Economia

Covid-19. Banca diz-se sob ataque, recusa que esteja a ganhar com a crise e antecipa prejuízos

Covid-19. Banca diz-se sob ataque, recusa que esteja a ganhar com a crise e antecipa prejuízos
TIAGO PETINGA/LUSA

Rui Rio falou na vergonha de a banca poder vir a ter lucros, Faria de Oliveira responde-lhe com prejuízos. Não refere o líder do PSD como destinatário, mas o líder da APB fala no populismo e em como os ataques ao sector têm "porta-vozes inesperados"

Covid-19. Banca diz-se sob ataque, recusa que esteja a ganhar com a crise e antecipa prejuízos

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A banca portuguesa está sob ataque, recusa que consiga obter margem de lucro com os empréstimos de emergência às empresas nacionais e diz até que vai ter de voltar a carregar no dinheiro que põe de lado para evitar perdas futuras nos créditos concedidos. Assim, os prejuízos vão, provavelmente, voltar. E há “situações complicadas” para evitar. As ideias são de Fernando Faria de Oliveira, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), e foram deixadas em entrevista à Rádio Observador.

Rui Rio, presidente do PSD, falou na semana passada para classificar como “vergonha” a possibilidade de os bancos apresentarem lucros significativos em 2020 e 2021, devido às ajudas que estão a ser por eles operacionalizadas para evitar a falência do tecido empresarial português.

“A probabilidade de os bancos passarem novamente a ter resultados negativos já este ano é grande”, contrapôs o responsável da associação que representa o sector em Portugal. Aliás, pode haver mesmo casos complicados: “Terá de se fazer tudo para evitar situações complicadas, mas vai ser muito difícil nas atuais circunstâncias”.

Segundo Faria de Oliveira, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, os bancos têm pela frente a necessidade de constituir imparidades e provisões, onde irão colocar dinheiro de lado para precaver perdas futuras. Esses indicadores tendem a comer o resultado operacional do banco. “Vamos ter, seguramente, um nível de provisionamento muito superior novamente. Aquilo que se deve admitir é que os bancos necessitam de gerir com muita prudência os seus balanços, mas a probabilidade de apresentarem resultados positivos é relativamente curta”, continuou.

“Ataque” e “populismo”

À Rádio Observador, o líder da APB afirmou que a banca tem sido “objeto de um determinado ataque”, que “tem, até, porta-vozes inesperados”, e que classificou como “populismo”. Não os enunciou e, questionado se falava de Rio, não quis especificar.

Faria de Oliveira recusa a ideia de que os bancos estejam a obter uma margem de lucro com as linhas de crédito às empresas. Defende que o financiamento dos bancos não é todo a -0,75% junto das linhas do Banco Central Europeu, já que, sublinha, a maior fonte de financiamento dos bancos são os depósitos, com taxas ligeiramente acima de 0. Além disso, o líder lembra que os bancos têm de pagar taxas de juro elevadas pelas emissões de dívida que estão obrigados a fazer para evitar situações de insolvência (o chamado MREL), em que os valores podem ir acima dos 5%.

Em suma, diz, a taxa de financiamento média é mais próxima de 1%, e, refere, os spreads bancários das linhas de 3 mil milhões são de entre 1% e 1,5% (a que acrescem uma comissão bancária de 0,5%). “Depois, há, de facto, um peso que é significativo que é o custo da garantia das sociedades de garantia mútua, que pesa sobre o valor que a empresa vai ter de pagar. É o custo do sistema”, declarou, adiantando ainda que não é a banca que é lenta a decidir a aceitação das linhas de crédito. Podem vir aí mudanças na forma de estruturação das linhas de crédito, admitiu.

Regras para moratórias

Fora da entrevista esteve a questão das moratórias de crédito (suspensões de pagamentos de prestações por um período até seis meses devido à pandemia de covid-19), mas o Banco de Portugal adotou esta quarta-feira as orientações vindas da Autoridade Bancária Europeia (EBA), que permitem que os bancos possam participar nas moratórias sem que tal signifique que os clientes aderentes estejam em incumprimento ou em reestruturação. De qualquer forma, há condições a cumprir e os bancos estão obrigados a analisar cada cliente tendo em conta os seus fatores de risco.

Nessas orientações, está descrito que as moratórias – para terem este tratamento – têm de resultar de legislação específica (casos do crédito à habitação e crédito às empresas), mas podem advir também de um entendimento de parte do sector (o que pode estar em cima da mesa no caso dos créditos ao consumo, como noticia o "Jornal de Negócios" esta quarta-feira).

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