Covid-19: BPI põe 32 milhões de lado para perdas nos créditos. Lucros afundam 87%
Pablo Forero e João Pedro Oliveira e Costa
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BPI registou um lucro consolidado de 6,3 milhões de euros nos três primeiros meses de 2020. Banco reconheceu imparidades para crédito, mas também foi penalizado pela volatilidade do mercado devido à covid. De qualquer forma, grupo acredita em lucros este ano
O lucro do BPI afundou 87% nos primeiros três meses do ano. A descida deveu-se, sobretudo, à covid-19. O banco decidiu colocar 32 milhões de euros de lado para perdas nos créditos devido à pandemia, mas o impacto foi ainda mais forte. Este é o primeiro resultado apresentado por um banco português referente ao período entre janeiro e março, já refletindo decisões tomadas com a pandemia disseminada pelo mundo.
“O resultado consolidado é inferior em 87% em relação ao do 1º trimestre de 2019 devido ao impacto de fatores relacionados com a crise da pandemia de covid-19, nomeadamente, queda nos mercados financeiros e reforço de imparidades para fazer face a impactos futuros que, em conjunto, tiveram um impacto negativo de 47 milhões de euros no resultado antes de impostos”, assinala o banco liderado por Pablo Forero em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Especificamente olhando para as imparidades de crédito, tal trata-se de dinheiro que é reconhecido como perdido nos créditos concedidos. O BPI, um dos bancos em Portugal que não tem sofrido com o peso do malparado, até vinha revertendo imparidades constituídas: 43 milhões que tinham dado um contributo positivo para o banco em todo o ano de 2019. Só que, no que já se viveu de 2020, já não é assim.
“Decidimos fazer um reforço de imparidades em 32 milhões de euros neste primeiro trimestre. É por prudência. O nosso rácio de crédito malparado está a cair [o crédito malparado fixou-se nos 3%], mas o que estamos a fazer é a antecipar o que pode acontecer nos próximos trimestres”, declarou Pablo Forero na conferência de imprensa agendada para esta segunda-feira, 4 de maio, o dia em que foi revelado que se vai reformar e que deverá ser substituído pelo administrador João Pedro Oliveira e Costa.
Este reconhecimento de imparidades está relacionado, sobretudo, com a mudança do cenário macroeconómico (mais desemprego e menos crescimento económico), segundo explicou Forero. Ou seja, frisou o CEO, não são imparidades para refletir perdas que estejam a ser sentidas na carteira de crédito.
Este foi o grande impacto da covid-19, mas não foi o único. Os mercados têm estado voláteis e isso pesou também nos números do BPI no primeiro trimestre. Os resultados em operações financeiras deslizaram para 14,4 milhões de euros no primeiro trimestre, face aos 800 mil euros homólogas, devido à volatilidade financeira que se viveu nos mercados.
Esta rubrica entra para o produto bancário, que deslizou 11% para 151,4 milhões de euros. Um comportamento negativo também intensificado por uma decisão de gestão do BPI: a contribuição para o sector bancário foi reconhecida logo neste trimestre, e não dividida ao longo do ano, pesando 15,5 milhões entre janeiro e março, face aos 4 milhões dos primeiros três meses de 2019.
Este comportamento do produto bancário só não foi mais negativo porque houve subida de 2,9% da margem financeira (diferença entre juros cobrados em créditos e juros cobrados em depósitos), bem como um crescimento de 0,9% das comissões líquidas. Aliás, Pablo Forero frisou que o trimestre até foi positivo a nível operacional: "A contratação de novo crédito hipotecário ascendeu a 452 milhões de euros no primeiro trimestre, praticamente duplicando o montante concedido no período homólogo do ano passado (231 milhões de euros)", indica também o comunicado de resultados do BPI.
Os custos do banco, que emprega 4.831 funcionários, avançaram 0,8% para 111,9 milhões de euros. Assim, o rácio que compara os proveitos com os encargos ficou-se nos 60%.
Impacto do trimestre foi em Portugal
As contas do primeiro trimestre foram marcadas, sobretudo, pelo que aconteceu em Portugal. A atividade portuguesa rendeu 4,4 milhões de euros entre janeiro e março, face aos 45,5 milhões de euros alcançados no mesmo período de 2018.
O moçambicano BCI deu 3 milhões de euros (menos do que os 3,9 milhões do trimestre homólogo), enquanto o angolano BFA deu, no trimestre, um contributo negativo de 1,2 milhões.
As contas do BPI integram as do CaixaBank, que não são foram muito diferentes: o grupo espanhol registou um lucro trimestral de 90 milhões de euros, uma quebra homóloga de 83%, resultante de uma imparidade extraordinária de 400 milhões de euros.
Em relação ao futuro, o BPI admite que possa vir a ter de constituir mais imparidades, o que afetará, claro, os resultados líquidos. A dimensão, ainda não se sabe. “Se precisar de mais, faremos mais imparidades”, disse Forero, acrescentando que consegue gerir os resultados a cada trimestre.
Aliás, não se antecipam prejuízos no banco. “É muito improvável que o banco tenha perdas. Não é o cenário central”, continuou.
57 mil moratórias
O BPI, o único banco que não tinha divulgado no Parlamento a quantidade de moratórias concedidas aos particulares, revelou os números este fim-de-semana. O banco recebeu 57,5 mil pedidos de moratórias de créditos, avaliados no valor global de 4,8 mil milhões de euros.
A maior parte diz respeito ao crédito à habitação (24,8 mil pedidos de créditos de 2,11 mil milhões); a crédito pessoal e financiamento automóvel (15,9 mil pedidos de créditos de 249 M.€); e crédito a empresas (16,7 mil pedidos de créditos de 2,41 mil M.€).
(notícia atualizada às 12.40 com mais informações)