão de 7,7% prevista para o conjunto da zona euro.

A recuperação portuguesa em 2021 será, no entanto, inferior à registada para o conjunto da zona euro: 5,8% em Portugal face a 6,3% no espaço da moeda única. Mas, em relação às previsões do FMI, a retoma no próximo ano será mais elevada: 5,8% segundo Bruxelas face a 5% segundo o Fundo.

Paolo Gentiloni
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