A Prisa vai mesmo avançar para arbitragem contra a Cofina, tendo já feito chegar o pedido à Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa. O grupo espanhol, que manteve a propriedade da Media Capital depois da desistência da compra por parte da dona do Correio da Manhã, quer a caução de 10 milhões, atualmente à guarda do BPI, mas também avança para a possibilidade de pedir a cobertura por eventuais danos.
“A Cofina informa ter sido notificada, ontem, dia 15 de abril de 2020, de um requerimento de arbitragem apresentado pela Promotora de Informaciones, S.A. (“Prisa”) junto da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa”, indica num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) pela empresa comandada por Paulo Fernandes.
Nesse requerimento, o grupo espanhol reclama o “direito de que lhe seja entregue, pelo escrow agent (Banco BPI, S.A.) o montante de €10.000.000,00 (dez milhões de euros) ali depositado a título de ‘down payment’”.
A Cofina pôs este dinheiro de lado como caução para a compra de 95% da Media Capital, a dona da TVI, à Prisa, num negócio de 123 milhões de euros. Contudo, acabou por desistir da aquisição, porque, em vez dos 85 milhões de euros que iria buscar no aumento de capital para se financiar, só conseguiu que dessem 82 milhões (seria aqui que o empresário Mário Ferreira se iria tornar no segundo maior acionista da empresa, o que não aconteceu com o insucesso da operação). Além disso, fez acusações à empresa espanhola de incumprir as suas obrigações. O que fez a Prisa anunciar com ações contra a Cofina.
Além desta caução, o grupo que publica o El País também reclama “a condenação da Cofina no pagamento dos danos que vier a conseguir demonstrar, em caso de condenação daquela”. Aqui, o montante não está especificado.
A empresa presidida por Paulo Fernandes não concorda e não pensa pagar nada: “A Cofina entende que os pedidos da Prisa carecem de qualquer fundamento e irá apresentar a sua resposta no âmbito do referido processo arbitral, reafirmando os argumentos explicitados no seu comunicado publicado no passado dia 20 de março de 2020”.
No seu relatório e contas, a Cofina dizia que estava ainda a analisar os efeitos desta contenda com a Prisa, mas não havia nenhuma provisão especial para o caso (apenas os 10 milhões já reconhecidos). O grupo que é dono do Correio da Manhã, CMTV, Record e Jornal de Negócios aguarda ainda a posição da CMVM sobre se pode desistir também da oferta pública de aquisição (OPA) que iria lançar para ficar com os restantes 5% da Media Capital que não estão na Prisa.
Novo administrador da TVI parceiro de Mário Ferreira
Sem venda à Prisa, a Media Capital continua a pertencer ao grupo Prisa e tem agora uma nova composição dos órgãos sociais. Um dos novos administradores é Manuel Alves Monteiro, ex-presidente da Euronext, a gestora da Bolsa de Lisboa.
Como notou o Jornal de Negócios, além de presidente da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros, Manuel Alves Monteiro é também vogal da administração da Mystic Invest, uma empresa de que Mário Ferreira é o principal acionista. À publicação, o agora administrador da Media Capital recusou comentar “teorias da conspiração”. O outro administrador que entrou para a dona da TVI é Angel Serrano Martínez-Estéllez.
De saída da Media Capital estão Agnès Noguera Borel e Pilar del Rio Saramago, por renúncia por decisão de ambas.
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