Economia

Portugueses já decidiram apertar o cinto

2 maio 2020 9:48

nuno botelho

Consumidores nunca estiveram tão pessimistas quanto a grandes compras e ao futuro do país

2 maio 2020 9:48

Nunca os indicadores de confiança do Instituto Nacional de Estatística tinham colapsado assim de um mês para o outro. De março para abril de 2020, as expectativas dos consumidores e empresários caíram tanto que bastaram menos de 30 dias de confinamento para que vários sectores começassem a bater mínimos históricos dos tempos da troika. É o caso dos comerciantes a grosso e a retalho, que estão hoje mais pessimistas quanto às vendas futuras do que no pico da crise de 2012. É também o caso dos serviços ou da indústria quanto à produção nos próximos meses.

A verdade é que os portugueses já decidiram apertar o cinto enquanto políticos e economistas ainda discutem a necessidade de haver ou não uma nova dose de austeridade. De facto, o inquérito qualitativo de conjuntura aos consumidores e às empresas de abril revela uma queda sem precedentes nas perspetivas dos portugueses quanto aos próximos 12 meses. Os consumidores sentem que não poderão comprar e os vendedores já perceberam que também não conseguirão vender perante um futuro que se afigura tão negro.

De facto, o indicador de confiança dos consumidores registou em abril a maior diminuição da série iniciada em novembro de 1997, atingindo já o valor mínimo desde setembro de 2014. E o próprio INE destaca o “contributo tremendamente negativo” das expectativas relativas à evolução da situação económica do país, da situação financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes.

Em termos simplificados, o valor do indicador de confiança dos consumidores pode variar entre 100 (quando todos estão muito otimistas) e -100 (quando todos estão muito pessimistas). Ora, só no último mês afundou 28 pontos, para -41,6. E faltam apenas 6 pontos para bater o mínimo histórico de outubro de 2012.

Quando questionados sobre as perspetivas que têm para os próximos 12 meses, os portugueses nunca se tinham mostrado tão pessimistas quanto à deterioração da situação económica do país. Sobre a intenção de realizar compras importantes no próximo ano, nunca os inquéritos do INE tinham divulgado um valor tão negativo. Mesmo a compra de automóveis já igualou o mínimo histórico datado de julho de 2011.

Quanto ao aumento do desemprego, é preciso recuar ao início da crise de 2009 para observar igual pessimismo. Quanto ao futuro da situação financeira do seu agregado familiar, o indicador caiu mais de 31 pontos no último mês, aproximando-se abruptamente do mínimo histórico de outubro de 2012.